Questão Moral
Há uma questão moral, raras vezes discutida, no comportamento que parcela da imprensa mantém em relação aos condenados pela Lava Jato, especialmente Lula: tratam-no como se fosse um artista de Hollywood ou algum “enfant terrible” frequentador das melhores rodinhas — e jamais, jamais como um criminoso condenado.
Essa grave distorção é obscurecida por uma linguagem leviana, típica das colunas de fofocas, que cria, na mente do leitor ou do ouvinte, a figura de um homem acima do bem e do mal — agora, inclusive, aberto a nova aventura amorosa, montado em seu cavalo branco e, pouco antes do combate, oferecendo uma flor à sua escolhida. As fotos também contribuem para diluir a verdade: Lula está sempre sorrindo, quase diáfano, intocado pelo peso da justiça.
Um comportamento, contudo, amplia tal obscenidade: o silêncio dos outros jornalistas — com algumas honrosas exceções —, referendados pela vista grossa de editores e pela conivência dos donos de empresas de comunicação.
Nada de novo num país sempre pronto a glamorizar traficantes, dirão alguns. Sim, é certo. O que não diminui a gravidade do comportamento imoral desses cegos que, enxergando, fingem não ver — e, pior, trabalham para que todos vejam do mesmo modo: sem jamais enxergar. (RG)