“POR FORA, BELA VIOLA, POR DENTRO PÃO BOLORENTO”.
 
Se quem não deve não teme, como diz o ditado popular, o senador Flávio Bolsonaro deve estar muito temeroso. Se não estivesse, por que apelaria para um recurso tão antiético e suspeito como reivindicar o instituto do foro privilegiado, no caso que envolve o seu assessor, Fabrício Queiróz? Causa estranheza que um senador que se elegeu prometendo combate à corrupção, respeito à ética e o exercício honesto e comprometido com a causa pública, antes mesmo de ocupar a cadeira a ele concedida por um povo farto de desonestidade e imoralidade, já de início, comece por mostrar que, que no fundo, em nada difere dos demais políticos que o eleitor tem condenado de forma tão veemente.
A Família Bolsonaro, a começar pelo presidente eleito, Jair, o Messias(que não se perca pelo nome), é hoje o mais bem aquinhoado clã da política brasileira. Praticamente a família inteira exerce algum cargo público, o que significa que todos são, indistintamente, funcionários públicos. Diga-se, a bem da verdade, que alguns deles, como o próprio presidente e seus filhos, senador e deputado Bolsonaro, conquistaram esse direito em eleições livres e democráticas.
É possível que não exista nada de errado na movimentação financeira do assessor do senador Flávio Bolsonaro. Mas se não há, o senador está agindo como se tivesse muito a esconder. E o referido assessor também. Até agora ninguém teve coragem de apresentar-se frente às autoridades para prestar algum esclarecimento sobre o caso. Ao contrário, todos têm fugido do caso como o diabo da cruz.
É, de fato, muito suspeito tudo isso. Principalmente considerando que o senador Bolsonaro sempre foi um dos políticos que mais condenou o famigerado instituto do foro privilegiado. E agora, é justamente a esse odioso recurso que ele recorre para evitar uma investigação que ele, como homem público, deveria exigir.
Se de um lado o governo Bolsonaro começou dando alguma esperança ao povo brasileiro no campo da economia e da administração pública, eliminado gargalos que impedem o nosso desenvolvimento e emperram o funcionamento do Estado, essa escorregada do senador é muito preocupante do ponto de vista ético. Será que todo o discurso da família Bolsonaro, sobre combate à corrupção, moralização administrativa, honestidade e probidade no trato da coisa pública só vale para os outros e para eles não?
Lula está preso em Curitiba, Dilma foi defenestrada, Temer será devidamente processado e poderá, também acabar na cadeia. Jair Bolsonaro é uma esperança que essa sinistra cadeia de escroques da vida pública, que tomou de assalto os mais altos escalões do governo brasileiro seja quebrada. Porém, o exemplo dado pelo senador não parece indicar que tudo, agora, possa ser diferente.  Mas como a esperança é a última carta que descartamos no jogo da vida, vamos torcer para que os Bolsonaros não se enquadrem nos versos do velho Gregório de Matos Guerra: “Por fora, bela viola, por dentro pão bolorento”.