Alerta para um grave problema social que se avoluma.
Em 2000, com o meu livro Por uma Ordem Social Solidária, (Ed. Loyola), fui um dos primeiros a alertar para a questão , extremamente importante para o futuro da humanidade, que é o desemprego crescente gerado pelos processos de automação, robotização, com o uso da "inteligencia artificial ". Hoje muitos cientistas sociais em todo o mundo tratam do assunto e jornalistas publicam bons textos alertando para a questão. O dramático é que os políticos, não só do Brasil mas de todos os países, não debatem a matéria procurando soluções democráticas e humanas para o problema que se avoluma. É triste e perigoso - só nos resta continuar a escrever tentando alertar o povo para o assunto que a todos deve interessar e preocupar.
Escrevi em O Globo de janeiro de 2018 o seguinte artigo:
Desemprego avassalador...
Publicado em O Globo de 24/01/18
Que o veloz progresso da tecnologia desemprega é, atualmente, tema encarado com preocupação por um grupo de cientistas sociais. Em 2000 tratei do assunto no meu livro “Por uma Ordem Solidária”, (Loyola editora), voltando ao assunto em 2011 no “A Crise Global Contemporânea – a visão de um cristão”, (PUC RIO Editora). Poucos leram e deram atenção ao alerta que fazia, convidando para o debate. Hoje vários bons artigos estão sendo publicados sobre a matéria em vários países, e será discutido na reunião da Davos pela liderança politica e empresarial mundial.
Finalmente o mundo despertou para a evidente dramática questão social que se avoluma e, em poucas décadas, irá transformar radicalmente as formas democráticas de organizar e fazer funcionar as sociedades. A pessoa humana sempre viveu do seu trabalho que é a essência da expressão da sua existência. Os cristãos acreditam que, pelo trabalho, a pessoa humana participa da obra de Deus na criação do Cosmo.
No espaço deste artigo deixemos de lado dados estatísticos e as pesquisas recentes, que apresentam o óbvio e são facilmente acessados no google. A robótica, a internet, a inteligência artificial, a cibernética com velocidades fantásticas estão alterando a forma de produzir e de conviver. As informações estão disponíveis sem que a maioria das populações seja capaz, sequer, de perceber o que elas estão informando, a interdependência dinâmica dos fatos e das relações sócio-politicas-econômicas-jurídicas não são percebidas na radicalidade do que ocorre. Economistas, sociólogos, antropólogos, na sua maioria, não foram educados para compreender o processo histórico, os meandros dos sistemas políticos, as nuances do pensar e do sentir humano, as sutilezas da reflexão filosófica que ajudam construir distinções e induzir conclusões mais corretas e adequadas. Não se percebe que sem uma forte perspectiva religiosa, difundida nas populações, torna-se muito difícil, praticamente impossível, fazer apelos para a solidariedade, única forma que constato ser capaz de encaminhar alguma solução razoável para o drama humano que se aproxima.
O mundo capitalista, com sua lógica de objetividade materialista e individualista, soube se desenvolver com extrema agilidade e esperteza, criando formas e adaptações de sobrevivência frente aos fatos novos na sociedade, nos últimos dois séculos, propiciando o extraordinário progresso material que desfrutamos.
Agora temos um algo novo: a própria humanidade engendrou um sistema de tal forma excludente que só aqueles capacitados terão condições de trabalhar. Os outros, os bilhões de excluídos do sistema, receberão do Estado, no máximo, uma ajuda para apenas sobreviver, afastados dos centros de poder e de usufruto do prazer decorrente das conquistas da mente humana.
Ainda é possível criar uma alternativa politica global, uma saída para a catástrofe humana que, inexoravelmente, se imporá em algumas décadas se nada for feito agora.
Eurico Borba, 78, aposentado, escritor, ex professor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE, mora em Ana Rech, Caxias do Sul.