O BRASIL À BEIRA DO ABISMO?

.

Na edição n° 2554 de 28 de Setembro da revista brasileira IstoÉ, o jornalista Carlos José Marques escreve o seguinte: “Em poucas circunstâncias houve registro de cenário político e social tão claramente repartido nos extremos: esquerda contra direita, Norte contra Sul, Sem-Terra contra milicos, pobres contra ricos”. Marques acrescenta que “O Brasil segue embebido na onda do “nós contra eles”. Está caindo como pato na pegadinha arquitetada milimetricamente pelos contendores da disputa”.

Objetivamente, na medida em que as pesquisas eleitorais refletem a realidade, parece que os partidos de centro-esquerda e os de centro-direita simplesmente evaporaram deixando espaço apenas para a extrema direita e a extrema esquerda engajadas num embate onde não há mais meio-termo: o adversário político virou inimigo mortal, um anticristo contra o qual desencadear um ódio implacável e mortífero. Tudo indica que essa radicalização irá se acentuar ainda mais depois do Primeiro turno.

Difícil dizer quem vai ganhar mas, pessoalmente, acredito que o candidato do PT poderá prevalecer, embora com uma margem de votos bastante restrita.

O problema é adivinhar o que vai acontecer em seguida, quando metade do Brasil terá que engolir o domínio do vencedor o qual, visando agradar a sua base social, será obrigado a realizar as reformas prometidas durante a campanha, reformas obviamente indigestíveis para a outra metade do País. É também possível que os segmentos mais radicais do partido que conquistará o poder tentem forçar a barra para ir além dos programas oficiais e impor a sua visão ideológica ao resto da sociedade.

Infelizmente a História está repleta de exemplos de embates desse tipo, começando pela Revolução russa e o golpe chileno de 1973; no entanto, e o caso mais emblemático e assustador foi a sangrenta Guerra civil da Espanha, travada entre 1936 e 1939. Com a vitória eleitoral de 16 de Fevereiro de 1936, a Frente Popular de centro-esquerda conquistou o poder, mas o governo não teve a autoridade suficiente para controlar a intemperança dos extremistas que, sem sequer esperar por um ato administrativo, libertaram imediatamente todos os presos políticos. No caso do Brasil, Haddad declarou que, em caso de vitória, não irá agraciar o ex-presidente Lula, mas será que ele vai ter força suficiente para impedir que outras pessoas -sem compromissos institucionais- assaltem a sede da PF em Curitiba?

Outro elemento de preocupação diz respeito à militarização progressiva da sociedade. Enquanto na Espanha de 1936 tanto os grupos da direita radical (a Falange, os Carlistas) como os de esquerda (Anarquistas, Socialistas, etc.) começaram a se armar e a se adestrar para o iminente embate, na Brasil já existem facções prontas a pegar nas armas para realizar seu programas (ruralistas, MST, MTST). A tensão social parece uma panela de pressão prestes a explodir e, para piorar, as redes sociais, inexistentes em 1936, podem incendiar os ânimos com a velocidade da luz, apenas com um click.

Mas o pior de tudo é a retórica de ambos os lados. A moderação e o pragmatismo perderam a vez deixando mais e mais espaço às promessas demagógicas e irrealizáveis, aptas unicamente a captar votos. É evidente que o futuro vencedor, não tendo como realizá-las, irá culpar o ex adversário acusando-o de tentar sabotar o novo governo: destarte o povo será convidando para desencadear uma luta ainda mais acirrada contra os “traidores da Pátria”. Como não lembrar as palavras do líder socialista espanhol Largo Caballero o qual, em 1936, declarou que “A revolução que nós queremos pode ser alcançada unicamente com a violência”? Não há dúvidas que, quando o clima político está incandescente, as proclamações se tornam até mais incendiárias que os próprios atos.

Pois bem, as perspectivas para o futuro do Brasil não são das melhores. É como se inúmeros litros de gasolina tivessem sido derramados na expectativa de que alguém risque um fósforo. O resultado final desse pleito pode ser algo de bem pior que um governo autoritário: ele pode levar a uma guerra civil cuja consequências seriam desastrosas não apenas para o Brasil, mas para toda a América Latina.

OBS: Quem escreve, além de não ser brasileiro, mora no exterior e, portanto, não tem o menor interesse partidário.

Richard Foxe
Enviado por Richard Foxe em 29/09/2018
Reeditado em 29/09/2018
Código do texto: T6462761
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.