OS NÓS DA ESQUERDA
A esquerda acha e trabalha com a ideia de que Bolsonaro é um ser desprezível. Um imbecil, homofóbico, grotesco, radical, fascista, portanto, fácil de manipular e que deve ser derrubado pois representa aquilo que o PT sempre colocou no centro de seus ataques à direita e que alimentou seus discursos e que deu embasamento a sua ideologia que prometia dar ao país, uma pátria socialista e justa há 20 anos atrás.
No entanto, no seu ódio, não percebe que o tosco Bolsonaro lhes roubou algumas bandeiras e por elas foi eleito. A mais cara, certamente é a bandeira da moralidade que alimentou os discursos e a imagem que o PT vendeu para o país nestes anos todos, para chegar ao poder e lá permanecer e que somada a um discurso populista que prometia consertar as desigualdades sociais e dar proteção aos trabalhadores, fez o partido alçar-se no alto da admiração de várias classes sociais, deu-lhe popularidade e ainda o fez tolerado pela classe média, mais afeita a ideias burguesas (ao seu próprio umbigo) e progresso material e portanto, refratária às ideologias de esquerda. Uma parte substancial dela, votou no partido nas primeiras eleições.
São bandeiras emblemáticas e todas elas estão agora nas mãos do ex-capitão e deputado federal que militou no baixo clero e que cultiva algumas ideias bizarras, mas que vende como ninguém, o culto de um resgate dos valores pátrios, como o resgate da moralidade pública, desvirtuada pelo desvario político das últimas administrações e que desaguou na corrupção explosiva e maciça, eclodida em todos os contingentes da administração federal, estadual, nas estatais, no congresso com respingos, até mesmo em elementos do judiciário, bem como na retomada do desenvolvimento para a qual no momento, seu governo, pelo bem e pelo mal, é a única saída.
O PT é contra a reforma previdenciária, mas propõe o que no lugar? A sede por moralização e justiça condena o partido e gerou um asco generalizado da população à toda forma de se fazer política até então, a chamada velha política, condenando políticos e partidos da esquerda ou centro à mesma vala comum, como inimigos do povo e da pátria.
Não acredita? Nomes antes respeitáveis e tradicionais foram arrastados no lodaçal da infâmia, fruto da ressignificação dos valores na política. A lavada eleitoral que sofreram alguns partidos da elite política brasileira, como PSDB, DEM, PP e PT foi avassaladora.
O PT tenta agora comandar a oposição, mas não tem credibilidade para tal. A luta do partido para se reconstruir frente a opinião pública é feita a partir de sua militância e do ataque sistemático às políticas e medidas do governo, qualquer uma. Assim tentam surfar qualquer onda de descontentamento de pessoas impactadas por medidas administrativas do governo, na sua luta pela contenção das despesas, da qual o governo atual não poderá fugir tão cedo, ou ainda por mudanças e intervenções na condução das políticas setoriais que o governo faz para erradicar ou mudar aquilo que consideram, bolsões ideológicos contrários ao país e resilientes a qualquer mudança do status-quo dos anos anteriores.
O choque será inevitável e nisso o PT se baseia para açodar os descontentes e voltar às ruas com suas velhas bandeiras misturadas ao pleito legítimo dos insatisfeitos ou tudo misturado.
Porém, acredito que isto dificilmente se tornará uma bola de neve capaz de assustar ou ainda de legitimar a ingovernabilidade para que o caos permaneça e joguem por terra, as premissas do governo de recuperar a economia e equilíbrio das contas públicas que é a mola propulsora, da consolidação do governo Bolsonaro.
A meu ver, não terá êxito essa estratégia belicosa, se não resgatarem as bandeiras perdidas ou criarem outras, que não seja a simples pregação da negatividade. Porque não há ressonância na maior parte da sociedade como um todo, como no passado, porque o povo, quer sair dessa discussão e tratar de recompor suas vidas abaladas pela crise econômica.
O problema maior do partido é que seu ideário e ações populares, parece não poder abrir mão, ou prescindir de heróis. Todo o ritual e luta política do partido baseia-se neles.
O problema é que os heróis que o partido ungiu no passado, estão todos condenados na justiça e suas imagens públicas, foram defenestradas e continuam sendo com o desejo de moralização reinante e de maneira profunda e irreversível. O lema Lula-livre perde peso e está ficando caricato.
O grande erro estratégico do PT, neste momento é tentar rebocar seus heróis, no meio do tsunami e levá-los a um lugar seguro para que possam ganhar popularidade e alguma credibilidade, quando nem de volta a rua consegue pô-los!
A luta é inglória, porque a situação legal do Lula, por exemplo ou do José Dirceu é de metástase jurídica. Não só as condenações atuais estão difíceis de serem revertidas ou atenuadas, como existem outras se formando e a caminho de se somarem às atuais.
Cedo ou tarde, o partido, terá que tomar decisões dificílimas de se desligar do passado e ungir novos deuses em um quadro político diluído e difuso. Portanto, confiar na degeneração do quadro institucional atual, para auferir vantagens políticas é uma aposta perigosa. Há uma sedimentação da responsabilidade do partido nos males da economia que seus adversários não deixarão o povo esquecer.
Vê-se o partido diante da lei de talião. Olho por olho, dente por dente. Quem fez tem de pagar com a mesma moeda. Famílias destroçadas economicamente, desempregados, sempre lembrarão do partido, quando as dificuldades aumentarem.
Isso sem mencionar que há ainda facções da esquerda tentando pegar o espólio petista (Ciro) para retomarem o poder o que dificultará alianças contra o governo no plano político,