A fraqueza dos planos de segurança de Bolsonaro e Doria (III - final)
Como vimos nas duas partes anteriores deste artigo, o conhecimento das relações orgânicas entre as duas dimensões da segurança pública deveria estar claro no programa de Bolsonaro - o que, infelizmente, não se verifica.
Pensando somente na porta de saída do crime, isto é, as ruas - e isso de forma incompleta, pois a única medida nova sugerida é armar o povo -, Bolsonaro, Doria e outros como eles não conseguem elaborar um plano sólido de combate à violência; pelo contrário, indiretamente eles até a reforçam!
Pense nisto: a defesa exacerbada que fazem do direito de armas a todos os cidadãos, se levada às últimas conclusões, indica que é o cidadão mesmo que terá de se encarregar da própria defesa. Porque, se é preciso forçar a barra tanto assim para que todos comprem armas, é porque Bolsonaro, Doria e outros como eles não garantem um País minimamente livre de bandidos.
Ao contrário, esses políticos instauram uma autêntica corrida armamentista entre polícia e ladrão, com o cidadão no meio do fogo cruzado, já que eles defendem que a polícia tenha um arsenal sempre mais poderoso que o dos criminosos e dispare mais tiros do que eles. Isto significa, na prática, que você, meu prezado leitor que paga impostos para que o Estado o proteja, algum dia desses terá de se matricular numa academia de tiro, fazer exames psicológicos para averiguar se pode carregar armas, reservar uma verba gorda para adquirir armamento - e isto com certa frequência, já que os bandidos a cada dia reforçam o arsenal com produtos e técnicas mais avançados - e, por fim, quando a sua casa ou o seu comércio for invadido por ladrões pesadamente aparelhados, você terá de se entrincheirar atrás de arquivos, armários, puffs ou o que for e entrar num tiroteio atroz, a princípio bem desvantajoso para você que foi pego de surpresa com a "visita" dos bandidos. Reze para que suas crianças não estejam por perto nesse dia, porque o choque delas ficará para sempre ...
Pois o Brasil ainda não é uma Suíça ou uma Noruega, onde o crime é fraco, e o cidadão tem tranquilidade carregue ou não armas.
Afinal, os candidatos em questão nunca mostraram nenhum estudo científico que comprove a sua tese de que o bandido vai deixar de assaltar alguém que ele imagina estar armado. Na verdade, o mais provável é que, longe de abandonarem o seu meio de vida, criminosos reforcem o arsenal com artilharia pesada e estudem profundamente os hábitos das vítimas pretendidas, para aproveitarem o fator surpresa e assim atacarem-nas quando elas estão mais vulneráveis tática e psicologicamente.
Diante disso tudo, vemos como Bolsonaro e Doria só iludem os seus eleitores, recorrendo a sutis jogos de linguagem, falando supostas "verdades" - quando na realidade nada têm a oferecer em questões de segurança. Mesmo que eventualmente eles falem de Inteligência, ou de educação e medidas sociais, isso constitui apenas uma estratégia eleitoral genérica, sem profundidade, já que a ênfase ou a força especifica de seu discurso se concentra na "militarização" do cidadão e da polícia.
Tenho a impressão de que esses candidatos inexperientes e pouco sábios são justamente aqueles por quem os bandidos mais torcem que ganhem as eleições ... (final)