Os arquivos da KGB no Oriente Médio: Palestinos à serviço da Mãe Rússia.

Documentos secretos da KGB revelam a profundidade das relações da URSS no derramamento de sangue do povo israelita. A agência de espionagem russa providenciou fundos, armas e treinamentos, agentes de execução como o “Krotov” (apelido do Mahmoud Abbas), “Aref” (Yasser Arafat) e o “Nacionalista” (a pessoa que estava por trás de vários sequestros de aviões executados antes do atentado do dia 11 de setembro), destinados às organizações terroristas como o Movimento de Libertação da Palestina.

O navio de reconhecimento soviético, Kursograf, estava acelerando pelas ondas, em uma noite sem lua em Março de 1970, fazendo a sua trajetória para um ponto de encontro. Duas semanas antes, o Marechal Dmitry Ustinov, naquela época era reconhecido como o Sênior de Defesa e posteriormente tornou-se o Ministro de Defesa da URSS, ordenou que o navio deixasse a sua missão de patrulha no Oceano Pacífico e, rapidamente, fizesse a sua trajetória para o porto militar de Vladivostok, com o objetivo de coletar várias caixas de carga e um passageiro.

A operação secreta recebeu o codinome “Vostok” (significa Leste em russo), a tripulação do navio recebeu a ordem de não fazer nenhum questionamento, não tinham o direito de abrir as caixas de carga, e a regra mais incisiva era evitar qualquer espécie de contato com o homem misterioso que estava a bordo do navio.

Grankin, de 35 anos de idade, estava trabalhando nesta operação sob a supervisão do presidente e chefe onipotente da KGB (serviço de inteligência russo) Yuri Andropov.

Quando o navio estava se aproximando de Aden, o Capitão recebeu as coordenadas para o encontro da meia-noite no coração do golfo, em algum lugar entre o Iêmen e a Somália. Por volta das 21 horas, o navio começou a desacelerar e as luzes apagaram-se. De repente, bem longe do local, uma luz piscante (repetitiva) surgiu e aos poucos a luz parecia chegar mais perto. Era uma lâmpada giratória de sinal vermelho, colocada no mastro de um barco de carga civil.

As duas embarcações trocaram uma série de acordos pré-estabelecidos por sinais, após o qual o navio descarregou as caixas de carga em barcos de borracha que fizeram o seu caminho para o navio civil. Após várias viagens de vai e volta, Grankin fez o seu percurso, também, para a segunda embarcação.

Ao embarcar no navio de carga civil, Grankin começou a abrir diversas caixas. Embora estivesse cercado por uma completa escuridão, ele averiguou o conteúdo das caixas, encontrou armas, metralhadoras, RPGs (granadas lançadas por foguete), granadas, rifles de precisão, e para fechar com chave de ouro, minas terrestres e bombas de beira de estrada com detonadores remotos.

Grankin virou-se para um homem de aparência do Oriente-Médio o qual estava de pé em um convés não tão distante dele, e sacudiu calorosamente a sua mão. O homem era conhecido pela KGB como “Nacionalista”, mas o seu nome verdadeiro ganhou muita notoriedade no Oeste: Era Wadi Haddad, o líder da Frente Popular para a Libertação da Palestina. Naquela época, ele era o mais abominável terrorista do mundo, acredita-se que ele estava no topo da lista Mossad (Agência de Inteligência Israelense) por mais de uma década.

A massiva expedição de armas, o qual incluía equipamentos sofisticados que nem os russos chegaram a providenciar aos membros do Pacto de Varsóvia, foi usado por Haddad em uma série de ataques terroristas, assassinatos e sequestros em todo o mundo.

Meio ano depois após o encontro feito no mar à tarde da noite, no dia 6 de Setembro de 1970, os terroristas armados (pelos equipamentos encontrados nas caixas) da Frente Popular para a Libertação da Palestina, sequestraram quatro aviões a jato com destino a Nova York e um destinado a Londres, o sequestro do avião EL AL Flight 219 de Amesterdão foi frustrado graças aos agentes do Shin Bet (Agência de Segurança de Israel), responsáveis por atirar e matar o terrorista Patrick Argüello e prender a sua parceira Leila Khaled. Dois outros sequestradores foram impedidos de embarcar naquele voo, em vez disso sequestraram o avião Pan Am Flight 93. Os quatro aviões voaram para a Jordânia, onde foram forçados a aterrissar no Campo de Dawson, uma pista de pouso desértica perto de Zarqa, anteriormente uma Força da Base Aérea Britânica.

31 anos antes do atentado terrorista do dia 11 de Setembro, Haddad conseguiu realizar um ataque que incluía sequestros simultâneos de aviões a jato. Este ataque foi um dos gatilhos (início) do grande confronto da Jordânia contra organizações terroristas – o período era conhecido como o Setembro Negro – e mudou o curso da história do Oriente Médio.

Posteriormente, os equipamentos russos usados para matar americanos no Líbano e israelitas na Europa e explodir reservatórios de óleo, também foram utilizados em uma tentativa de afundar um petroleiro israelense no Mar Vermelho e foram feitos para serem usados em um ataque planejado à larga escala contra Israel na Diamond Exchange (centro industrial de diamantes) em Ramat Gan (cidade de Israel). Várias das armas encontradas nessas caixas, também foram utilizadas no sequestro de um avião da Air France para Entebbe (cidade da Uganda) em junho de 1976.

Essa expedição é um ponto de conexão de uma longa cadeia de cooperação entre os serviços de inteligência dos blocos orientais, liderados pela KGB, e as organizações terroristas da Palestina.

Documentos confidenciais da KGB revelam que a agência de espionagem soviética cooperou com Haddad e seus algozes, providenciando treinamento, dinheiro e armas, da mesma forma que ajudou a preparação calculada dos ataques. Em outras instâncias, a própria KGB iniciou ataques que foram concretizados por Haddad e seus homens. E a organização terrorista de Haddad não foi a única que foi dirigida por Moscou.

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O Capítulo I de “Os arquivos da KGB no Oriente Médio”, traz uma série especial de informações claras e cristalinas exploradas de 6.000 GB de documentos contrabandeados para o Oeste em meados de 1990, recontando a história de como Vasili Mitrokhin usou a sua posição de Sênior do arquivo da agência de espionagem, tendo como meta a reprodução dos documentos secretos – sem o conhecimento das autoridades soviéticas.

