Cientistas analisaram núcleos de rochas no Golfo do México e concluíram que foi ali que caiu o meteoro que matou os dinossauros e deu início às novas formas de vida que passaram a habitar a terra, antes dominada pelos grandes répteis. Foi o enxofre liberado pela queda desse meteoro que envenenou a atmosfera e matou os velhos “dinos”. O enxofre é o mais corrosivo dos ácidos. É o elemento químico do capeta, segundo velhas tradições religiosas. Os padres da Inquisição também diziam que um cheiro de enxofre ficava no ar quando o diabo aparecia.
Há um cheiro de enxofre no ar, especialmente em Brasília, onde a grande maioria dos “dinos” se reúnem para dividir territórios e traçar planos para a conservação das espécies. E também em pontos determinados do planeta Brasil, onde se reúnem as Assembleias Legislativas Estaduais, local em que os sauros regionais se reúnem para imitar seus congêneres do Planalto. O enxofre se espalhou pelo país, não porque o diabo tenha aparecido no último domingo, dia sete de outubro, mas sim porque caiu um meteoro sobre as Assembleias, tanto a de Brasilia quanto as estaduais e uma boa parte dos “dinos” foi abatida.
Alguns deles tinham grandes proporções e mandavam em seus territórios há muito tempo. Não só mandavam como também preparavam suas crias para continuar a dinastia. Muitos deles eram predadores perigosos e insaciáveis, como os velhos tiranossauros rex. Suas presas preferidas eram os cofres públicos, os cargos nas estatais, os ministérios e as secretarias, onde a grana rola solta em grandes contratos com empreiteiras.
O meteoro chamado eleição, que caiu no último domingo, tirou da vida pública alguns desses velhos e insaciáveis “dinos” que faziam de Brasília e das Assembleias estaduais um Jurassic Park infecto e intransitável para qualquer outro animal decente.
Vários se salvaram, pois a experiência acumulada em séculos de vida predatória (alguns deles tem suas origens em antepassados que vieram com os primeiros colonizadores), os ensinou que, em tempos de perigo, o melhor abrigo é o lugar de onde saíram. Como a maioria desses “dinos” é oriunda dos grotões nordestinos e das selvas diluvianas do Amazonas, Pará e Mato Grosso, é para lá que eles voltam em épocas de eleição, e o bom povo dessas paragens esquecidas por Deus os protege com seus votos. E assim eles sobrevivem, para desgosto de quem gostaria de vê-los empalhados em um museu.
Talvez o meteoro que caiu no último domingo não seja tão grande como aquele que acabou com a era jurássica. Quem sabe precisaremos de mais um. E também há quem diga que esse meteoro está contaminado com gases ainda mais tóxicos do que o enxofre que matou os antigos “dinos”. Pois ele carrega o vírus da intolerância e do fascismo, destruidor da democracia e da liberdade. Vamos ver. O novo sempre é incerto. Mas que está soprando um ventinho de esperança sobre a terra, isso está.