Calma, gente... Bom senso, por favor!

Cá por esses dias, deparei-me com uma foto na qual estavam reunidos Dorival Caymi, Luis Gonzaga, Tom Jobim, Jack Lang, Caetano Veloso e Chico Buarque, tirada no início dos anos 80. Estando a tal imagem publicada no Instagram, a título de curiosidade, dispus-me a ler os comentários que faziam a ela, e fiquei estarrecido e envergonhado com a falta de cultura, de bom senso e de compostura dos brasileiros em pleno século XXI.

De fato, um grande número de usuários fazia referência ao que supunham ser o alinhamento político dos músicos com a esquerda e com o comunismo, embora nem todos ali o fossem, e usando-se disso, diminuíam a obra e o trabalho dos mesmos. Não gostar do conteúdo por eles produzido é uma coisa, outra bem diferente é, com base em perfis ideológicos, tirar-lhes os méritos que, aliás, são muitos.

A politização que vivemos hoje, ao invés de nos engrandecer como povo, está nos tornando um bando de fanáticos. A política é apenas uma variável da sociedade, mas não deve se estender para muito além disso. Ao se ouvir "Garota de Ipanema" ou "Asa Branca", a mensagem a ser transmitida pelas canções vai muito além de uma inclinação ideológica ou partidária, seja à direita ou à esquerda. Lá fora temos Eric Clapton, o qual se identifica com o conservadorismo britânico, e Bob Dylan, que apoiou Obama, do Partido Democrata dos EUA. Ambos, porém, contam com uma obra musical que exerceu forte influência ao redor do mundo. A qualidade de um advogado, de um médico, de um engenheiro ou de um músico nada tem a ver com o seu posicionamento político, e ainda bem que é assim! Levantar a bandeira pela direita ou pela esquerda não me impede de apreciar uma bela canção de um músico de qualquer dos dois lados do espectro político; demonstra, antes, que eu tenho a sabedoria e a maturidade de perceber o que é bom, e dar os devidos créditos a quem merece. Assim como não vou querer saber a ideologia que segue o médico que, numa emergência, for me atender; também não vou me abster de ouvir determinada obra musical que seja bela porque discordo politicamente do seu autor.

O bom senso, aliás, deveria partir mesmo quando se está debatendo política. Ouvir o que um "coxinha" tem a dizer, ou o que propõe um "mortadela", não me diminui; antes, me faz questionar as minhas próprias posições e a autocrítica, ao final, me engrandece. Um grave problema no Brasil é que ao se dar o apoio a Lula ou a Bolsonaro, por exemplo, muitos aderem por completo ao discurso e à agenda deles, negando-lhes as faltas e os desvios que - surpresa! - todos têm, pois Deus, nenhum é. E assim perdem a chance de aprender um pouco mais, nem que seja para reforçar as suas próprias convicções.

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*NOTA DO AUTOR: Este artigo representa a minha opinião acerca do conteúdo nele exposto. Se você não concorda, respeito seu posicionamento, e as eventuais réplicas, quando pautadas do diálogo e na aquisição de conhecimento são sempre bem-vindas.

Louij Dradane
Enviado por Louij Dradane em 03/01/2019
Código do texto: T6542068
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