Esses documentos ajudaram a expor 1.000 GB de informações sobre agentes em todos os pontos do mundo e descobrir inúmeras operações secretas de espionagem. Além do mais, dois livros foram publicados sobre eles, pelo Professor Christopher Andrew ao lado do próprio Mitrokhin. Todavia, apenas parte da informação que eles possuem chegou em Israel. De fato, muito deste vasto tesouro de informações a respeito das operações da KGB, no Estado Judaico, permanece em segredo.

Os documentos de Mitrokhin foram entregues há pouco tempo ao Colégio Churchill localizado em Cambridge. Nos últimos seis meses, nós estávamos examinando minuciosamente os arquivos, fazendo a tradução e traçando um cruzamento de referências com outros materiais e fontes disponíveis.

O primeiro capítulo desta série inclui uma lista de agentes que – de acordo com os arquivos de Mitrokhin – operavam em Israel. Entre eles, membros do Knesset (parlamento israelense), celebridades da mídia e notáveis engenheiros trabalhando em projetos delicados e oficiais que conseguiram se infiltrar nos escalões máximos da IDF (Força de Defesa Israelense).

Mas isso é apenas uma parte da história, como chegamos a investigar profundamente os arquivos que o Mitrokhin deixou para trás, nós descobrimos mais uma estratégia soviética que está sendo construída: Além de não estarem satisfeitos com a infiltração conduzida nos centros de administração israelense e pela coleta de dados da inteligência do estado judaico, a KGB forjou extensos laços de ligação com grupos terroristas palestinos, tendo uma grande cumplicidade (influência) nas suas ações. De fato, os documentos de Mitrokhin mostraram que a União Soviética travou uma espécie de “guerra das sombras” (Este termo define os conflitos da Guerra Fria, onde duas grandes nações – EUA e URSS – apoiavam pequenos países nas suas guerras civis, como por exemplo, a Guerra do Vietnã ou a Guerra da Coréia) com Israel e os EUA por anos, usando esses grupos terroristas como aliados.

Há muitos anos, o serviço de inteligência de Israel suspeitou pela colaboração entre soviéticos e grupos terroristas palestinos, mas era uma suspeita bem comum, que não foram baseados em dados confiáveis de inteligência. Os arquivos de Mitrokhin comprovaram o quanto era profundo a cooperação entre a URSS e a organização terrorista Palestina, e o custo pelo flagelo sangrento perpetuado em todo o mundo – e especialmente das vítimas israelenses.

QUEREMOS MÍSSEIS

A origem do desenvolvimento dos laços de ligação entre as organizações terroristas da Palestina e a KGB pode ser traçada nos finais da década de 1960. A agência de espionagem soviética usou codinomes para diferentes facções que compunham o Movimento de Libertação da Palestina: Fatah (organização político-militar) dirigida por Yasser Arafat era apelidada como “Kabinet” (gabinete), a Frente Popular para a Libertação da Palestina recebeu o nome de Khutor (significa “pequeno vilarejo” ou “fazenda” em russo), a Frente Democrática de Libertação da Palestina foi nomeada como Shkola (significa Escola em russo) e o Comando Geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina fundado por Ahmed Jibril foi apelidada como Blindage (uma estrutura militar de madeira fortificada).

O próprio Arafat recebeu o codinome “Aref”, mas os russos não estavam particularmente impressionados com ele no início. O arquivo de Mitrokhin inclui um memorial de notas: “Aref apenas manteve promessas que o beneficiavam. A informação que ele compartilha é cheia de lacunas (breve e incompleta) e apenas serve para promover os seus próprios interesses”. A KGB também questionou muitos detalhes biográficos que o Arafat forneceu – o seu passado como um soldado de combate, o local onde nasceu e muito mais. Além disto, a KGB indicou um oficial de ligação chamado Vasili Samoylenko, destinado a aperfeiçoar a imagem do líder do Fatah.

Nesse mesmo período, a KGB instalou um agente no escritório do Hani al-Hassan, um dos conselheiros próximos do Arafat, que mais tarde queria se transformar em um funcionário supremo da Autoridade Palestina. Este agente, de acordo com os documentos de Mitrokhin, recebeu o codinome de “Gidar”, era Rafat Abu Auon, o qual foi recrutado em 1968 e serviu para a KGB por muitos anos daí em diante.

Mas os interesses no Fatah e Arafat eram limitados por um ponto. Os russos estavam muito mais interessados nas outras facções do Movimento de Libertação da Palestina, particularmente na Frente Popular para a Libertação da Palestina de George Habash.

“Uma dessas razões era a ideologia marxista-leninista dos seguidores de Habash”, explica o professor Christopher Andrew, um dos maiores historiadores do mundo em pesquisas de serviços de inteligência, cujo segundo livro baseado nos documentos de Mitrokhin inclui um extenso capítulo sobre as atividades da KGB no Oriente-Médio.

Habash pode ter sido o mentor da FPLP, mas era o seu deputado; o Dr. Wadi Haddad – um cristão árabe de Safed e pediatra como o seu chefe – o qual tinha uma mente operacional brilhante (genial). Haddad melhorou a forma de terrorismo que ainda estava em sua etapa de criação – sequestrar aviões – e compreender o poder internacional de cobertura da mídia que tal ataque acarretava.

Ele (Haddad) foi o orientador do sequestro do avião El Al para a Argélia em Julho de 1968, o qual terminou com a libertação de passageiros em troca de 16 palestinos prisioneiros, a ação foi considerada pelos palestinos como um grande sucesso.

O mesmo foi o autor do sequestro do voo TWA Flight 840 de Tel-Aviv (antiga capital de Israel) para Damasco (capital da Síria) em Agosto de 1969, o qual nunca foi exibido pela cobertura da mídia. O sequestro terminou com a libertação dos passageiros e a prisão dos criminosos pelas autoridades da Síria, feito imediatamente após o desembarque do avião em Damasco, mas não antes que eles conseguissem explodir o avião vazio. Um dos sequestradores foi Haddad, era um dos protegidos da Leila Khaled, que também fazia parte de diversos ataques terroristas. Durante o voo para Damasco, Khaled entrou na cabine de piloto, colocou a arma na cabeça do capitão e ordenou que “ele voasse pela Haifa (cidade ao norte de Israel), sob a minha cidade, sob a Palestina – lugar para onde não querem que eu volte”.

De acordo com Yigal Pressler, o qual era o oficial supremo da Inteligência Armada, encarregado de identificar os alvos para assassinato, disse o seguinte: “Nós apelidamos Wadi Haddad como Carlos o Palestino” (fazendo uma paródia ao abominável terrorista venezuelano Carlos o Chacal). “Ele tinha a astúcia de uma cobra e era mortífero como uma. Nós vivíamos procurando por ele em todos os lugares”.

