É prudente colocar as barbas de molho...
É prudente colocar as barbas de molho...
Publicado no jornal Pioneiro 21/01/19, Caxias do Sul
Governos novos, esperanças renovadas. Parece que tudo vai melhorar no Brasil e estados. Já nos próximos dias começaremos a sentir e a viver os milagres – puros sonhos e alegrias.
Não vai ser assim, não. A crise global vai continuar, o banditismo vai prosseguir a confrontar a policia, a saúde publica permanecerá com o péssimo atendimento, o meio ambiente se degradando, o sistema educacional fingindo que educa a juventude, os empresários cautelosos com os necessários investimentos, a corrupção aperfeiçoando seus métodos, a economia reagindo apenas lentamente e a recuperação dos empregos mais vagarosamente ainda, os estados e muitos municípios continuando a atrasar, cada vez mais, o pagamento dos seus funcionários e fornecedores.
O Brasil está destroçado – moral, politica e economicamente. O ódio e a mediocridade permeiam as relações sociais. As proclamações das Igrejas cristãs históricas não se fazem mais ouvir.
União em torno de bons propósitos não se conquista numa campanha eleitoral, nem em discursos de posse. Os pronunciamentos omitiram informações sobre a extensão da catástrofe que nos assola, por exemplo: as contas publicas e o aumento do desnível de renda entre pessoas e regiões. Uma vez mais enganaram o povo.
Churchill, sob a ameaça da invasão nazista em 1940, não minimizou a gravidade da situação de uma Inglaterra quase derrotada e disse: “só vos prometo sangue, suor, lagrimas e trabalho”. Venceram a guerra.
O Brasil também saberá entender verdades difíceis. Acreditando nas lideranças eleitas, saberá, então, se unir para superar a tragédia nacional, que exigirá sacrifícios de todos, por muitos anos.
Isso já deveria ter sido dito pelas lideranças honestas: a opção escolhida exigirá sacrifícios, postergação de consumo, fixação de algumas poucas prioridades de ações governamentais.
Não há recursos para tudo e muitas soluções exigem tempo para se concretizarem.
Por muitos anos conviveremos com impostos altos, com investimentos apenas em áreas prioritárias: educação de qualidade, saúde pública decente, segurança eficiente e proteção do meio ambiente. O resto o mercado, percebendo sinais concretos desses novos tempos, providenciará.
Eurico de Andrade Neves Borba, ex professor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE, escritor, mora em Ana Rech, Caxias do Sul.