A FARDA, A TOGA E O TERNO.
 
Dizem os analistas das reformas prometidas na Previdência que, no caso dos militares, a  proposta que mostrava uma montanha gestando um elefante, acabou parindo um camundongo. Dos mais de cem bilhões de reais que a tal reforma prometia economizar, ela pouco passará dos dez.
Dizem também que seu verdadeiro objetivo é reajustar os soldos dos oficiais de maior patente, que diga-se a bem da verdade, estão muito defasados, em comparação com os vencimentos dos funcionários civis. Não se compreende que um promotor, um auditor fiscal, um magistrado ganhem, em alguns casos, o dobro de um oficial da maior patente em nossas Forças Armadas, dada a responsabilidade que eles têm e as condições de trabalho que lhes são impostas pela especificidade das suas carreiras. Isso sem falar dos profissionais que servem nas forças policiais, que por força de uma legislação ainda dos tempos da ditadura, são equiparados a militares. Estes, que tempos atrás tinham uma carreira atraente e até disputada pela juventude que chegava ao mercado de trabalho, hoje se situam entre os mais baixos extratos sociais, e em muitos casos, precisam até esconder a farda quando não estão em serviço para não serem visados pelos marginais e até hostilizados pela população.
É muito bem vinda uma reforma que dê a essa classe tão importante para a estrutura do Estado uma situação financeira condizente com o seu papel nessa estrutura. Receber salários ou soldos compatíveis com o serviço prestado não pode ser considerado privilégio nem favorecimento. É o restabelecimento de uma justiça que foi escamoteada com a volta dos civis ao poder. Os militares ficaram com a culpa pelos anos de ditadura e estão pagando por isso até hoje.
Com respeito a privilégios, pergunta-se qual a contribuição que os membros do Judiciário e do Legislativo vão dar para que a situação atuarial da Previdência deixe de ser a grande vilã da bancarrota nacional. Como se sabe, os maiores privilegiados do serviço público, no Brasil, estão entre os membros desses dois poderes.
Levantamento realizado pela revista Época mostra que a média de rendimentos de juízes e desembargadores nos estados é de R$ 41.802 mensais; a de promotores e procuradores de justiça, R$ 40.853. Os procuradores-gerais de justiça, chefes dos MPs, recebem, em média, R$ 53.970,00. Ou seja, muito acima do teto constitucional. Há salários reais que ultrapassam R$ 100 mil. O maior é de R$ 126 mil.
Quanto aos privilégios que são dados aos políticos, seus assessores e agregados, são tantos que o espaço deste artigo não daria para enumerar.
Com tudo isso, cabe a pergunta: o que será que pesa mais nas combalidas contas da República Brasileira: a farda, a toga ou o terno? Enquanto não se puser em uma balança (não viciada) esses três produtos da nossa esdrúxula democracia, qualquer outra discussão sobre reformas estruturais soarão apenas como mais uma cortina de fumaça para esconder os verdadeiros vilões da nossa infelicidade pública.