A morte do jornalismo brasileiro

Cantanhêde não está nos jornais

Fernanda Salles

“Vélez Rodrigues será demitido”, bradou com orgulho a jornalista Eliane Cantanhêde em pleno horário nobre, na Globo News. A colunista do Estadão chamou sua informação falsa de “informação quentinha”. Logo, o presidente Jair Bolsonaro se manifestou sobre a fake news: “sofro fake news diárias como esse caso da “demissão” do Ministro Vélez. A mídia cria narrativas de que não governo, sou atrapalhado, etc. Você sabe quem quer nos desgastar para se criar uma ação definitiva contra meu mandato no futuro. Nosso compromisso é com você, com o Brasil”, disse o presidente.

No entanto, senti falta do nome de Cantanhêde nas capas dos jornais brasileiros no dia seguinte. A notícia mentirosa da jornalista, que poderia causar instabilidade dentro do governo, não ganhou notoriedade. Os veículos que deram destaque ao vergonhoso acontecimento não fazem parte da “extrema-empresa”, são veículos independentes.

O Estadão, que desesperado me atacou após a reprodução da denúncia de Jawad Rhalib contra Constança Rezende, cria do jornal, se resguardou em um silêncio sepulcral. Ninguém solta a mão de ninguém. Amigos não se acusam, amigo não dedura o outro. Assim age a classe jornalística presente em grandes veículos de comunicação, seguidores robóticos de uma mesma ideologia.

Eliane Cantanhêde divulgou fake news, mas não ouvimos “extra, extra”. O Jornal Nacional, que dedicou enormes seis minutos em horário nobre para me atacar no caso Constança, se calou. Os jornalistas da Globo, Estadão, Jovem Pan e outros, estão empenhados em informar ou em atacar bravamente aqueles que ameaçam o seu monopólio da informação? A doída verdade é que os grandes veículos estão agonizando lentamente diante da revolução do jornalismo brasileiro. Mudamos. Jornalistas que foram preteridos por não aderirem às regras ideológicas dos jornais tradicionais estão ganhando o reconhecimento do público. Com a explosão das redes sociais, tiramos o controle da informação das mãos de Bonner’s, Cantanhêdes, Leilanes. Se outrora o filtro midiático decidia o que a população poderia saber e como deveria saber, hoje temos informação em tempo real que chega dos quatro cantos do planeta.

Cantanhêde não virou notícia nos programas matinais da Jovem Pan. Não deve ter recebido dezenas de ligações de sites petistas. Companheiros da jornalista afirmaram que a pobre colunista do Estadão estava sofrendo “linchamento virtual”. Solidariedade com a qual os jornalistas independentes nunca puderam contar.

Cantanhêde não virou pauta dos jornais, não vai virar, mas a Globo sabe que está afundando, dando os últimos suspiros no mar da credibilidade.

TERÇA LIVRE.

Gary Burton
Enviado por Gary Burton em 29/03/2019
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