O JULGAMENTO DO MACACO
O
Nos anos setenta o filósofo e comunicador canadense Marshall McLuhan previu que a terra logo se tornaria uma grande aldeia global, na qual todos estariam falando praticamente uma mesma língua e os acontecimentos, em qualquer parte do mundo, seriam divulgados simultaneamente por todo o planeta. Ele não errou, pois os meios de comunicação, depois da Internet e dos aplicativos desenvolvidos permitem que as noticias circulem por toda parte, no momento em que elas acontecem.
Esse tema nos vem a propósito das polêmicas criada pelas declarações da nova ministra que o Bolsonaro nomeou para a pasta dos Direitos Humanos. Parece que essa senhora está vivendo no século passado e não sabe que esse assunto do criacionismo versus evolucionismo é um tema superado já há pelo menos uns cem anos nos países do chamado primeiro mundo. Mas para ela, que afirma “que a Bíblia perdeu espaço para a ciência”, a questão ainda é relevante. Talvez ela não saiba que esse assunto já foi levado até às barras de um Tribunal de Justiça nos Estados Unidos gerando um julgamento que durou onze dias. Isso aconteceu no rumoroso caso conhecido como o “Julgamento do Macaco”, onde um jovem professor de ciências foi processado pelo promotor local (que por sinal era também pastor da principal igreja evangélica da comunidade) por tentar ensinar a teoria da evolução na escola secundária da cidade. Esse caso aconteceu em 1925, e ainda hoje levanta fumaça entre os defensores das duas concepções. Esse julgamento já foi objeto de três filmes, com o sugestivo título de “O Vento Será Sua Herança.”
Praticamente cem anos depois uma ministra de Estado volta a levantar esse tema, como se ele tivesse alguma relevância para o sistema educacional do país. Não é que a ministra Damares esteja errada em suas concepções. Talvez falte mais espiritualidade na nossa educação moderna. Penso, entretanto, que ao lado de aulas de religião, seriam muito bem-vindas as velhas e boas aulas de filosofia. E que tanto umas como outras fossem expurgadas de viés ideológicos, voltando a ser fontes de conhecimento e ferramentas de desenvolvimento do espírito. Porque tanto a religião quanto a filosofia fazem parte da história do pensamento humano, e ambas são ciências sociais.
Tratar o conhecimento de forma ideológica é fazer dele arma para implantação da tirania. Crer que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, como diz a Bíblia, ou é fruto de uma longa evolução, a partir de uma matriz animal, como querem os evolucionistas, é uma opção que não faz uma pessoa ser melhor do que a outra. Mas levar uma ou outra para dentro de um sistema de educação, como crença a ser instalada, pode fazer muito mais estragos do que planos econômicos que não dão certo. Mostremos ao homem todos os caminhos. E que cada um escolha o seu. O que não podemos é ficar julgando novamente o macaco. Temos coisas mais importantes para resolver.
O
Nos anos setenta o filósofo e comunicador canadense Marshall McLuhan previu que a terra logo se tornaria uma grande aldeia global, na qual todos estariam falando praticamente uma mesma língua e os acontecimentos, em qualquer parte do mundo, seriam divulgados simultaneamente por todo o planeta. Ele não errou, pois os meios de comunicação, depois da Internet e dos aplicativos desenvolvidos permitem que as noticias circulem por toda parte, no momento em que elas acontecem.
Esse tema nos vem a propósito das polêmicas criada pelas declarações da nova ministra que o Bolsonaro nomeou para a pasta dos Direitos Humanos. Parece que essa senhora está vivendo no século passado e não sabe que esse assunto do criacionismo versus evolucionismo é um tema superado já há pelo menos uns cem anos nos países do chamado primeiro mundo. Mas para ela, que afirma “que a Bíblia perdeu espaço para a ciência”, a questão ainda é relevante. Talvez ela não saiba que esse assunto já foi levado até às barras de um Tribunal de Justiça nos Estados Unidos gerando um julgamento que durou onze dias. Isso aconteceu no rumoroso caso conhecido como o “Julgamento do Macaco”, onde um jovem professor de ciências foi processado pelo promotor local (que por sinal era também pastor da principal igreja evangélica da comunidade) por tentar ensinar a teoria da evolução na escola secundária da cidade. Esse caso aconteceu em 1925, e ainda hoje levanta fumaça entre os defensores das duas concepções. Esse julgamento já foi objeto de três filmes, com o sugestivo título de “O Vento Será Sua Herança.”
Praticamente cem anos depois uma ministra de Estado volta a levantar esse tema, como se ele tivesse alguma relevância para o sistema educacional do país. Não é que a ministra Damares esteja errada em suas concepções. Talvez falte mais espiritualidade na nossa educação moderna. Penso, entretanto, que ao lado de aulas de religião, seriam muito bem-vindas as velhas e boas aulas de filosofia. E que tanto umas como outras fossem expurgadas de viés ideológicos, voltando a ser fontes de conhecimento e ferramentas de desenvolvimento do espírito. Porque tanto a religião quanto a filosofia fazem parte da história do pensamento humano, e ambas são ciências sociais.
Tratar o conhecimento de forma ideológica é fazer dele arma para implantação da tirania. Crer que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, como diz a Bíblia, ou é fruto de uma longa evolução, a partir de uma matriz animal, como querem os evolucionistas, é uma opção que não faz uma pessoa ser melhor do que a outra. Mas levar uma ou outra para dentro de um sistema de educação, como crença a ser instalada, pode fazer muito mais estragos do que planos econômicos que não dão certo. Mostremos ao homem todos os caminhos. E que cada um escolha o seu. O que não podemos é ficar julgando novamente o macaco. Temos coisas mais importantes para resolver.