JOÃO DORIA, UMA FRAUDE ELEITORAL?
João Doria venceu a eleição para prefeito de São Paulo no primeiro turno, em 2016, com mais de 3 milhões de votos. Foi um claro sinal de que, após tantos políticos usarem o cargo de prefeito da maior cidade da América do Sul para promoverem suas carreiras, abandonando promessas de campanha e, por vezes, dando excessiva importância a temas secundários (proibição de outdoors, abertura de ruas de lazer), tinha surgido alguém que, como o próprio Doria se intitulava, seria um gestor, um administrador e não um político carreirista, como seus antecessores.
O início foi promissor. Com seu Programa de Metas 2017 - 2020, prometia modernizar a cidade, fazer privatizações, reduzir o índice de mortes no trânsito, plantar 200 mil árvores e muitas outras coisas. Entre atitudes demagógicas, como unir-se a garis para varrer as ruas, fez também várias visitas-surpresa a hospitais e escolas, anotando reclamações e tomando decisões imediatas, o que, ao lado do Corujão da Saúde, fez sua popularidade atingir altos índices. Não faltaram também ações polêmicas. A maior delas foi a operação na “cracolândia” paulistana, em que afirmou com todas as letras: “a cracolândia acabou”. Pouco depois, talvez aconselhado por seu padrinho Geraldo Alckmin, disse que “o problema não será resolvido facilmente”. Um ano e meio depois, percebe-se que o resultado da operação foi pulverizar os usuários de drogas pela cidade. Com o passar do tempo, foi ficando nítido que suas pretensões eram outras e que a capital paulista não era sua prioridade. O “gestor” deu início a várias viagens (foram 43 nos 11 primeiros meses de sua gestão), não só pelo país como também pelo exterior, sendo homenageado por políticos locais e abandonando seguidamente suas obrigações na prefeitura. Embora afirmando pagar pessoalmente o custo das viagens, os secretários e seguranças que o acompanharam sempre tiveram as despesas pagas pelo contribuinte. Preterido por Alckmin para concorrer à presidência, acabou sendo escolhido pelo partido para disputar o governo estadual em 2018. E, contrariando tudo o que dissera antes, incluindo uma carta assinada em 2016, Doria renunciou ao cargo, deixando São Paulo nas mãos do vice Bruno Covas, um ilustre desconhecido para a maioria dos paulistanos. Com isso, lavou as mãos e deixou de ser cobrado pelas promessas não cumpridas, como as alardeadas concessões e privatizações (estádio do Pacaembu, autódromo de Interlagos, Anhembi, parques municipais) que até agora não saíram do papel. Com esta atitude do agora ex-prefeito, foi-se a esperança de termos um administrador comprometido com a cidade, cada vez mais suja, caótica e esburacada. Onde está a Cidade Linda? O centro, vitrine de qualquer cidade que se preze, é uma lixeira a céu aberto, desde que Luiza Erundina, há quase 30 anos, liberou a região para ser explorada por centenas de camelôs. Pontos tradicionais, como a praça da República, estão abandonados servindo de abrigo a drogados, ao mesmo tempo em que, sob o grotesco “Minhocão”, moradores de rua dormem em seus colchões, cercados pelo cheiro de urina e fezes. E o Programa Asfalto Novo, que mal começou e já foi paralisado em vários trechos, terá continuidade? Doria teria coragem de rodar com seu Porsche pela avenida do Estado, mesmo respeitando o limite de 50km/h (o que não é do seu feitio), desviando-se dos buracos e dos remendos mal feitos?
E com isso, mais uma vez, os eleitores paulistanos foram enganados e a ideia de se ter um administrador comprometido com a cidade e seus moradores foi postergada, em nome da ambição de quem acha que palavra e compromissos não precisam ser cumpridos. É voz corrente que políticos não costumam cumprir com a palavra. Certos “gestores”, também não.