TROTSKY (05) – MUDANÇA DE IDENTIDADE
               A cena se desloca para 1902, Irkutsk, exílio para perseguidos políticos. No início do século XIX, muitos artistas russos, oficiais e nobres foram enviados para o exílio na Sibéria por sua parte na revolta Decembrista contra o czar Nicolau I. Irkutsk tornou-se o grande centro da vida intelectual e social para esses exilados, e grande parte do patrimônio cultural da cidade vem deles, assim como muitas de suas casas de madeira, enfeitadas com ornamentos talhados à mão, que hoje sobrevivem em forte contraste com o padrão de blocos de apartamentos soviéticos que os cercam. As ruas largas, arquitetura e ornamentação continental levaram Irkutsk a ser apelidada a "Paris da Sibéria", embora os viajantes de hoje tendam a não se importar muito. Durante a guerra civil que eclodiu depois da Revolução Bolchevique, Irkutsk tornou-se o local de muitos confrontos furiosos, sangrentos entre os "brancos" (czaristas) e os "vermelhos" (bolcheviques), e uma série de marcos históricos daquela época permanece na cidade. Em 1920, Kolchak, o outrora temido comandante do maior contingente de forças antibolcheviques, foi aqui executado, o que efetivamente destruiu a resistência antibolchevique. Hoje, Irkutsk é uma das maiores cidades da Sibéria, com uma população crescente de mais de 590.000 pessoas. É o lar de diversas universidades e um ramo importante da Academia de Ciências da Rússia, graças a sua proximidade com o Lago Baikal.
               Vê-se Bronstein se aproximando de um casebre humilde onde é acolhido para se proteger do frio. É-lhe oferecido roupas melhores para não morrer no caminho.
               - B. Não precisa. Vou receber os documentos?
               - R. Faremos tudo direitinho. Vai ficar perfeito. Só escolha um sobrenome. Petrov ou Stepanov?
               Ecoa na mente de Bronstein o diálogo que tivera com Trótsky: “Não pode decidir o destino das pessoas e continuar sendo humano. Está ouvindo isso de mim, Nikolai Trótsky”
               - B. Trótski. Trótski é meu sobrenome.
               Volta a cena para o México, e o Jornalista pergunta:
               - J. Pegou o sobrenome do chefe da guarda?
               - T, Não só peguei. Eu o imortalizei. Eu o esfolei e vesti a pele dele. Como alguns caçadores fazem. E quem é o caçador? É um monstro que derrota outro monstro. Não mais. Em 1918 tive que me tornar o monstro mais temido. E fiz isso.
               - J. Isso justifica o que Stalin precisa fazer agora.
               - T. Os monstros estão divididos em duas categorias: alguns se tornam monstros pelo bem maior, outros porque gostam.
               Esta frase abre a compreensão para o conteúdo da revolução russa. De um lado a intenção saudável de libertar o povo do jugo da escravidão, de trabalho sem descanso, sem direitos, para garantir as mordomias da elite dirigente; do outro lado as ações monstruosas com o objetivo de garantir o poder dos dirigentes e tendo o povo como mero instrumento.
               - J. Sabe o que eu acabei de ouvir? Uma acusação de um leão ferido contra um adversário mais forte. Porque foi Stalin que construiu o mundo que todos sonhavam. Ele conseguiu, e você falhou.  
               - Natália, esposa de Trótski. Querido, é hora do seu remédio.
               - T. Natália, não quero tomar. Estou ótimo.
               - N. Leon, não discuta. Sabe que não adianta.
               - T. Viu, Jacson? Não é só você que não reconhece minha autoridade.
               - J. Acho que sua esposa o vê como um homem comum que precisa dormir, comer e tomar remédio.
               - T. Está enganado. Tenho certeza de que sou para ela muito mais que um homem comum.
            Trótski não desenvolve falsa modéstia. Não conseguimos ver pessoas em busca do poder para ajudar de verdade a humanidade. Mesmo que os discursos sejam nesse sentido, a prática de quando se assume o poder muda radicalmente, como pudemos observar nos 13 anos de governo do PT e seus associados, que quase destruíram o Brasil e destroçaram suas instituições, financeiras, políticas e jurídicas.