O EVANGELHO DA PODRIDÃO
Furar a fila de espera para exames, consultas e cirurgias nos hospitais públicos não é privilégio dos evangélicos do Rio de Janeiro. Acontece no Brasil todo. Por aqui também. Como provedor da Santa Casa briguei com alguns políticos, que antes eram amigos meus, porque eles queriam manter assessores nos corredores do hospital, trabalhando para passar na frente dos outros pacientes os eleitores dele. Ameacei botar alguns desses assessores na cadeia e ganhei vários inimigos por isso. Essa prática é comum no país inteiro, razão pela qual, não só as mazelas do Sistema SUS, que são muitas, fazem o povo brasileiro sofrer nas filas dos hospitais e muitas pessoas morrerem antes de conseguir tratamento digno. No Rio o buraco é ainda mais embaixo. Lembra um poema de Augusto dos Anjos, onde ele diz que a podridão é o evangelho do homem. De fato, a podridão, no Rio não só virou evangelho, como também o revólver se tornou Bíblia. Vi isso com meus próprios olhos. Tempos atrás fui fazer uma palestra em Itaguaí, na Baixada Fluminense, famosa pelas mazelas feitas no seu porto pelo notório Ike Batista. A pessoa que me convidara para essa palestra era uma promotora de eventos. Antes da palestra me levou para conhecer um pouco da cidade. Notei que ela levava uma Bíblia em frente do pára-brisa do carro, bem exposta, para que fosse vista pelo lado de fora. Nas ruas da cidade vi também que em cada esquina havia um templo evangélico, a maioria da chamada Igreja Universal, mas muitos outros também, com estranhas denominações. Não fosse o medo de exagerar diria que dava para contar mais “templos” evangélicos do que estabelecimentos comerciais na cidade. Perguntei à minha cicerone se ela era evangélica. Ela respondeu que não, mas que a Bíblia era seu passaporte para andar com alguma segurança pela cidade e principalmente, para entrar em certos bairros dominados pelo tráfico. Disse-me também que a associação entre o tráfico e os “líderes evangélicos” era coisa visível e conhecida por todo mundo ali. E que todos sabiam que uma boa parte dos tais “templos” nada mais eram do que “pontos” de distribuição de drogas e lavagem de dinheiro. Essa era a Santíssima Trindade que comandava a política carioca. Traficantes, falsos evangélicos e políticos corruptos. Não admira que o Rio tivesse chegado onde chegou. Nem o Sérgio Leone, famoso cineasta italiano que explorou o tema, jamais imaginaria que um dia o revólver e a Bíblia se tornariam as ferramentas mais eficientes que alguém poderia usar para governar uma cidade. Temos aí Crivela, Sérgio Cabral, Picciani, o casal Garotinho e agora o Bolsonaro, reivindicando uma vaga para um magistrado evangélico no Supremo. Tudo tem a ver. Para quem já tem Damares Alves e Abraham Weintraub em dois importantes ministérios, só faltava mais essa do Capitão. Transformar a tribuna do Supremo em púlpito desses novos fariseus.
Furar a fila de espera para exames, consultas e cirurgias nos hospitais públicos não é privilégio dos evangélicos do Rio de Janeiro. Acontece no Brasil todo. Por aqui também. Como provedor da Santa Casa briguei com alguns políticos, que antes eram amigos meus, porque eles queriam manter assessores nos corredores do hospital, trabalhando para passar na frente dos outros pacientes os eleitores dele. Ameacei botar alguns desses assessores na cadeia e ganhei vários inimigos por isso. Essa prática é comum no país inteiro, razão pela qual, não só as mazelas do Sistema SUS, que são muitas, fazem o povo brasileiro sofrer nas filas dos hospitais e muitas pessoas morrerem antes de conseguir tratamento digno. No Rio o buraco é ainda mais embaixo. Lembra um poema de Augusto dos Anjos, onde ele diz que a podridão é o evangelho do homem. De fato, a podridão, no Rio não só virou evangelho, como também o revólver se tornou Bíblia. Vi isso com meus próprios olhos. Tempos atrás fui fazer uma palestra em Itaguaí, na Baixada Fluminense, famosa pelas mazelas feitas no seu porto pelo notório Ike Batista. A pessoa que me convidara para essa palestra era uma promotora de eventos. Antes da palestra me levou para conhecer um pouco da cidade. Notei que ela levava uma Bíblia em frente do pára-brisa do carro, bem exposta, para que fosse vista pelo lado de fora. Nas ruas da cidade vi também que em cada esquina havia um templo evangélico, a maioria da chamada Igreja Universal, mas muitos outros também, com estranhas denominações. Não fosse o medo de exagerar diria que dava para contar mais “templos” evangélicos do que estabelecimentos comerciais na cidade. Perguntei à minha cicerone se ela era evangélica. Ela respondeu que não, mas que a Bíblia era seu passaporte para andar com alguma segurança pela cidade e principalmente, para entrar em certos bairros dominados pelo tráfico. Disse-me também que a associação entre o tráfico e os “líderes evangélicos” era coisa visível e conhecida por todo mundo ali. E que todos sabiam que uma boa parte dos tais “templos” nada mais eram do que “pontos” de distribuição de drogas e lavagem de dinheiro. Essa era a Santíssima Trindade que comandava a política carioca. Traficantes, falsos evangélicos e políticos corruptos. Não admira que o Rio tivesse chegado onde chegou. Nem o Sérgio Leone, famoso cineasta italiano que explorou o tema, jamais imaginaria que um dia o revólver e a Bíblia se tornariam as ferramentas mais eficientes que alguém poderia usar para governar uma cidade. Temos aí Crivela, Sérgio Cabral, Picciani, o casal Garotinho e agora o Bolsonaro, reivindicando uma vaga para um magistrado evangélico no Supremo. Tudo tem a ver. Para quem já tem Damares Alves e Abraham Weintraub em dois importantes ministérios, só faltava mais essa do Capitão. Transformar a tribuna do Supremo em púlpito desses novos fariseus.