Marina Silva na campanha eleitoral
MARINA SILVA NA CAMPANHA ELEITORAL
Miguel Carqueija
Durante a acirrada campanha presidencial de 2018 a candidata da Rede, a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva, destacou-se pela coerência das suas ideias e do seu discurso, que nenhum candidato suplantou.
Ela, no início, parecia ter tudo para vencer; mas começaram a fazê-la cair nas pesquisas eleitorais (essa praga nojenta que deveria ser proibida) e esta é uma arma dos bastidores para derrubar boas candidaturas. Já tinham feito isso contra Sandra Cavalcanti nas eleições estaduais do Rio de Janeiro em 1982. Você faz uma pessoa cair nas pesquisas e logo muita gente, num gesto de traição, deixa de votar nela. Ou seja, preferem o torpe voto útil ao nobre voto de consciência.
Marina Silva sempre falou com brilhantismo, demonstrando não só imensa sensatez, como um vasto conhecimento de causa, de modo que as pessoas que, curiosamente falam mal dela, deveriam ao menos tomar conhecimento deste discurso. Causa espécie ver acusações absurdas lançadas por gente do conservadorismo que deveria apoiá-la.
Em 2016, entrevistada no Jô Soares, Marina mostrou mais uma vez a sua lucidez, declarando que não só Dilma Rousseff devia ser afastada (estava-se em pleno processo de impedimento) mas também o vice Temer. O próprio notável jurista Ives Gandra discordou dela, mas o tempo se encarregou de demonstrar o quanto a Marina estava certa.
Na última campanha eleitoral (terceira campanha presidencial seguida em que voto em Marina Silva e SÓ nela em termos de titularidade, o que significa que anulei no segundo turno) ela lembrou o assunto observando com propriedade que o afastamento de Dilma era legal (afinal ela cometeu sim, crimes de responsabilidade) mas não daria certo porque Temer, que fazia parte da curriola, assumiu como presidente titular. Ou seja, os dois tinham que ter sido afastados.
A candidata solidarizou-se com Bolsonaro quando do episódio da facada mas repudiou em seguida vivamente, ter visto o candidato do PSL no hospital, fazendo gesto de dar tiro. Aliás Bolsonaro precisa entender que não tem mais oito anos de idade para ficar fazendo gesto de brincadeira de bang-bang.
Esta nobre amazonense também encurralou Fernando Haddad no último debate, quando cobrou do petista uma auto-crítica, já que o PT jamais reconhece os seus erros. Haddad fugiu de responder, na réplica ela insistiu e por fim, na tréplica, saindo pela tangente, ele disse que sim, que reconheciam os erros, sem dizer quais, o que equivale a dizer que não reconhecia coisíssima alguma.
Marina discutiu com Bolsonaro num dos debates, bem taxativa, por causa da posição deste em relação ao salário das mulheres.
Ela enfrentou o casal antipático do Jornal Nacional, numa daquelas entrevistas falaciosas e agressivas. Coisas absurdas são assacadas contra Marina, como dela não estar “preparada” ou não ter “força” para ser presidente; ora se uma pessoa como ela não está preparada então quem está? O Geraldo Alkmin? Aliás ele é um dos que assacaram baixaria contra Marina. Colocar todo mundo no mesmo saco, quando existem diferenças óbvias, é baixaria. Assim fazem os candidatinhos que espalham por aí que só eles prestam.
Marina acenou com um “pre-sol” (trocadilho evidente com o pré-sal) no Nordeste, ou seja o aproveitamento da energia solar.
Suas ideias são abrangentes e não deixam furo no que o país realmente precisa.
Ela declarou que desejava ser a “pacificadora” do país, e não queria reeleição. Queria deixar o Brasil após quatro anos de mandato, sem o instituto da reeleição e com os futuros presidentes ficando cinco anos, o que é mais do que justo.
Desde que FHC realizou aquele casuísmo de uma pérfida PEC para instituir a reeleição — e a rigor ele próprio não poderia ser beneficiado mas somente o presidente seguinte — todos os que chegaram ao palácio fizeram uso desse privilégio, evidentemente com o uso da máquina governamental, e isso se repetiu a nível estadual — aqui no Rio, Sérgio Cabral e Pezão se reelegeram, e agora estão presos.
Marina daria fim a isto.
Ela é uma pessoa religiosa, da Assembléia de Deus, e mesmo sendo protestante eu a vi citar elogiosamente São Francisco de Assis, durante a campanha.
Nós desperdiçamos o Dr. Enéas Carneiro. Ainda temos chance de eleger Marina em 2022, se ela tiver disposição para voltar a competir.
Lembremos o que ela alertou: o país estava profundamente dividido e isto não se resolveria se um dos dois (Bolsonaro ou Haddad) vencesse: a guerra iria continuar. E é o que estamos vendo.
Por certo, foi melhor o Bolsonaro que o Haddad, e Bolsonaro defende inúmeras coisas certas, não há comparação possível com o PT. Mesmo assim estamos assistindo o despreparo de Bolsonaro, homem sem dúvida corajoso e talvez bem intencionado porém rude, sem grande cultura e inteligência.
Não me parece ter sido a melhor escolha.
Rio de Janeiro, 15 de março de 2019.
