INCONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

 
Neste fim de ano, eu e minha mulher resolvemos viver uma pequena aventura. Juntamente com um casal amigo, saímos de Mogi das Cruzes, onde moramos e fomos, de carro, até a Costa do Sauípe, na Bahia, cerca de cinquenta quilômetros depois de Salvador.
Rodamos mais de cinco mil quilômetros ida e volta, parando em algumas cidades, onde nós temos parentes. Foi uma aventura e tanto, viajando por estradas desconhecidas e conhecendo cidades pelo interior de Minas e Bahia. O Brasil é grande, generoso e rico. Acompanhamos, por muitos quilômetros o curso do Rio Doce, onde a única lembrança que ele nos trouxe foi a tragédia de Mariana. Depois seguimos, quase um dia inteiro, o curso do Jequitinhonha, onde, nos idos dos anos setenta, passei algum tempo participando do Projeto Rondon. O Vale do Jequitinhonha era, naqueles tempos, uma das regiões mais carentes do país. Não mudou muito. Na volta passamos pelo rio Paraopeba, belo curso de água que deságua no grande São Francisco. Aquela região de Minas é uma das mais belas regiões do país. Montanhas cheias de ferro e outros minérios. Cidades mineiras, como Ouro Preto, Mariana, Diamantina, São João Del Rey, e baianas,como Porto Seguro, Vitória da Conquista, por onde passamos fazendo turismo, apelam para o nosso espírito romântico, fazendo lembrar que por ali estão fincadas as raízes da nossa nacionalidade.
São lindas as Montanhas Alterosas. O que as enfeia são aqueles montes de minério acumulados nos terrenos das mineradoras e aquelas barragens construídas para retenção dos resíduos do processamento.  Parecem manchas leprosas em meio ao verde das serras.
Lembro-me de ter visto na BR 40 uma placa com o nome de Brumadinho. Recordo a beleza daquela região, e fico pensando se o custo benefício da atividade mineradora compensa o assassinato sistemático que essa atividade comete ao meio ambiente desde que por aqui aportaram os europeus, com sua febre pelo ouro e pelas pedras preciosas. Vejo o que sobrou das cidades mineiras. Ouro Preto, Mariana, Congonhas, Diamantina. Levaram todo o ouro e os diamantes para a Europa. E o que ficou para nós foram morros carecas e rios poluídos. É a mesma coisa agora. Nossos minérios vão, em sua maior parte, para o exterior, a preços vis. E nós importamos os produtos que são fabricados com eles. E ficamos com as montanhas peladas, as florestas decepadas, as barragens assassinas, os rios poluídos. Pergunto-me o que mudou desde a exploração colonial dos portugueses para a exploração predatória de hoje, feita por multinacionais apátridas.
As tragédias de Brumadinho e Mariana aconteceram justamente na região onde, um dia, um grupo de brasileiros ensaiou uma revolta contra a exploração predatória do nosso país. Que não deu em nada, como todas as demais tentativas que já se fizeram para tornar este um país sério. As vítimas de Mariana ainda clamam por justiça. Quem sabe agora, somadas às de Brumadinho, elas façam um alarido que não possa ser abafado na nossa inconsciência ecológica.