O serviço de inteligência de Israel lutou contra Haddad durante anos, mas os documentos do arquivo de Mitrokhin comprovaram que não se tratava de apenas um talentoso e diabólico palestino terrorista, mas era uma luta contra um maciço poder da KGB que estava por trás das suas ações.

Os russos estavam tão impressionados com as habilidades operacionais de Haddad, que logo após os sequestros desses aviões, a KGB decidiu fazer um bom uso desse talento mais uma vez.

No entanto, os arquivos de Mitrokhin não especificam a data exata do recrutamento de Haddad, mas no final do ano de 1969, o chefe da KGB Yuri Andropov escreveu um relatório secreto, dedicado ao líder da URSS Brejnev, informando sobre o recrutamento do agente Haddad e o uso do apelido “Nacionalista”.

Andropov detalhou ao seu chefe as vantagens do novo empreendimento da inteligência: “A natureza das nossas relações com o Wadi Haddad nos fornece um grau de controle sobre as atividades da seção de operações externas (sabotagem e terrorismo) da Frente Popular de Libertação da Palestina, tendo em vista, o exercício de uma influência favorável à URSS, e também, por almejar objetivos próprios, através das atividades da FPLP, enquanto observa o sigilo necessário”.

Contudo, Andropov descreveu o gênero de operação que o Haddad poderia realizar em prol dos interesses da URSS, classificando elas como “medidas ativas”. De acordo com o conjunto de léxicos (linguajar, códigos e apelidos) internos da KGB – também incluídos nos documentos de Mitrokhin, “medidas ativas” eram “operações encarregadas por agentes ou combatentes, com o intuito... De solucionar conflitos internacionais, iludir rivais, enfraquecer o status do inimigo e perturbar a sua chance de desmascarar os planos soviéticos”.

Em outras palavras, Andropov estava dizendo ao seu líder (Brejnev) que ao fazer o uso eficiente do agente “Nacionalista”, a KGB estaria disposta a executar suas próprias operações, encarregadas por Haddad e seus seguidores, sem deixar para trás impressões digitais que destacassem a conexão entre a FPLP e a inteligência soviética.

Certamente, Haddad tinha os seus próprios interesses que o levaram a cooperar com a KGB. Depois da Guerra dos seis dias, ele (Andropov) e Haddad chegaram na seguinte conclusão: Somente uma onda de ataques terroristas são capazes de ferir o Estado de Israel e trazer o problema da Palestina para o topo da agenda mundial. Mas para tomar conta desses ataques, era necessário adquirir mais armas, patrocínio, treinamento e suporte logístico – tudo isso era fornecido pela KGB.

No início de Julho de 1970, Brejnev deu ordens à KGB, objetivando o fornecimento de dinheiro e RPG-7 à Haddad e seus seguidores. Mas Haddad tinha expectativas muito maiores, ele conversou com os seus contatos da KGB e pediu mísseis superfície-ar (um míssil projetado para ser lançado a partir de plataformas de superfície para atingir aeronaves), minas terrestres, bombas de beira de estrada com detonadores remotos, bombas relógio, silenciadores, minas navais e treinamento militar.

A KGB notou que “tudo que estava inserido na lista de pedidos de Haddad estava disponível no Depósito de Armas do Departamento V, exceto os mísseis de superfície-ar”, mas a maioria dessas armas “nunca foram fornecidas fora das fronteiras da URSS”.

Apesar disso, Moscou decidiu cumprir todos os desejos de Haddad – exceto o pedido dos mísseis de superfície-ar, porque esse equipamento não estava disponível no inventário – este fato marcou o início da Operação Vostok. Qualquer marca/sinal que fizesse referência à URSS foi removido dos equipamentos, mas alguns equipamentos foram deliberadamente fornecidos por potências ocidentais, tais como: Alemanha Ocidental, Rifles americanos e silenciadores britânicos.

Os explosivos de detonação por controle remoto modelo Snop “têm uma vida útil de um ano e meio, a detonação remota em áreas urbanas de até 2km, e em áreas abertas de até 15-20km”. As minas de fusão longa podem ser calibradas para detonar em qualquer lugar entre 15 à 144 minutos após ter sido implantada.

Nesta época Haddad estava morando em Beirute (capital do Líbano), o contato com a KGB foi feito através da estação libanesa localizada nesta capital, os encontros eram comumente feitos na clandestinidade e em locais secretos, Haddad buscou manter isso em completo segredo – nem o seu chefe George Habash obteve a informação. O trabalho do Haddad foi relativamente eficaz, todavia, os israelitas entraram em cena.

O serviço de inteligência israelita (Mossad) localizou um dos locais secretos do Haddad, em um apartamento na Rua Muhi A-Din al-Hayat 8 em Beirute. Na noite de Julho do dia 10 de 1970, os comandos navais israelitas desembarcaram na praia de Beirute em barcos de borracha para entregar lançadores de mísseis RPG aos agentes da unidade de assassinatos do Mossad em Cesareia (cidade portuária de Israel). Os operadores da Mossad alugaram um apartamento de vista à janela do Haddad, onde eles dispararam dois mísseis RPG na sala de estar no dia seguinte.

“Havia dois quartos no apartamento”, diz Mike Harari, o comandante da Divisão Cesareia, na nossa última entrevista, antes de ter falecido...

“Um foi usado como uma sala de estar, no outro quarto estava a esposa de Haddad e a sua filha”, Harari recontou. Golda Meir (Primeira-Ministra do Estado de Israel naquela época), nos ordenou que nenhum fio de cabelo de gente inocente fosse tocado, de outra forma (sem o aviso dela) eu teria derrubado todo o andar.

O operador do Mossad viu o Haddad na sala de estar e apontou o míssil na direção do terrorista, definiu o temporizador, e atirou. Um momento antes, o míssil foi disparado, o terrorista moveu-se para o outro quarto e sobreviveu.

COMPORTAMENTO HOSTIL

Notícias de tentativas de assassinato em Beirute chegaram aos ouvidos de Brejnev – uma reflexão sobre o quanto era importante o incidente para os russos – e aumentou o valor do Haddad para os olhos da KGB.

Em seguida, a KGB decidiu usar o Haddad para fazer operações mais complexas: capturar o mentor da CIA e levá-lo para a estação de Beirute e posteriormente, entregá-lo para Moscou para fazer um interrogatório: “Isso permitirá a obtenção de incríveis informações a respeito da inteligência americana e seus respectivos planos e operações no Oriente-Médio,” Andropov escreveu esse recado para Brejnev.

