COINCIDÊNCIAS SIGNIFICATIVAS
 
¨O mouro cumpriu seu dever, o mouro pode ir..”, é uma citação de uma peça de Shiller (Fiesco,  cena 3, ato 4). Freud, em um  livro que ele escreveu em 1900, (Interpretação  dos Sonhos), associa essa frase  com um sonho que teve em sua infância, no qual sua honestidade estava sendo questionada. Pelo menos ele assim interpretou .
Fiz essas associações quando o juiz Sérgio Moro aceitou o convite do presidente eleito para ser Ministro da Justiça. Sua honestidade está sendo questionada pelos petistas, pelo fato de ele ter condenado Lula, com o claro objetivo(segundo eles) de tirá-lo da disputa presidencial, permitindo a eleição de Bolsonaro.  
Na cabeça dos petistas, sua escolha para o Ministério da Justiça é um prêmio por esse “serviço”.  Freud, na interpretação do seu sonho, disse que não saiu da sala depois de liberado pelos seus questionadores, porque não conseguiu encontrar o seu chapéu.  E isso lhe sugeriu que ”não havia cumprido seu dever, por isso não podia ainda sair”.
Foi mais ou menos o que Sérgio Moro disse ao aceitar o cargo de Ministro da Justiça. Ele ainda tem um dever a cumprir. Não pode simplesmente pegar o chapéu e sair.  O “Moro” da peça de Bolsonaro, como o mouro do sonho de Freud, ainda não pode sair de cena...
Freud concluiu, dessa estranha associação feita com o personagem de Shiller, que seu inconsciente talvez não o julgasse ser tão honesto quanto ele, conscientemente, pensasse que era. Significativas coincidências. Na peça de Shiller, o mouro era um sujeito que fazia qualquer coisa por dinheiro. E quando ele vai embora, ele realmente está embarcando para a própria morte.  
Certamente essas associações não têm nada a ver com o juiz Sérgio Moro, reconhecidamente um homem honesto e sem qualquer mácula visível em sua carreira de juiz ou em sua vida pessoal. E vale lembrar que não foi ele quem mandou prender o Lula, mas sim um tribunal de desembargadores. As maledicências levantadas contra ele ficam por conta do despeito dos petistas, derrotados em uma eleição limpa e inquestionável. Portanto, ele não está agindo por venalidade, nem por motivações políticas, como querem seus detratores.
No entanto, ele está trocando uma carreira segura na magistratura por uma possível, mas incerta carreira na política, onde a sua honestidade, por mais que seja exercida na prática, poderá ser sempre contestada por algum adversário. É isso que nos leva a associá-lo ao mouro de Shiller e não as diatribes dos despeitados petistas.
Como o mouro do sonho de Freud, o nosso Moro acha que não é hora de pegar o chapéu e sair. Ele ainda não cumpriu totalmente o seu dever. Bom para ele e melhor para nós. Para seus inimigos isso pode ser indicativo de desonestidade. Mas o povo brasileiro está saudando tudo isso como um vento de salubridade.
E cá para nós, sem considerações freudianas, é de mais coincidências significativas como essas que o país está precisando.