Bolsonaro, boneco ventríloquo de Trump
Estamos numa ditadura cívico-militar. Os eventos sucessivos não apenas confirmam, como mostram que a balança pende rapidamente para o segundo termo da expressão.
Os pequenos avanços obtidos durante os anos do governo Lula e Dilma na área da transparência foram lançados ao lixo.
A lei de acesso a informação acaba de ser golpeada de morte. Decreto assinado pelo general Hamilton Mourão permite a simples assessores determinar o que pode vir a público ou não. Farra total.
Simultaneamente, o Banco Central quer excluir do controle de movimentações financeiras apaniguados e parentes de gente graúda, políticos principalmente. Quer também eliminar do controle obrigatório do COAF as transações bancárias que ultrapassem 10 mil reais.
Curiosamente, com o perdão da ironia, as medidas aparecem quando vem a público o escândalo Queiróz/Bolsonaro. Se elas já estivessem em vigor, as evidências de associação com milícias criminosas, roubo de recursos públicos na contratação de assessores, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito e até de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle e o motorista Anderson – todas essas acusações que pesam contra a “famiglia” no poder, Jair incluído, restariam debaixo do tapete.
A intenção é clara, agora sem ironia. Está em curso uma operação de blindagem para proteger meliantes investidos de algum cargo interessados em saquear o povo trabalhador sem o risco de serem incomodados. Como nos tempos da ditadura oficial iniciada em 1964.
A estratégia talvez seja incapaz de salvar da guilhotina Flávio Bolsonaro e sua troupe, pois as providências ocorrem após a porta ser arrombada. Mas, para isso, existem alternativas. Sempre haverá um Luiz Fux disposto a escrever uma nova Constituição por dia para adaptar a “lei” a crimes escandalosos.
É impossível separar estes movimentos do que está ocorrendo na Venezuela neste momento. Jair Bolsonaro é um peão da recolonização da América Latina.
Ao mesmo tempo em que transforma a delegação brasileira em Davos em camelôs da soberania nacional, Bolsonaro atua como boneco de ventríloquo de Donald Trump – que destino infame para um país de mais de 200 milhões de habitantes, oitava economia do mundo.
Bastou um telefonema da Casa Branca para um direitista que se proclamou presidente no meio da rua em Caracas ser reconhecido pelo Brasil como representante de um país!
Tudo faz sentido. Se na Venezuela os acontecimentos correm a toda velocidade, por aqui o horizonte não é muito melhor, guardadas as devidas diferenças históricas e proporções.
Mas erra quem imaginar que o povo vai assistir passivamente à aplicação do plano selvagem de Paulo Guedes e sua turma de abutres rentistas.
Se bem que, no Brasil, tudo vem sendo possível.
Joaquim Xavier