MEU CORRUPTO, MINHA VIDA
O Brasil vive hoje uma conjuntura digna do “Samba do Crioulo Doido”, criação memorável do escritor e jornalista Sérgio Porto, sob pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, em 1966, fazendo uma miscelânea bem-humorada de fatos históricos desencontrados e antagônicos entre si. O bom senso é algo evadido do debate entre duas hordas que se digladiam defendendo seus próceres e buscando satanizar o oponente. O embate, que já foi travado entre PT e PSDB em tempos recentes, agora está acirrado entre o PT e os partidários de Jair Bolsonaro. Nunca tantos precisaram de tão pouca ou nenhuma gasolina para viajar no cosmos, lembrando uma canção do compositor gaúcho Nei Lisboa.
Por parte dos petistas, uma negação pueril do conjunto probatório contra Lula nas condenações já existentes (e vêm mais por aí), o crivo de três instâncias apontando os delitos e nenhuma autocrítica em relação às práticas de corrupção em seus governos, malversando verbas, aprisionando estatais e fazendo negociatas com magnatas do setor privado em detrimento do interesse público e do erário. Tudo isso com um discurso populista enquanto reservava para o grande capital o filé mignon da lucratividade dos recursos retirados da sociedade via tributação. E Lula parece ser o maior probo de todos os tempos na cabeça dos lunáticos de plantão.
No tocante aos acólitos de Jair Bolsonaro, nada abala a imagem do capitão. Nem mesmo sua ligação familiar com as milícias, a proposta de uma reforma previdenciária que não mexe uma vírgula na imoral e monstruosa dívida pública — a joia da coroa para os banqueiros nacionais e internacionais —, as velhas práticas de compadrio, como oferecer R$ 40 milhões a cada parlamentar que votar a favor dessa famigerada reforma, o profundo desprezo pela educação e predileção por gente desqualificada. Seus seguidores chegaram a criar uma lista falsa de trabalhos acadêmicos insólitos que teriam sido produzidos na universidade. Se os leitores procurarem pelos nomes dos autores desses projetos mirabolantes nas redes sociais, não vão encontrar. Mas os bolsonaristas acreditam piamente nessas asneiras. Para completar, sua adesão rasa ao pseudopensador Olavo de Carvalho é digna de se fazer rima.
Nestes tempos adversos, o logos dos filósofos gregos parece ter perdido espaço para o caos místico dos povos primitivos, bárbaros modernos que fazem rituais para impor sua vontade insana a outrem. Cada um escolhe seu corrupto de estimação e Sócrates será apedrejado até a morte se ousar usar a maiêutica, o questionamento, com tais segmentos. As redes sociais dão o picadeiro ideal para que eles exerçam até a saciedade o direito de livre ruminação e de escolha dos seus ídolos, que vêm com prazo de validade aumentado pela insipiência moral e reflexiva dos seus seguidores.
O Brasil vive hoje uma conjuntura digna do “Samba do Crioulo Doido”, criação memorável do escritor e jornalista Sérgio Porto, sob pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, em 1966, fazendo uma miscelânea bem-humorada de fatos históricos desencontrados e antagônicos entre si. O bom senso é algo evadido do debate entre duas hordas que se digladiam defendendo seus próceres e buscando satanizar o oponente. O embate, que já foi travado entre PT e PSDB em tempos recentes, agora está acirrado entre o PT e os partidários de Jair Bolsonaro. Nunca tantos precisaram de tão pouca ou nenhuma gasolina para viajar no cosmos, lembrando uma canção do compositor gaúcho Nei Lisboa.
Por parte dos petistas, uma negação pueril do conjunto probatório contra Lula nas condenações já existentes (e vêm mais por aí), o crivo de três instâncias apontando os delitos e nenhuma autocrítica em relação às práticas de corrupção em seus governos, malversando verbas, aprisionando estatais e fazendo negociatas com magnatas do setor privado em detrimento do interesse público e do erário. Tudo isso com um discurso populista enquanto reservava para o grande capital o filé mignon da lucratividade dos recursos retirados da sociedade via tributação. E Lula parece ser o maior probo de todos os tempos na cabeça dos lunáticos de plantão.
No tocante aos acólitos de Jair Bolsonaro, nada abala a imagem do capitão. Nem mesmo sua ligação familiar com as milícias, a proposta de uma reforma previdenciária que não mexe uma vírgula na imoral e monstruosa dívida pública — a joia da coroa para os banqueiros nacionais e internacionais —, as velhas práticas de compadrio, como oferecer R$ 40 milhões a cada parlamentar que votar a favor dessa famigerada reforma, o profundo desprezo pela educação e predileção por gente desqualificada. Seus seguidores chegaram a criar uma lista falsa de trabalhos acadêmicos insólitos que teriam sido produzidos na universidade. Se os leitores procurarem pelos nomes dos autores desses projetos mirabolantes nas redes sociais, não vão encontrar. Mas os bolsonaristas acreditam piamente nessas asneiras. Para completar, sua adesão rasa ao pseudopensador Olavo de Carvalho é digna de se fazer rima.
Nestes tempos adversos, o logos dos filósofos gregos parece ter perdido espaço para o caos místico dos povos primitivos, bárbaros modernos que fazem rituais para impor sua vontade insana a outrem. Cada um escolhe seu corrupto de estimação e Sócrates será apedrejado até a morte se ousar usar a maiêutica, o questionamento, com tais segmentos. As redes sociais dão o picadeiro ideal para que eles exerçam até a saciedade o direito de livre ruminação e de escolha dos seus ídolos, que vêm com prazo de validade aumentado pela insipiência moral e reflexiva dos seus seguidores.