O Chefe da administração da CIA era descrito da seguinte forma: “Nascido em Denver, Colorado, 1918. Guarda pensamentos hostis contra a URSS e a ideologia comunista. Faz operações contra as instituições soviéticas e suas missões diplomáticas. Opera contra o povo soviético”.

Andropov prometeu à Brejnev que ninguém suspeitaria que a KGB estivesse por trás deste rapto porque: “Recentemente, as organizações terroristas da Palestina aumentaram o seu foco guerrilheiro contra alvos americanos, combatentes e agentes (ocidentais). Os governos do Líbano e da América vão suspeitar que os palestinos sejam os autores do sequestro”.

No dia 5 de Maio de 1970, Brejnev iniciou a Operação Vint (parafuso) que estava a caminho de ganhar vida.

Os documentos de Mitrokhin destacaram relatórios de vigilância do chefe da CIA: “Ele vive no quarto andar entre os apartamentos 168-174 do Boulevard Ramlet El Baida. Ele tem um carro Mercury Comet, placa de licença diplomática com o registro 104/115, cor azul claro”. O relatório menciona que ele tinha um cachorro: “Ele tem um poodle preto, ele gosta de caminhar sozinho”.

O esquema cronológico da operação seguia esse procedimento: “Esfregar/apertar um trapo com substâncias químicas na boca e nariz para fazê-lo perder a consciência por três ou cinco minutos. Durante esse tempo, nós vamos injetar um tranquilizante”. De acordo com os doutores da KGB que forneceram o tranquilizante/sedativo: “Após um tempo, a consciência dele retornará, ele conseguirá sentar e entender o que está acontecendo, mas não será capaz de resistir”.

Depois de sequestrar o mentor da CIA, o procedimento da operação continua, “ele deverá ser levado para a área de Balbeque (um sítio arqueológico existente no Líbano), onde será contrabandeado para a Síria em uma instalação segura da KGB e enviado para uma área em Zabadani (uma cidade localizada no sudoeste da Síria)”. “Lá, sofrerá um duro interrogatório, durante o qual ele deverá expor informações sobre a inteligência americana”. “A ideia principal é que ele possa entender a respeito da impossibilidade de retornar ao seu país (porque ele revelou informações confidenciais), a única opção restante seria escolher um asilo político em um dos países-satélites socialistas”. Se o mentor da CIA mantiver o seu silêncio, a operação gasta poucas palavras para descrever o que deve ser feito: “Nesse caso, ele deverá ser morto”.

A operação de sequestro nunca saiu do papel. O mentor da CIA desconfiou que estivesse sendo seguido e assim sendo, aumentou a sua segurança particular.

Outros americanos não tiveram a mesma sorte: Em Agosto de 1970, uma operação conjunta entre Haddad e a KGB dirigiram o sequestro do Professor Hani Korda, um acadêmico americano que era considerado suspeito pelo serviço da KGB (suspeita errada) por ter laços de ligação com a CIA. O Professor Korda foi contrabandeado do Líbano para uma base da Frente Popular da Libertação da Palestina na Jordânia, lá ele foi torturado, mas recusou a admitir que estivesse “trabalhando” ao lado da inteligência americana, eventualmente foi libertado.

Dois meses depois, os seguidores de Haddad sequestraram Aredis Derounian, um homem nascido na Armênia e tratado popularmente como um jornalista americano (naturalizado). Ele também foi suspeito de colaborar com a CIA. De acordo com os documentos de Mitrokhin, os seguidores de Haddad encontraram dois passaportes e uma significante quantidade de documentos no apartamento do Derounian em Beirute. Os documentos foram entregues nas mãos dos inspetores da KGB para fazer uma checagem, enquanto Derounian estava encarcerado em um campo de refugiados em Trípoli (cidade do Líbano). Ele chegou a ser interrogado, mas conseguiu escapar dos seus capturadores e foi encontrado em um abrigo na Embaixada dos EUA em Beirute.

E não foi apenas com Haddad que os americanos tiveram que se preocupar. A KGB também recrutou o seu seguidor terrorista da FPLP chamado Abu Ahmed Yunis, A KGB apelidou ele como “Tarshikh” e contratou ele como um agente pago.

Em 1976, Yunis comandou uma operação destinada a matar o embaixador de Beirute, Francis E. Meloy Junior, a operação em si não é mencionada nos arquivos de Mitrokhin, mas não é difícil de imaginar que ela não teria sido articulada sem o conhecimento da KGB. O assassinato pode até ter sido ordenado pelos soviéticos.

No geral, a KGB estava muito agradecida com Haddad e seus seguidores: “Pelo o que parece, vale a pena usar o agente Nacionalista (Haddad) e seus seguidores para tomar conta de operações agressivas contra o Estado de Israel”. Um alto funcionário da KGB escreveu essa anotação para Yuri Andropov.

Pouco tempo depois, Haddad e Yunis em cooperação com a KGB, montaram um ataque terrorista contra os oficiais da El Al (companhia aérea de Israel) no Aeroporto de Atenas no dia 19 de Julho de 1973. Eles continuaram a praticar múltiplos ataques terroristas em ocasiões separadas que incluíam o bombardeio de instituições israelenses, a explosão de um gasoduto americano e o sequestro de um avião a jato, o qual eles explodiram após a remoção dos passageiros.

FODEDORES DE CAMELOS (Termo depreciativo que associa o islamismo à prática da zoofilia).

Por meio da KGB, Haddad criou ligações próximas com a Stasi (agência de inteligência secreta da Alemanha Oriental). Externamente, os alemães eram bem éticos e tratavam educadamente o Haddad e o seu bando, mas internamente, os alemães não escondiam os seus sentimentos racistas e desprezo pelos palestinos, os alemães classificavam os palestinos como “fodedores de camelos”.

Mesmo assim, a Stasi proveu treinamento militar e equipamento bélicos para o Movimento da Palestina e outras coisas, ajudaram a preparar a “Operação Nasos”, a qual foi planejada por Haddad e a KGB no decurso de vários meses.

Essa foi a primeira operação naval do Movimento da Palestina – um plano audacioso que objetivava o disparo de mísseis RPG nos navios-tanques israelitas que estavam transportando secretamente petróleo do Irã para Israel.

