Reflexão sobre "A politica e a Transcendência"
Recebi, de um grande amigo cientista politico, uma excelente reflexão sobre o meu artigo, que postei aqui dia 8/2 - "A politica e a crença na Transcendência". Gostei da reflexão. Pedi licença para transcrever o que escreveu - ele autorizou mas não quer que apresente seu nome por pura humildade e recato intelectual.
"Estimado Eurico,
Compartilho da sua preocupação e do seu desengano. Também sou muito pessimista quanto ao futuro. A dominação da espécie humana sobre o planeta sempre foi um desastre, e este já atinge proporções incontroláveis. Os dinossauros dominaram tudo por milhões de ano; por quanto tempo o homo sapiens dominará a terra?
A falta de alternativas viáveis para a grande crise social mundial é paralisante. O socialismo fracassou, restando o capitalismo. Não percebo formas alternativas de organização da atividade econômica, salvo em pequenas comunidades. Caberia ao Estado regular o mercado, de tal forma a garantir a inclusão de todos, de alguma forma, nos benefícios do desenvolvimento. Mas esse ideal está cada vez mais distante, com a crescente desigualdade na distribuição da riqueza. O Estado parece ser estruturalmente prisioneiro do modo de produção dominante, qualquer que ele seja. Como fazer a mágica de colocar em altos cargos governamentais pessoas sérias, competentes e comprometidas com a justiça social? Ninguém sabe. Resta a democracia, imperfeita que seja. As novas tecnologias, como você já notou, só farão piorar o cenário, com desemprego monumental e insolúvel. Vastas populações morrerão de fome e doenças, provocando caos, revoltas, revoluções, guerras. Os ricos e poderosos, individualmente e nacionalmente, se isolarão ainda mais, construindo muros reais ou virtuais. Assistirão, pela TV, ao descalabro que eles mesmos geraram. Talvez, um dia, esses muros sejam derrubados e afundaremos todos, sem exceção, em um oceano de lágrima e sangue. Mas não estaremos aqui para presenciar.
Pois é: você achou que sofria sozinho?
Grande a afetuoso abraço,
PS O Vaticano, fossilizado em sua pompa medieval, inteiramente distante do exemplo de Cristo, não tem autoridade moral para condenar nada nem ninguém. Precisaria, antes, despir-se de sua vaidade e de suas fantasias de luxo, de suas imensas riquezas, tornar-se de novo povo, para poder ser ouvido. Mas isso não acontecerá nunca.