A TRAGÉDIA DO RIO
É da índole humana a vontade do poder. Isso porque, queiramos ou não, apesar de todo o esforço psicológico que fazemos para mitigar o desejo de dominar, não há espírito franciscano que seja capaz de eliminar por completo essa tendência no comportamento humano. Ele decorre do nosso espírito de concorrência, que nos leva a ver, regra geral, nosso próximo como adversário. Nesse sentido, o mandamento cristão que nos concita amar ao próximo se nos afigura como um contra exemplo que só incidentalmente (quando nos interessa, ou surge a necessidade) é aplicado.
O equilibrio social, como asseguram os teóricos do Contrato Social (principalmente Rousseau e Hobbes), é uma estrutura que se fundamenta nesse incidente fundamental. Nós só toleramos um Estado e um governo pela necessidade que temos dele. Sem eles tudo seria um caos, nos quais o próprio limite da individualidade de cada um seria violado diuturnamente. Estranho paradoxo esse, mas é assim mesmo que a coisa funciona: garantimos nossa parcela de liberdade com a renúncia de uma parte dela.
Temos então um conflito entre os direitos do indivíduo e os da sociedade, que por definição, se confundem. É aí que surge o grande nó da questão: se o governo existe para organizar o convívio entre os indivíduos dentro de uma sociedade, o que acontece quando um governo abdica dessa condição e permite que particulares se organizem para assumir funções que a ele cabe?
O Rio de Janeiro está vivendo um desses momentos. Desde a gestão de Leonel Brizola, o governo carioca vem abdicando de suas funções organizacionais, permitindo que grupos particulares, com interesses corporativos, e muitas vezes escusos, ocupem o seu lugar. Desde então, estruturas completamente estranhas à função pública tomaram conta de boa parcela do governo do Rio de Janeiro. Na falta de um governo institucional, milicianos, falsos evangélicos, traficantes e outros grupos organizados ocuparam o vazio deixado pelo poder oficial. E agora eles elegem governadores, bancadas nas Assembleias Legislativas, nas Câmaras Municipais e no Congresso Nacional. É difícil, senão impossível, apontar um único prefeito, ou governador carioca, além da grande maioria dos parlamentares, que não tenha sido eleito com o apoio dessa estrutura paralela de poder que tomou conta do Rio. Nessa conjuntura, ficou extremamente complicado desmanchar essa teia, que tem pontos de urdidura ligando umas às outras de forma bem visível. Quem poderia dizer onde está a fronteira entre o poder do tráfico, da comunidade dos evangélicos de fachada e das milícias, no complicado esquema de poder que hoje domina o Rio? Á vista disso, não é de se estranhar a tempestade de tragédias que tem se abatido sobre o bom povo carioca nos últimos tempos. Na ausência de governo, o desgoverno impera. O resultado é o completo desvario. Depois que o caos toma conta de uma estrutura é difícil botar ordem nela. No caso do Rio, parece que até a natureza está completamente desvairada.
É da índole humana a vontade do poder. Isso porque, queiramos ou não, apesar de todo o esforço psicológico que fazemos para mitigar o desejo de dominar, não há espírito franciscano que seja capaz de eliminar por completo essa tendência no comportamento humano. Ele decorre do nosso espírito de concorrência, que nos leva a ver, regra geral, nosso próximo como adversário. Nesse sentido, o mandamento cristão que nos concita amar ao próximo se nos afigura como um contra exemplo que só incidentalmente (quando nos interessa, ou surge a necessidade) é aplicado.
O equilibrio social, como asseguram os teóricos do Contrato Social (principalmente Rousseau e Hobbes), é uma estrutura que se fundamenta nesse incidente fundamental. Nós só toleramos um Estado e um governo pela necessidade que temos dele. Sem eles tudo seria um caos, nos quais o próprio limite da individualidade de cada um seria violado diuturnamente. Estranho paradoxo esse, mas é assim mesmo que a coisa funciona: garantimos nossa parcela de liberdade com a renúncia de uma parte dela.
Temos então um conflito entre os direitos do indivíduo e os da sociedade, que por definição, se confundem. É aí que surge o grande nó da questão: se o governo existe para organizar o convívio entre os indivíduos dentro de uma sociedade, o que acontece quando um governo abdica dessa condição e permite que particulares se organizem para assumir funções que a ele cabe?
O Rio de Janeiro está vivendo um desses momentos. Desde a gestão de Leonel Brizola, o governo carioca vem abdicando de suas funções organizacionais, permitindo que grupos particulares, com interesses corporativos, e muitas vezes escusos, ocupem o seu lugar. Desde então, estruturas completamente estranhas à função pública tomaram conta de boa parcela do governo do Rio de Janeiro. Na falta de um governo institucional, milicianos, falsos evangélicos, traficantes e outros grupos organizados ocuparam o vazio deixado pelo poder oficial. E agora eles elegem governadores, bancadas nas Assembleias Legislativas, nas Câmaras Municipais e no Congresso Nacional. É difícil, senão impossível, apontar um único prefeito, ou governador carioca, além da grande maioria dos parlamentares, que não tenha sido eleito com o apoio dessa estrutura paralela de poder que tomou conta do Rio. Nessa conjuntura, ficou extremamente complicado desmanchar essa teia, que tem pontos de urdidura ligando umas às outras de forma bem visível. Quem poderia dizer onde está a fronteira entre o poder do tráfico, da comunidade dos evangélicos de fachada e das milícias, no complicado esquema de poder que hoje domina o Rio? Á vista disso, não é de se estranhar a tempestade de tragédias que tem se abatido sobre o bom povo carioca nos últimos tempos. Na ausência de governo, o desgoverno impera. O resultado é o completo desvario. Depois que o caos toma conta de uma estrutura é difícil botar ordem nela. No caso do Rio, parece que até a natureza está completamente desvairada.