Para a KGB existia um grande valor nesta operação: Acertar um alvo israelense importante e expor o conluio secreto da troca de petróleo entre o Estado de Israel e o Irã, cujo governante Mohammad Reza Pahlavi (Xá do Irã), adotou um discurso pró-ocidente naquela época. Tudo isso chegou a ser concretizado sem deixar para trás um pequeno traço do envolvimento soviético, um movimento clássico da “guerra das sombras”.

O alvo selecionado foi o navio-tanque petroleiro Coral Sea, o qual estava navegando usando uma bandeira da Libéria, seguindo o percurso do Irã para Eilat (cidade do extremo sul de Israel). No dia 11 de Junho de 1971, dois seguidores destacados de Haddad partiram de navio pela costa sul do Iêmen em direção ao petroleiro, ambos usavam uma lancha. Os soviéticos apelidaram os dois homens com codinomes poéticos “Chuk” e “Gek”, os nomes simbolizam duas crianças russas que fazem parte da história da URSS, qualquer pessoa que nasceu na Rússia conhece essa história.

No estreito de Babelmândebe (é o estreito que separa os continentes da Ásia e África), eles localizam um navio-tanque (israelense) como a KGB havia planejado... De manhã cedo, os terroristas aproximaram-se do navio-tanque e dispararam diversos mísseis, cinco mísseis acertaram o alvo. Quando eles avistaram as chamas saindo do convés, eles concluíram que a missão foi cumprida com sucesso e rapidamente saíram do lugar, voltando ao Iêmen onde Haddad estava esperando.

Uma declaração da FPLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina) disse o seguinte a respeito do ataque: “Os mísseis atingiram o navio-tanque em dois lugares, o petróleo pegou fogo e o navio-tanque imediatamente parou, consequentemente, ele começou a afundar”.

Mas a celebração antecipada de Haddad durou por pouco tempo, o navio-tanque pode ter inflamado, mas foi graças à rápida ação corajosa do capitão Marcus Mouskus e dos seus marinheiros que conseguiram apagar o fogo, salvar o tanque-navio e resguardarem as suas vidas.

A ação corajosa do Capitão Marcus Mouskus possibilitou a conquista da Medalha de Serviço Distinto (condecoração militar entregue a qualquer pessoa que, em qualquer competência no exército, tenha se distinguido por um serviço meritório excepcional para o governo em um dever de grande responsabilidade) pelo governo Israelense, fazendo dele o primeiro cidadão não israelense (continua sendo o único até o momento) recebedor de algo tão honroso.

Apesar do navio-tanque não ter afundado, Haddad foi gratificado com grandeza pela popularidade internacional devido à ousadia do seu ataque feito no mar, permitindo que ele pedisse mais armas e equipamentos para fazer mais ataques nos próximos anos contra Israel e outros alvos ocidentais. Alguns desses ataques terroristas foram efetuados, enquanto outros foram impedidos pelo Serviço de Inteligência Mossad, o qual tinha uma fonte (espião) de informações infiltrada dentro do Movimento de Libertação da Palestina, naquele período.

A KGB também ajudou um dos operadores principais de Haddad, Taysir Quba'a (recebeu o codinome “Kim”), a entrar em contato com membros de partidos de extrema-esquerda na Europa Ocidental – incluindo as Brigadas Vermelhas na Itália e a Fração do Exército Vermelho na Alemanha Ocidental – assim ele poderia recrutar esses membros para articular novas operações. Com a ajuda dos terroristas alemães, a FPLP tentou derrubar um avião El Al em Nairóbi (capital do Quênia) em Janeiro de 1976 e com sucesso apreenderam e desviaram um avião da Air France, o qual levava judeus e passageiros israelenses para Entebbe (capital da antiga Uganda) em Junho daquele ano, dentre outros ataques.

Em troca dos embarques de armas (equipamento bélico transportado pelos navios, como por exemplo, o evento que foi citado no início deste artigo), entregues ao agente Nacionalista pela KGB, Haddad concordou em tomar conta dos assassinatos dos “traidores da Mãe Rússia” – perseguir desertores da URSS – e o próprio Haddad chegou a visitar Moscou inúmeras vezes, com o intuito de programar essas operações.

Durante esse tempo, especificamente na segunda metade do ano de 1970, diversos seguidores e homens de Haddad viajaram para a URSS, receberam treinamentos especializados da KGB. Eles foram treinados em diferentes áreas do serviço de inteligência, contra-inteligência, interrogatórios, vigilância, técnicas de sabotagem, treino para a condução de armas e mísseis, etc. É bem difícil deduzir a quantidade de sangue de vítimas israelenses que foram mortas devido à contribuição desse treinamento clandestino.

A cooperação íntima entre Haddad e o serviço de inteligência soviético continuou até meados de 1978, quando ele foi envenenado pelo Serviço Israelita Mossad. Os doutores de Bagdá (capital do Iraque) ficaram desamparados pelo estado de saúde de Haddad, Arafat entrou em contato com a KGB para pedir ajuda. A agência de espionagem soviética hospitalizou o terrorista Haddad, no entanto, utilizaram uma identidade falsa e internaram-no em um hospital localizado na Berlim Oriental, mas apesar dos esforços feitos pelos melhores doutores da Stasi, Haddad morreu, em intensa agonia, no dia 29 de Março de 1978.

Expandindo o vínculo entre a KGB e o Movimento de Libertação da Palestina

A KGB pode ter perdido um dos seus melhores agentes palestinos, mas nessa altura do campeonato, a Rússia conseguiu entrincheirar os laços com outras organizações palestinas. Segundo os documentos de Mitrokhin, a KGB auxiliou o terrorista Nayef Hawatmeh (o sujeito recebeu o codinome “Inzhener”, o apelido significa engenheiro em russo), Nayef era o líder da Frente Democrática para a Libertação da Palestina e usou o jornal do seu movimento – intitulado al-Hurriya – para compartilhar mensagens e propagandas criadas pelo serviço da KGB.

O agente Ahmed Jibril (recebeu o codinome “Mayorov”) era a cabeça da Frente Popular para a Libertação da Palestina – ocupava a posição do Comando Geral (PFLP-GC). Além disso, ele recebeu suporte diretamente de Moscou através da Direção de Inteligência da Força Aérea da Síria, coordenada pelo General Ali Duba, sob cuja asa Jibril operava (braço direito). Os seguidores de Jibril colaboravam com a KGB, vale citar como exemplo, a coleta de dados de inteligência em diferentes países ocidentais e países do terceiro mundo, os quais a agência de inteligência soviética tinha dificuldade para se infiltrar e pegar informações.

