EM DEFESA DE MARIA DO ROSÁRIO

     Eu não tenho procuração para defender a deputada federal Maria do Rosário, até porque nossas divergências vêm de anos e só se acentuam com o tempo. Ela defende o Estatuto do Desarmamento, eu sou contra; ela é a favor da Lei Seca, eu sou totalmente contrário à fixação de qualquer norma que estipule crime de mera conduta; ela é contra a redução da maioridade penal, eu sou a favor e já escrevi por quê; ela é a favor do Lula Livre e eu quero que Lula cumpra pena por todos os seus crimes. Enfim, apesar das acusações que virão contra mim, até porque muitos leem o título e não todo o artigo, considero-me insuspeito para me solidarizar com a parlamentar, que conheço desde os tempos em que era do PC do B.
     Defender os direitos humanos não é defender bandido, mas defender que eles também sejam submetidos à aplicação das leis e não mais do que isso. É também defender o policial que se torna um defensor de um sistema que explora outros socialmente fragilizados como ele. É defender que todos tenham direito a uma educação e saúde decentes como forma de mudar sua própria história (alguém já viu uma criança nascer com antecedentes criminais?). É defender que o sistema judiciário seja eficiente e justo, para evitar que inocentes sejam defenestrados, como o caso de um músico chamado Demétrio, injustamente acusado de abuso contra uma criança e currado na prisão, em Porto Alegre, vindo a cometer suicídio. Ou de um preso que ficou cego após 14 anos de injusta detenção numa prisão de Pernambuco. Será que é pedir muito que haja cautela numa acusação? Será que é pedir muito para que haja investimentos no sistema penitenciário para que cerca de 700 mil presos possam responder apenas pelos delitos a eles imputados e não sirvam de descartes invisíveis de uma sociedade doentia e que flerta com um sistema corrupto, enxergando coisas acessórias sem ver as principais?
     Direitos humanos não é defesa de bandido, que precisa ser punido e segregado, mas defesa de quem tem direitos constitucionais, que devem ser respeitados. É chegar a uma repartição pública policial e ter um agente interessado em desvendar o assalto ou o roubo do celular. É chegar a uma creche e ter a garantia da matrícula do filho. É chegar a uma empresa e conseguir uma vaga de trabalho. É chegar a uma gôndola de supermercado e pagar um preço justo pelo produto. É contratar um serviço, como o de telefonia, e ter o poder público fiscalizando e não de conluio com o fornecedor. É ir para as ruas e se manifestar livremente. Tudo isso é direitos humanos. Todo o resto é fabulação de segmentos autoritários e direitistas que revendem clichês para propagar cortinas de fumaça. Maria do Rosário não inventou o abismo, ela apenas está alertando que ele existe e que todos corremos o risco de cair nele.
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 27/05/2019
Reeditado em 28/05/2019
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