Vergonhosa atitude
O Brasil não é sério. Talvez nunca será. E creio que a chance que temos de nos tornamos algo grande, sinceramente, passa por certa rebeldia civil, que vez ou outra tem que transparecer no esculacho público contra autoridades.
O Estadão publica uma reportagem falando da "milícias virtuais" do bolsonarismo e do olavismo. Para o jornal, a crítica mais ou menos organizada equivale ao Terror da Revolução Francesa ou o aparato de repressão dos países da Cortina de Ferro.
A crítica vem da mesma imprensa que especula sobre litígios familiares esquecidos no passado, publica matérias fofas sobre envios de mensagem em massa sem provas para afetar o segundo turno, dá ouvidos para que uma desequilibrada difame seu pai e infiltra jornalistas num curso para contar mentiras sobre o professor.
Isso poucos dias depois que Toffoli, em meio ao julgamento em que protagonizou o sepultamento da Lava Jato, anunciou o circo de uma investigação sem objeto claro, que transforma o STF numa máquina voltada para o processo e a intimidação jurídica de pessoas que estariam "denegrindo" a "reputação" de membros da corte.
Acuse-os do que você é, xingue-os do que você faz. A articulação seria maquiavélica se não fosse tão evidente. O STF quer intimidar juridicamente pessoas e organizações, A imprensa já deu o mapa de quem deve ser "justissimamente" acusado de "assassino de reputações alheias".
Claro que o mapa, nesse jogo, serve para outras coisas. Eu, que nem fui apontado, já perdi emprego por ter declarado apoio ao Presidente no ano passado. Minha esposa, que nem se mete em política, está num processo litigioso contra uma instituição pública de ensino que tem feito os maiores malabarismos para não chamá-la para a vaga que é dela, incluindo tentativa de entregá-la para professor de outra instituição.
Um mapa desses serve não só para o STF, mas para profissionais perderem emprego, espaço no mercado, vidas serem destruídas etc. É tudo o que um coordenador de curso ou profissional de RH mal intencionado precisa para fazer política sem que passe pelo dono da empresa. É o que basta para que um único membro escroque numa banca avaliadora tire os poucos décimos que podem afetar o resultado final num concurso de professor.
Alguns amigos foram apontados ali. Outros, eu nem gosto na verdade. Porém, parece-me que está na hora de todo mundo começar a operar com um mínimo de consenso a partir de uma pergunta fundamental: quando vamos começar a jogar esses caras na lixeira? E não estou falando em sentido figurado. (E.A.)