Laços especiais foram forjados entre a KGB e o Setor Ocidental – a unidade do Fatah estava sob o comando de Khalil al-Wazir (Abu Jihad), o qual foi o autor do ataque terrorista no Hotel Savoy em 1975 e o massacre na Estrada Coastal em 1978 (foi um ataque envolvendo o sequestro de um ônibus na Estrada Costeira de Israel, no qual 38 civis israelenses, incluindo 13 crianças, foram mortos e 71 ficaram feridos. O ataque foi planejado por Abu Jihad e realizado pela facção Fatah da OLP), além de outros transtornos. O Arquivo de Mitrokhin apenas alcança a data de 1986, mas outras fontes indicam que o contato entre Abu Jihad e a KGB prologaram-se até o seu falecimento (morto pelo Serviço Mossad) em 1988.

Em 1973, a KGB decidiu mudar as suas atitudes em relação à Yasser Arafat e a sua facção Fatah devido ao fortalecimento das organizações palestinas e o seu destaque no cenário internacional. O sistema operacional de inteligência da KGB e o Movimento de Libertação da Palestina chegaram a ser dirigidos pelo Salah Khalaf (Abu Iyad), o qual foi o autor de diversas investidas terroristas contra o Estado de Israel.

Abu Iyad usava o codinome “Kochubey”, recebia uma quantidade significativa de armas, dados de inteligência, assistência e treinamento para os seus seguidores, os recursos eram disponibilizados pela KGB. Em troca, a KGB fazia a direção das operações da unidade Fatah e recebia informações sobre o Egito, Arábia Saudita e Argélia. Em outras palavras, o Fatah espionava as nações árabes para a KGB.

Abu Iyad era muito importante para o serviço da KGB, todavia, os seus homens não recebiam o mesmo tratamento. Os especialistas da KGB que, treinaram os membros do Fatah em Moscou, detectaram muitas dificuldades e problemas nos seus cadetes, os especialistas denunciaram “padrões baixos de conduta, alcoolismo e degeneração sexual” e essas queixas foram entregues às entidades superiores.

Dos 194 homens do Fatah que foram enviados para treinar em Moscou, 13 foram expulsos e voltaram para suas casas. De acordo com um alto funcionário da Academia da KGB, o número de cadetes expulsos teria sido maior se eles tivessem sido obrigados a executar o mesmo padrão de treinamento dos cadetes comuns.

Infiltração no Mukata (centros administrativos britânicos).

Dois dos melhores agentes palestinos contratados pela KGB durante a segunda metade da década de 1970 são pessoas que ainda estão participando das disputadas políticas recentes.

De acordo com o arquivo de Mitrokhin, a KGB tinha um agente dentro do núcleo do Movimento de Libertação da Palestina, o qual ela descreve: “Um membro do comitê executivo do Movimento de Libertação da Palestina e um membro do comitê da Frente Democrática para a Libertação da Palestina”. Não era ninguém menos do que Yasser Abed Rabbo, um dos oficiais mais importantes da autoridade Palestina, Yasser ocupou vários cargos importantes dentro da organização Palestina, era o cabeça das relações comunicativas com Israel e foi o arquiteto do Acordo de Genebra (é um projeto que visa o encerramento dos conflitos árabe-israelenses através de medidas oficiais e internacionais).

Quando Mahmoud Abbas foi eleito, ele decidiu demitir Abed Rabbo do comitê. Mas Abed Rabbo ocupou o cargo de assessor do presidente palestino.

Na maioria das vezes, os documentos de Mitrokhin não mencionam os detalhes a respeito das informações que os agentes da KGB compartilhavam, entretanto, somente declara o fato deles possuírem ligações com o serviço de inteligência russo. No entanto, é interessante notar a forma como Abed Rabbo era citado nos documentos – ele era apelidado como “informante”, um cargo inferior ao “agente” na classificação de importância da KGB. Isso significa que o contato com a KGB era feito sem o prévio conhecimento da sua organização palestina.

O segundo e mais importante recruta da KGB era o agente “Krotov” (toupeira), o qual foi descrito pelos arquivos da KGB da seguinte forma: “nasceu em 1935, palestino, figura importante nos assuntos políticos e sociais. Vive na Síria e é membro do Conselho Central do Movimento de Libertação da Palestina”.

Como foi noticiado no Channel 1 (Nas frequências norte-americanas de televisão, o canal 1 é um antigo canal de televisão de transmissão), tendo como fonte as pesquisas conduzidas por Isabella Ginor e Gideon Remez, o agente Krotov representa o senhor Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina.

O Arquivo de Mitrokhin, o qual forneceu muitas informações coletadas do serviço de inteligência israelita, trouxe muitos detalhes sobre o agente Krotov.

A KGB foi a responsável pelo recrutamento de Mahmoud Abbas, o primeiro estágio do recrutamento começou em meados de 1979, quando Abbas foi para Moscou e estudou na Universidade Russa da Amizade dos Povos. Ao descrever os seus contatos iniciais, os arquivos da KGB informam o seguinte: “Ainda não está claro se o indivíduo quer cooperar conosco”.

A Universidade declarou que o seu objetivo era ajudar as pessoas do Terceiro Mundo e do continente africano, tendo como meta a obtenção de uma educação de qualidade – enquanto a influência do comunismo soviético é amplamente divulgada internacionalmente. Mas a universidade tinha outras intenções também. Entre outras coisas, a KGB – controlava o campus universitário – e recrutava os seus agentes nesta Universidade.

Todavia, Abbas já havia se formado na Faculdade de Direito de Damasco e foi aceito para estudar em Moscou para ganhar o título de Doutorado em Ciências, o título tem a mesma equivalência de um Doutorado em Filosofia das faculdades ocidentais.

O presidente da Universidade naquele período era Yevgeny Primakov, o qual tinha ligações próximas com a KGB. Mais tarde, ele se tornou na cabeça central da Primeira Diretoria Principal da KGB e colaborou para a transição da KGB aos moldes do novo governo federativo russo, assim a KGB mudou o seu nome para Serviço de Inteligência Estrangeiro (dedicada a tomar conta de assuntos civis). Ele serviu como ministro das relações estrangeiras e mais tarde continuou ocupando o cargo de primeiro-ministro.

Como presidente da Universidade, Primakov indicou o seu expert em assuntos do Oriente-Médio, o professor Vladimir Ivanovich Kiselev, como orientador do Doutorado do líder do Movimento da Palestina (Mahmoud Abbas). A tese de doutorado de Abbas recebeu o título: “O outro lado: A relação secreta entre Sionismo e Nazismo”. A tese era uma piada cheia de mentiras descaradas. Encontram-se sentenças que negam o genocídio do Holocausto e faz acusações dizendo que os sionistas “ajudaram” o Hitler – a tese foi finalizada em 1982 e publicada como um livro dois anos depois.

