Eizabeth II é rainha da Inglaterra e governa um país de regime parlamentarista onde todas as leis e questões importantes são decididas pelo  Parlamento. É um sistema que vigora na terra dos Beatles desde os tempos da Revolução Puritana, quando uma sangrenta guerra civil pôs fim a séculos de autoritarismo de reis que se julgavam escolhidos por Deus para governar um povo que só havia nascido para servi-los. Pinochet foi um general chileno que, aproveitando a escalada de golpes militares que a América Latina andou sofrendo nos anos sessenta e setenta do século passado, destituiu o legítimo governo do Chile, exercido por Salvador Allende, e implantou naquele país um dos mais opressivos e sanguinários regimes que se tem notícia pelos lados do Mercosul.
Jair Bolsonaro, nosso Capitão Presidente está situado no meio desse dilema. De um lado, sua formação militar faz com que a nostalgia dos anos de chumbo o leve a pensar que poderia ser um novo Médici, Geisel ou Figueiredo, generais do regime militar que governaram sem oposição, ou com oposição consentida, e não precisavam pedir licença a ninguém para fazer o que quer que quisessem. Não governavam pelo direito divino, mas pelo direito das armas. Por outro lado, nosso atormentado presidente passou mais de  vinte anos no Congresso como deputado eleito pelo voto popular. Aproveitou-se do sistema democrático para construir uma carreira vitoriosa para si e para o resto da família, mas, ao que parece, nunca foi muito adepto das virtudes do regime. Tanto, que ao se ver tolhido em seus ímpetos autoritários por um Congresso que faz questão de manter suas prerrogativas de legislar, ele se sente uma espécie de rei Charles I, da Inglaterra, que ao tentar submeter o Parlamento inglês à sua vontade  acabou perdendo a própria cabeça. E se queixa de que o Congresso quer transformá-lo em uma “rainha da Inglaterra.”
O Presidente não se deu conta de que o esdrúxulo sistema político implantado pela Constituição de 1988, foi elaborado justamente por políticos que estavam saindo de uma ditadura. Por isso procuraram construir um muro de proteção contra novas investidas autoritárias, venham elas da esquerda ou da direita, pois em qualquer caso, quem perde poder são eles. É claro, em meio a esse muro não deixaram de enxertá-lo com algumas benesses para si mesmos, como foro privilegiado, autonomia orçamentária, gordas verbas de gabinete, previdência privada especial e outras regalias, que fazem do congressista brasileiro um dos mais aquinhoados parlamentares do mundo.
O Presidente nunca questionou os privilégios que tinha enquanto deputado. A propósito, sempre preferiu ficar no baixo clero e se nunca se envolveu em grandes batalhas parlamentares. Assim sendo, pouco aprendeu do regime que agora preside. Senão saberia que para ter poder como chefe do Executivo, tem que dividi-lo com o Legislativo.
Nem Elizabeth II nem Pinochet. Bolsonaro deveria aprender com Sarney, o criador do chamado “Centrão”. E só então ele vai saber como mandar no Brasi
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