UM EXERCÍCIO DE SEMÂNTICA
 
O candidato Fernando Hadad está gastando mais o seu tempo de TV para defender o Lula do que com os projetos que tem para o país. Talvez porque não tenha projeto algum, além daquele que os petistas sempre acalentaram, que é perpetuar-se no poder. Não importa que Lula tenha sido preso e condenado já em duas instâncias judiciais, por corrupção e lavagem de dinheiro. Para eles, seu líder não praticou crime algum.  Apenas tinha um “projeto político” para o país, que envolvia, naturalmente, a perpetuação do partido no poder e o enriquecimento ilícito dos seus membros. Isso não é crime, mas sim ação política. Exercício de semântica mais interessante do que esse só mesmo o do de Don Corleone, o inefável personagem mafioso do escritor Mário Puzzo, que matava seus inimigos por razões comerciais e não pessoais. “É apenas negócio”, dizia ele, enquanto seus capangas descarregavam cadáveres na porta da agência funerária.
A semântica tem boas fórmulas para aplacar razões de consciência. Nossos crimes não são crimes, são apenas negócios. Eliminar fisicamente os adversários é como remover obstáculos que poderiam comprometer os nossos objetivos. Essa tem sido a justificativa que o maluco de Juíz de Fora deu para a sua tresloucada ação, de tentar assassinar o candidato Jair Bolsonaro. Tendo sido militante de esquerda, não é difícil imaginar em que águas tenebrosas esse indivíduo foi pescar as suas ideias. Não foi um crime comum, diz ele, mas sim ação política. Assim como assaltar o erário, arrendar o país para os empreiteiros, financiar ditadores por razões ideológicas, comprar aliados com dinheiro público não é crime, mas ações políticas.  Não é a toa que há muitos bandidos dizendo que seus “negócios” são o meio que eles encontraram para lutar contra o imperialismo ianque. Que o digam os criminosos que hoje governam a Venezuela.
Políticos corruptos e seus defensores sabem muito bem como aplicar a técnica da semântica. Transformam sapos em príncipes como o mais competentes dos mágicos. Nem os melhores pastores da Igreja Universal são tão bons na arte de iludir a mente das pessoas quanto um bom advogado na tribuna ou um político matreiro no palanque ou frente à uma câmara de TV.
Advogados não precisam acreditar que seus clientes são inocentes. Precisam apenas saber costurar uma boa história para justificar o que eles fizeram.  A semântica é uma coisa engraçada e até bonita quando empregada na criação literária. Mas precisamos ter cuidado quando ela é utilizada com o claro propósito de transformar sapos em príncipes. Na lógica do mundo real um sapo não vira príncipe só porque ele mesmo acredita nisso. Nem porque há pessoas querendo fazer com que a platéia acredite. Desfeita a ilusão, o que fica é somente a verdade dos fatos. Lula é apenas um criminoso condenado. Um sapo barbudo, como dele disse o Brizola. Nenhum exercício de semântica vai mudar isso.