Nesse período, Abbas retornou para o Líbano e usou o diretório de arquivos do Movimento de Libertação da Palestina para disseminar propaganda soviética feita pela KGB e a Stasi, a qual denunciava o “Imperialismo Ocidental e o Sionismo” por terem ajudado os nazistas. Isso fazia parte da campanha de propaganda dirigida pela KGB, o propósito dela era criar uma conexão entre elementos antissoviéticos e o nazismo – o símbolo supremo da maldade (na visão da ideologia esquerdista).

O material da propaganda foi apreendido em uma incursão militar do Serviço de Inteligência de Israel em Beirute, onde estavam os materiais, documentos e arquivos do Movimento de Libertação da Palestina. Esse fato constitui mais uma evidência atestando a conexão entre o Fatah, Mahmoud Abbas e o serviço de inteligência soviético.

As conexões entre Abbas e o serviço de inteligência soviético continuaram crescendo, um relatório interno da KGB notou de forma concisa o desenvolvimento desta parceria: “Krotov é um agente da KGB”. (confirmação). De acordo com as definições da KGB, aqueles que atingem o nível de “agente” são considerados da seguinte forma: “Estão aptos sistematicamente, consistentemente e secretamente para realizar missões de inteligência, enquanto mantenham um contato sigiloso com um funcionário da agência”. Em outras palavras, de acordo com os documentos da KGB, Abbas foi autorizado a cumprir o papel de espião dentro do Movimento de Libertação da Palestina.

Yedioth Ahronoth (jornal diário israelense) foi impossibilitado de obter respostas dos representantes palestinos Mahmoud Abbas e Yasser Abed Rabbo na época que essa descoberta foi publicada (em meados de setembro de 2016).

Contudo, um ex-funcionário importante do Fatah entrou em contato conosco de forma anônima, dizendo que: “Mahmoud Abbas não era um agente da KGB, no sentido dele ter feito ações contra os interesses do Fatah, mas confirmou dizendo que ele recebeu ordens de Yasser Arafat para coordenar a transferência de armas produzidas pela URSS e entregá-las para os terroristas da Palestina”. O funcionário não nega as relações soviéticas com os membros da Palestina. O funcionário revelou mais uma informação: “Os serviços de inteligência da URSS colaboraram de forma significativa pela luta de independência da Palestina”.

ANEXO

KARL MARX: O ANTISSEMITISMO NO SÉCULO XXI E SUAS RAÍZES

A bibliografia histórica presente nas escolas e faculdades atuais, geralmente não mencionam o fato de o antissemitismo ter sido uma criação muito antiga, este ódio não surgiu em meados da Segunda Guerra Mundial e do temperamento irracional de Hitler e sua ideologia nefasta.

Por incrível que pareça, um dos primeiros precursores do antissemitismo foi o “judeu” Karl Marx, conhecido popularmente pelos seus estudos socialistas e a criação do comunismo científico, todavia, a sua história no passado é pouco conhecida, ele chegou a escrever um livro intitulado “Sobre a Questão Judaica”, publicado em 1844.

Apesar de o filósofo carregar a origem semita, Karl Marx desprezava a sua fé, ele preferiu seguir o ateísmo e desacreditar em qualquer espécie de culto religioso, verdades absolutas e divindades, o maior exemplo disto é o fato da sua ideologia ter perseguido cristãos, budistas, xintoístas e muçulmanos no mundo inteiro; Karl Marx disse que o povo judeu era ganancioso, passavam o tempo todo endeusando as moedas e cultuavam a luxúria do Bezerro de Ouro.

Usarei os textos do autor para viabilizar a sua visão antissemita:

“Qual é a religião mundana do judeu? Huckstering. Qual é o seu Deus mundano? Dinheiro. […] O dinheiro é o deus ciumento de Israel, diante do qual nenhum outro deus pode existir”.

“O dinheiro degrada todos os deuses do homem – e os transforma em mercadoria. […] A cédula de dinheiro é o verdadeiro deus dos judeus. Seu deus é apenas uma moeda ilusória. […] A nacionalidade quimérica do judeu é a de um comerciante, um homem do dinheiro no geral”.

“Em última análise, a emancipação dos judeus é a libertação da humanidade do judaísmo” (Qual seria a melhor interpretação desta frase? A de que o Karl Marx queria que o povo judeu abandonasse a sua fé ou eliminar o povo judeu – usando a força – da Terra?).

Vale a pena frisar a construção do mito da Dominação Mundial Judaica impulsionado em meados do século XX, este mito foi extremamente importante para o massacre do Holocausto (feito por nazistas) e as políticas Anti-Sionista (feita pela URSS).

A monarquia russa de Nicolau II (membro da família Romanov) acreditava piamente nas maquinações maquiavélicas do povo judeu, Nicolau II criou campos de concentração para punir judeus suspeitos de golpear e sabotar a Rússia, o Rei usou como fundamento o pequeno livro Os Protocolos dos Sábios de Sião, uma das maiores farsas da humanidade.

Esses protocolos são baseados em duas obras de ficção com conteúdo antissemita, a primeira obra é o Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu e o romance No Cemitério de Praga escrito por Biarritz, ambas as obras criam um tema sombrio, ilustrando o povo judeu como os Donos do Mundo, controladores de uma sociedade secreta oligárquica, interessados em acabar com as soberanias nacionais, criar bancos centrais, prostituir o nível da arte, corromper a juventude e sobrecarregar o mundo com taxas de juros.

Leia algumas citações da edição brasileiro do livro Os Protocolos dos Sábios de Sião, desta maneira fica mais fácil compreender como funcionava o pânico antissemita do século XX:

“A imprensa nos será uma boa ferramenta para oferecer aos homens tantas opiniões diferentes que eles perderão qualquer visão global e se perderão no labirinto das informações. [...]

[...] Assim, eles chegarão à conclusão que o melhor é não ter opinião (política).”