MARINA SILVA NA CAMPANHA ELEITORAL
Miguel Carqueija
Durante a acirrada campanha presidencial de 2018 a candidata da Rede, a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva, destacou-se pela coerência das suas ideias e do seu discurso, que nenhum candidato suplantou.
Ela, no início, parecia ter tudo para vencer; mas começaram a fazê-la cair nas pesquisas eleitorais (essa praga nojenta que deveria ser proibida) e esta é uma arma dos bastidores para derrubar boas candidaturas. Já tinham feito isso contra Sandra Cavalcanti nas eleições estaduais do Rio de Janeiro em 1982. Você faz uma pessoa cair nas pesquisas e logo muita gente, num gesto de traição, deixa de votar nela. Ou seja, preferem o torpe voto útil ao nobre voto de consciência.
Marina Silva sempre falou com brilhantismo, demonstrando não só imensa sensatez, como um vasto conhecimento de causa, de modo que as pessoas que, curiosamente falam mal dela, deveriam ao menos tomar conhecimento deste discurso. Causa espécie ver acusações absurdas lançadas por gente do conservadorismo que deveria apoiá-la.
Em 2016, entrevistada no Jô Soares, Marina mostrou mais uma vez a sua lucidez, declarando que não só Dilma Rousseff devia ser afastada (estava-se em pleno processo de impedimento) mas também o vice Temer. O próprio notável jurista Ives Gandra discordou dela, mas o tempo se encarregou de demonstrar o quanto a Marina estava certa.
Na última campanha eleitoral (terceira campanha presidencial seguida em que voto em Marina Silva e SÓ nela em termos de titularidade, o que significa que anulei no segundo turno) ela lembrou o assunto observando com propriedade que o afastamento de Dilma era legal (afinal ela cometeu sim, crimes de responsabilidade) mas não daria certo porque Temer, que fazia parte da curriola, assumiu como presidente titular. Ou seja, os dois tinham que ter sido afastados.
A candidata solidarizou-se com Bolsonaro quando do episódio da facada mas repudiou em seguida vivamente, ter visto o candidato do PSL no hospital, fazendo gesto de dar tiro. Aliás Bolsonaro precisa entender que não tem mais oito anos de idade para ficar fazendo gesto de brincadeira de bang-bang.
Esta nobre amazonense também encurralou Fernando Haddad no último debate, quando cobrou do petista uma auto-crítica, já que o PT jamais reconhece os seus erros. Haddad fugiu de responder, na réplica ela insistiu e por fim, na tréplica, saindo pela tangente, ele disse que sim, que reconheciam os erros, sem dizer quais, o que equivale a dizer que não reconhecia coisíssima alguma.
Marina discutiu com Bolsonaro num dos debates, bem taxativa, por causa da posição deste em relação ao salário das mulheres.
Ela enfrentou o casal antipático do Jornal Nacional, numa daquelas entrevistas falaciosas e agressivas. Coisas absurdas são assacadas contra Marina, como dela não estar “preparada” ou não ter “força” para ser presidente; ora se uma pessoa como ela não está preparada então quem está? O Geraldo Alkmin? Aliás ele é um dos que assacaram baixaria contra Marina. Colocar todo mundo no mesmo saco, quando existem diferenças óbvias, é baixaria. Assim fazem os candidatinhos que espalham por aí que só eles prestam.
Marina acenou com um “pre-sol” (trocadilho evidente com o pré-sal) no Nordeste, ou seja o aproveitamento da energia solar.
Suas ideias são abrangentes e não deixam furo no que o país realmente precisa.
Ela declarou que desejava ser a “pacificadora” do país, e não queria reeleição. Queria deixar o Brasil após quatro anos de mandato, sem o instituto da reeleição e com os futuros presidentes ficando cinco anos, o que é mais do que justo.
Desde que FHC realizou aquele casuísmo de uma pérfida PEC para instituir a reeleição — e a rigor ele próprio não poderia ser beneficiado mas somente o presidente seguinte — todos os que chegaram ao palácio fizeram uso desse privilégio, evidentemente com o uso da máquina governamental, e isso se repetiu a nível estadual — aqui no Rio, Sérgio Cabral e Pezão se reelegeram, e agora estão presos.
Marina daria fim a isto.
Ela é uma pessoa religiosa, da Assembléia de Deus, e mesmo sendo protestante eu a vi citar elogiosamente São Francisco de Assis, durante a campanha.
Nós desperdiçamos o Dr. Enéas Carneiro. Ainda temos chance de eleger Marina em 2022, se ela tiver disposição para voltar a competir.
Lembremos o que ela alertou: o país estava profundamente dividido e isto não se resolveria se um dos dois (Bolsonaro ou Haddad) vencesse: a guerra iria continuar. E é o que estamos vendo.
Por certo, foi melhor o Bolsonaro que o Haddad, e Bolsonaro defende inúmeras coisas certas, não há comparação possível com o PT. Mesmo assim estamos assistindo o despreparo de Bolsonaro, homem sem dúvida corajoso e talvez bem intencionado porém rude, sem grande cultura e inteligência.
Não me parece ter sido a melhor escolha.
Rio de Janeiro, 15 de março de 2019.