TEOLOGIA DA VERDADE
A igreja católica tenta evoluir e manter influência dentro da sociedade para que o Reino de Deus seja alcançado, seguindo as lições de Jesus. Mas acredito que houve um equívoco com o desenvolvimento da Teologia da Libertação que foi criada na América Latina, depois do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellin. Ela parte da premissa de que o Evangelho exige a opção preferencial pelos pobres e que, para concretar essa opção, deve usar também as ciências humanas e sociais.
É considerada como um movimento apartidário e inclusivista de teologia política, que engloba várias correntes de pensamento que interpretam os ensinamentos de Jesus Cristo em termos de uma libertação de injustas condições econômicas, políticas ou sociais. Ela foi descrita pelos seus proponentes como uma reinterpretação analítica e antropológica da fé cristã, em vista dos problemas sociais, mas seus oponentes a descrevem como um marxismo, relativismo e materialismo cristianizado.
A maior parte dos teólogos da libertação é favorável ao ecumenismo e à inculturação da fé. Embora o movimento tenha raízes anteriores, costuma-se dizer que seu marco inicial ocorreu em 1971, quando o padre peruano Gustavo Gutiérrez publicou um livro denominado A Teologia da Libertação. O movimento foi censurado nos Pontificados de João Paulo II e de Bento XVI. Atualmente, durante o pontificado de Francisco, existe o entendimento de que a igreja demonstra uma posição reconciliadora, ainda que o pontífice já tenha refutado ligações com a teologia da libertação de Leonardo Boff e jamais tenha apoiado os postulados de Gustavo Gutiérrez. Outros expoentes são Frei Betto do Brasil, Jon Sobrino de El Salvador, Leônidas Proaño do Equador e Juan Luis Segundo do Uruguai.
A influência da Teologia da Libertação diminuiu após seus formuladores serem condenados pela Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) em 1984 e 1986. A Santa Sé condenou os principais fundamentos da teologia da libertação, como a ênfase exclusiva no pecado institucionalizado, coletivo ou sistêmico, excluindo os pecados individuais, a eliminação da transcendência religiosa, a desvalorização do magistério, e o incentivo à luta de classes. A Teologia da Libertação também sofreu um forte declínio, desde os anos 90, devido ao envelhecimento de suas lideranças e a falta de participação das novas gerações nesse movimento.
Sempre existe essa tendência dos cristãos se envolverem em movimentos revolucionários em defesa de alguma injustiça que esteja sendo praticada. Mesmo no tempo de Jesus, o Mestre era assediado para pegar em armas pelos zelotes, uma seita judaica, que acreditava que só assim podiam expulsar os romanos. Eles esperavam um messias guerreiro, e o próprio Simão, um dos 12 apóstolos, também era conhecido como “o zelote”.
Os cristãos de hoje voltam a praticar o mesmo erro, em nome dos injustiçados. Defendem uma teologia que provoca o confronto entre as classes e inevitavelmente, o derramamento de sangue. Não é que seja condenável o desenvolvimento de ações que potencializem o ideal evangélico, mas, jamais sem distorcer o ideal de paz e amor inerentes as lições do Cristo.
Seria mais produtivo se nós, cristãos, que procuramos alcançar o Reino de Deus como Jesus ensinou, desenvolvêssemos uma Teologia da Verdade, com o objetivo de limpar de nossas consciências tantas narrativas falsas que alimentam o conflito entre grupos e classes, das formas mais amplas possíveis.
Os adeptos da Teologia da Verdade não iriam se confrontar fisicamente com os mentirosos, apenas mostrariam de forma clara a Verdade e que seria importante cada um, enganado ou não, saírem de suas falsas posições. Isso seria feito com o máximo de amor possível, mostrando ao mentiroso que ele é um irmão de todos que lutam para fazer a vontade de Deus.
Certamente a Santa Sé iria reconhecer um movimento como este devidamente sintonizado com o Evangelho, renovador dentro dos movimentos sociais e que deveria ser incentivado por todos os cristãos, afinal a Verdade é uma das identidades do Mestre.