"Vemos, na economia mundial, que se defrontam, não só a oferta e a procura paralisadas, sem esperança de se tornarem a equilibrar; mas também, dum lado, os camponeses empobrecidos, incapazes de adquirir objetos manufaturados, máquinas e utensílios; do outro, as massas operárias tão empobrecidas que não podem mais satisfazer suas necessidades indiretas de matérias primas. Tanto menos o camponês compra trabalho quanto mais a produção da indústria diminui, aumentando o número de fábricas fechadas e de desempregados, e os operários compram em menor quantidade de pão ao camponês. E o ciclo recomeça... O sistema está num beco sem saída. Os depósitos, as salas das fábricas sem vida, os exércitos de desempregados crescerão ainda, incharão e chegaremos a morte pelo congelamento da economia mundial..."

“Dum ponto de vista elevado, pode-se, com justiça, falar da judaização das sociedades contemporâneas e da cultura moderna. Estamos dominados por princípios ético-econômicos saídos do judaísmo, e o espírito de revolta que agita o mundo o inclinará ainda a se enterrar mais nesse sentido.”

Antes de a Segunda Guerra Mundial começar, Hitler e Stalin nutriam o ódio antissemita, Hitler usou a Gestapo para sequestrar e enjaular judeus, Stalin ordenou a morte de Trotsky e condenou a IV-Internacional, além deste fato, houve o pacto secreto nomeado “Pacto Ribbentrop-Molotov” feito entre a Alemanha e a URSS, destinado a fazer uma troca de materiais bélicos, minérios, instrumentos de tortura e alimentos; a imprensa da URSS alardeou o mito do Complô dos Médios Judeus dentro da Nomenklatura soviética, dizendo que agentes americanos e sionistas tinham assassinado membros do Partido Comunista, todavia, o processo foi arquivado após a morte do ditador Stalin, devido a ausência de provas factuais.

Nos períodos da década de 1964-1982 durante o governo de Brejnev na URSS, ocorreu o movimento judaico Let My People Go! (Deixe o meu povo ir!), a reivindicação da causa era pedir a saída dos semitas da URSS e a emigração para o Estado de Israel, pois os judeus queriam obter melhores condições de vida, emprego, educação e saúde, pois eles sofriam um tratamento racista da Rússia, eram escarnecidos como “parasitas” e “sionistas subversivos”, no entanto, os vistos eram negados e a KGB enviava os judeus para prisões na Sibéria.

Anatoli Charanski e Yossif Begun foram dois judeus importantíssimos que sofreram as punições do totalitarismo soviético, Anatoli permaneceu 7 anos na prisão e passou 5 anos executando trabalhos forçados em 1977, Yossif Begun foi condenado a executar 7 anos de trabalhos forçados em um exílio devido a “agitação e propaganda antissoviética” e “violação da regulamentação de passaportes”, estes senhores foram os porta-vozes do movimento de emigração judaico.

Em 29 de março de 1983 o Kremlin da URSS aprovou a criação do Comitê Antissionista Soviético, reunindo cientistas, escritores, artistas e jornalistas socialistas, dedicado a denunciar a violação de “direitos humanos” dos membros do Movimento de Libertação da Palestina criado em 1959, o Comitê comparou o Estado de Israel com as políticas raciais virulentas do Regime Nazista de Hitler, eis o manifesto do programa:

"Pela sua natureza, o sionismo concentra o ultranacionalismo, chauvinismo e intolerância racial, inventa desculpas para fazer ocupações territoriais, oportunismo militar, valoriza políticas promiscuas e irresponsáveis, demagogia e desvios ideológicos, táticas sujas e desleais”.

Um dos períodos mais marcantes da Guerra Fria foi as guerras árabes-israelenses, sabe-se muito bem da presença do agente da KGB Yuri Andropov neste conflito, a URSS estava apoiando o radicalismo islâmico e queriam acabar com a “política sionista” de Israel, Yuri Andropov forneceu armas e equipamentos de defesas para os muçulmanos, aliás, traduziu cópias do livro Os Protocolos dos Sábios de Sião para o idioma árabe; existem documentos russos de 1991 esclarecendo o contato de Yasser Arafat e Mahmoud Abbas com o serviço de inteligência secreto da KGB, o grupo da Palestina aprendeu técnicas de guerrilha e instrução ideológica de milícias soviéticas.

Atualmente, o Movimento de Libertação da Palestina continua persistindo no Oriente-Médio, eles usam pipas incendiárias, armas de fogo e explosivos para ameaçar a integridade territorial de Israel, neste ano o presidente dos EUA Donald Trump cortou o orçamento deste grupo terrorista, com o intuito de impedir futuros desastres e genocídios, todavia, o governo russo de Vladimir Putin exerce muita influência negativa nesta questão, pois o Putin e o governo do Irã ajudam a mover ações terroristas da entidade Hezbollah para agredir a segurança de Israel.

Como se não bastasse, temos a colaboração de países latino-americanos neste caudilho islâmico, a Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro foram coniventes com atos de vandalismo antissemitas em sinagogas, caricaturas difamando a cultura hebraica, palestras protegendo o movimento da Palestina, envio de passaportes para terroristas iraquianos e colaboração militar na companhia de autoridades do Irã.

BIBLIOGRAFIA

AZAMBUJA, Carlos. A Hidra Vermelha. 2ª Edição. 2016.

GELLATELY, Robert. A Maldição de Stalin. 1ª Edição. 2017.

PACEPA, Ion Mihai. DESINFORMAÇÃO. 1ª Edição. 2015.

BARROSO, Gustavo. Os Protocolos dos Sábios de Sião. 5ª Edição. 1991.

http:// genocidewatch.net/2015/01/07/venezuelan-government-accused-of-doing-little-to-curb-anti-semitism /

http:// www.conservadorismodobrasil.com.br /2017/07/karl-marx-o-racista.html

https:// www.tercalivre.com.br/ trump-corta-verba-que-iria-para-palestinos/

https:// www.tercalivre.com.br/pipas-incendiarias-obrigam-israel-a-reforcar-bloqueio-da-faixa-de-gaza /

https:// www.tercalivre.com.br/ como-a-venezuela-vendeu-passaportes-a-terroristas/

https:// en.wikipedia.org/wiki/ Anti-Zionist_Committee_of_the_Soviet_Public

https:// www.tercalivre.com.br/ presidente-palestino-mahmoud-abbas-foi-um-agente-da-kgb /

https:// www.ynetnews.com/articles/ 0,7340,L-4874089,00. html

https:// www.youtube.com /watch?v=Vch0N_Ou2Q0

Trabalho feito por Álvaro de Toledo e Silva (graduando do curso de Bacharelado em Direito pela Unicerrado, Goiatuba - GO).

Retronium_Duster
Enviado por Retronium_Duster em 13/10/2018
Reeditado em 14/10/2018
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