Democracia e Capital Social

O artigo “Democracia formal, cultura política informal e capital social no Brasil”, escrito pelo Ph.D. em Ciência Política Marcello Baquero, analisa a possibilidade de desenvolver a capacitação política dos cidadãos via capital social como dispositivo alternativo de cidadania. Segundo ele, um dos maiores problemas da democracia brasileira é o baixo grau de participação popular. Nesse cenário, o capital social se apresenta como um instrumento de fortalecimento da democracia.

Baquero identifica três formas de capital social: o de encapsulamento (bonding) emerge das relações intra-grupo, proporcionando as bases que as pessoas necessitam para enfrentar as dificuldades. Por sua vez, o capital social entre-grupos (bridging) se refere ao esforço das comunidades em se comunicar. E o capital social do ponto de vista do estabelecimento de contatos verticais (linking) se refere às relações que se produzem entre estratos sociais diferentes.

O autor cita que, no meio acadêmico, essas relações têm sido associadas a um desenvolvimento democrático, sob a hipótese de que uma participação mais consequente dos cidadãos deriva da intensidade com que eles se envolvem em associações e redes, pois quanto mais uma pessoa participa delas, maiores as possibilidades de desenvolver virtudes cívicas que concretizem o bem coletivo. Para que isso aconteça no Brasil, porém, é necessária a união entre predisposições comportamentais de adesão a valores democráticos, normas compartilhadas pela maioria da população e a existência de sanções para evitar desvios desses parâmetros.

Uma questão importante é que existe diferentes maneirar de avaliar uma democracia. A tese de Baquero pressupõe, portanto, uma interpretação de uma democracia saudável, que está ligada à “construção de uma cultura política participativa e de natureza crítica”. Nesse sentido, para entendermos seu argumento, podemos estabelecer uma distinção que tem sido feita dentro da democracia entre o sistema político formal e a cultura cívica (DAHLGREN, 2000). Essa cultura torna possível o sistema democrático, enquanto depende para manter suas garantias e parâmetros. Nesse sentido, Baquero argumenta que existe uma relação causal recíproca entre instituições deficientes que produzem cidadãos sem predisposições democráticas e estes, por sua vez, distanciam-se e mostram desapego pelas instituições. Isso ajudaria a explicar a falta de credibilidade que os políticos e o governo têm aos olhos do brasileiro.

Cultura cívica não exige uniformidade entre os cidadãos, mas implica uma capacidade de enxergar além dos interesses imediatos do próprio grupo (DAHLGREN, 2000). Embora isso seja difícil, por ela os diferentes grupos podem manter o capital social necessário para fortalecer a democracia. Uma das maneiras em que isso acontece é pelo compartilhamento de conhecimento e competências relevantes para o exercício da democracia, por meio de relatórios confiáveis, análises, discussões, debates, etc. Hoje, a internet tem um papel fundamental nisso, uma vez que ela pode ser um meio de promover redes que podem se tornar dispositivos estratégicos de soluções sociais, facilitando a ação coletiva em prol das comunidades e identificando e produzindo capital social. Nela, as pessoas estão encontrando novas formas de fazer e imaginar a democracia, de modo que ela pode ser um meio de ajudar os cidadãos a reconhecerem a necessidade de uma participação política mais ativa.

BAQUERO, Marcelo. Democracia formal, cultura política informal e capital social no Brasil. Campinas: Revista Opinião Pública. vol.14 nº2, Nov, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-62762008000200005>

DAHLGREN, Peter. The Internet and the Democratization of Civic Culture. Center for Communication and Civic Engagement. Acesso em 16 de Agosto de 2018. Disponível em: <http://ccce.com.washington.edu/news/assets/conference_papers/dahlgren.pdf>