A necessidade de reencontrar o início
A necessidade de reencontrar o início...
Publicado no Blog Diário do Poder, Brasília/DF, de 28/08/18
A resposta para os nossos problemas sociais, cada vez mais graves e complexos, já foi dada há muito tempo.
No final o que se quer mesmo é entender o sentido da existência humana. Pergunta antiga sobre a qual muitos já se debruçaram à procura de resposta. Para que se possa abordar a questão com responsabilidade, é necessário que se tenha uma definição, mesmo com limitações, sobre o que se entende por pessoa humana, este ser que os sistemas sociais, políticos, econômicos e jurídicos tentam, há séculos, organizar suas necessárias convivências, em múltiplas formas de sociedade.
Não se encontrando um mínimo de concordância sobre a questão – a pessoa humana – nada de razoável poderá ser construído em termos da organização social de uma convivência pacífica, justa e livre, que possibilite a continuidade do progresso da humanidade, em todas as suas manifestações. O que se pretende é que volte a existir mais consensos sobre pontos essenciais da vida humana, de tal forma que se possa continuar a aperfeiçoar o desenvolvimento e a vida democrática.
Uma secular reflexão filosófica nos conduz a uma proposta de definição ampla sobre o que é a pessoa: “um ser individuo de natureza racional, livre e social”. Ressalta a individualidade de cada um com sua natureza específica una e interdependente, destacando a liberdade absoluta, a notável inteligência e a dependência, para que possa existir, da convivência social.
É fundamental ter consciência de que a vida em sociedade é indispensável para a sobrevivência e desenvolvimento desses seres com individualidades distintas, portadoras de dignidade essencial, distintos dos demais seres do Universo e que só sobrevivem e se desenvolvem vivendo em sociedades. O reconhecimento de tal fenômeno obriga, naturalmente, compromissos de solidariedade cooperativa, pressuposto imprescindível para a sobrevivência e o aperfeiçoamento da humanidade. Não progrediremos, na perspectiva do Humanismo, se a maioria dos povos não recuperar esta forma de pensar por meio de sistemas educacionais de qualidade. O aprender a pensar, a discernir, impõe indispensável disciplina no viver coletivo, num ambiente social com densidade ética, possibilitando, assim, pela solidariedade e pelo sentimento da justiça, o continuo aperfeiçoamento da liberdade e da democracia.
Parece que esquecemos que foram os desdobramentos políticos, das exigências impostas pela crença nos direitos naturais da pessoa humana, que permitiram que se erguessem as atuais sociedades, com todas as suas maravilhas e misérias. Desprezar a sabedoria do passado, que gerou o presente, é negar a possibilidade de continuar com o processo histórico na linha do Humanismo – a prevalência da dignidade da pessoa humana no processo histórico, que pouco a pouco vai sendo mais explicitado por este maravilhoso fenômeno da convivência social.
É pensamento errado negar a importância da reflexão filosófica do passado, com o pretexto de escapar de limitações intelectuais. Tal forma de agir pode confortar e iludir as pessoas mediocrizadas pela ânsia de uma total e desenfreada liberdade individualista – “é proibido proibir”- ajudando a incrementar o caos que já nos envolve. É preciso reconhecer que as fantásticas conquistas do presente – ciência e tecnologia, construções, comportamentos, formas de pensar e de organizar a vida coletiva – surgiram pela utilização da sabedoria e liberdade conquistadas no passado – o saber é um continuo processo cumulativo de proposições corretas. O que não se pode é abandonar a reflexão critica sobre o que está acontecendo, como, por exemplo, a ânsia voraz do desfrutar a vida coletiva sem nenhuma indagação cuidadosa de entendimento sobre o que se está fazendo. Certamente sempre haverá regras restritivas do comportamento coletivo, na intenção de se estabelecer igualdade de oportunidades para todos e adequação ao meio ambiente. No entanto tal forma de organizar o pensamento não deve ser obra de uma elite minoritária, que detém o poder econômico e politico, podendo conduzir a humanidade para a ditadura do pensamento único. O povo, bem formado e informado, deve e precisa participar deste processo, para que se preserve o inestimável bem que é a liberdade.
A atual forma de pensar e de agir está nos encaminhando, celeremente, para a destruição do Humanismo e abrindo espaço para o império da nova barbárie: a dominação de alguns poucos, que com a posse do saber e da modernidade tecnológica dos sofisticados vários instrumentos de poder, começam a manusear e a submeter politicamente a maioria dos povos, aqueles marginalizados das benesses do progresso.
É preciso que a democracia se fortaleça pela efetivação da igualdade das oportunidades educacionais de qualidade. Só assim poderemos levantar uma indestrutível muralha contra o obscurantismo fomentado pela insaciável e solerte classe dominante. A educação de qualidade deve ser a prioridade absoluta da humanidade – instrumento mais importante para a promoção da dignidade da pessoa humana.
Eurico de Andrade Neves Borba, 77, aposentado, é do Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, mora em Caxias do Sul.