O HOMEM NO GOVERNO DO BEM COMUM A LUZ DE TOMÁS DE AQUINO

O HOMEM NO GOVERNO DO BEM COMUM A LUZ DE TOMÁS DE AQUINO

Jhonatan dos Santos Oliveira

RESUMO: Este presente artigo tem por finalidade assinalar a visão de Tomás de Aquino, tendo também uma ponte para os filósofos clássicos, sobre a natureza do homem a respeito do governo pautado no bem comum. Por meio do livro Suma contra os gentios. Daremos primeiramente uma esplanada nos três filósofos clássicos: Sócrates, Platão e Aristóteles, ligando seus pensamentos até uma conclusão de Tomás de Aquino. Mostrando na natureza do ser humano, sua relação com a sociedade, busca constante do bem comum e o papel dos sábios na comunidade.

PALAVRAS-CHAVES: Homem - Sábio - Governo - Bem comum - Tomás de Aquino

SUMÁRIO: Introdução. 1 Humanidade, governo e bem comum no período clássico. 1.1 Sócrates. 1.1.1 Natureza do homem, em Sócrates. 1.1.2 A política para o homem, em Sócrates. 1.2 Platão. 1.2.1 Natureza do homem, em Platão. 1.2.2 A política para o homem, em Platão. 1.3 Aristóteles. 1.3.1 Natureza do homem, em Aristóteles. 1.3.2 A política para o homem, em Aristóteles. 2 Humanidade, governo e bem comum, em Tomás de Aquino. 2.1 São Tomás de Aquino. 2.1.1 Natureza do homem, em Tomás de Aquino. 2.1.2 A sabedoria como beatitude do homem, em Tomás de Aquino. 2.1.3 A política para o homem, em São Tomás de Aquino. Conclusão. Referências.

INTRODUÇÃO

Por meio desse artigo traçaremos uma linha de pensamento a respeito do homem em relação ao governo e bem comum, a luz de São Tomás de Aquino, tendo por base sua obra “Suma contra os gentios”, especificamente os dois primeiros capítulos do primeiro livro.

No entanto, para isso ser feito, abordarei o percurso percorrido pelos três filósofos clássicos da filosofia antiga, em que cada um deu continuidade a filosofia clássica, aperfeiçoou seus pensamentos a respeito do homem e do bem comum em uma só linha, e deu continuação ao pensamento do outro resignificando no seu modo particular de ver o mundo; estes três são: Sócrates, Platão o discípulo de Sócrates, e Aristóteles que por sua vez chegou a ser aluno de Platão e posteriormente tornou-se uma forte influência para o pensamento Tomista. Deste modo é impossível falar de Tomás de Aquino sem antes falar de Aristóteles e seus antecessores, por mais que as linhas de raciocínio sejam distintas, se complementam, tendo um alcance maior em Aquino que corroborará com este raciocínio.

Nota-se, portanto aqui no presente artigo a importância de cada um desses filósofos a respeito da natureza do homem, da construção da sociedade em um governo utilizado para organizar um sistema pautado no bem comum.

Com essa linha de raciocínio traçada, podemos fazer de forma pessoal uma análise nas formas de governos atuais, para termos um olhar mais crítico para a política e o bem comum, e termos cada vez menos uma visão acomodada.

1 HUMANIDADE, GOVERNO E BEM COMUM NO PERÍODO CLÁSSICO

Existe na história e perdura até hoje em dia várias formas de governos diversificadas, onde no período clássico da filosofia, os verdadeiros filósofos defendiam a sociedade, sociedade esta que ainda começava a formar-se. Dentre os filósofos antigos que buscavam o valor do homem e do bem comum em busca de um bom governo para o seu povo, destacam-se como já dito na introdução, três filósofos clássicos da história da filosofia antiga: Sócrates, Platão e Aristóteles. Esses três filósofos são considerados os inauguradores da filosofia, fazendo teorias sobre o mundo, o homem, a alma, o bem e o mal, buscando a cima de tudo, a verdade que vem da luz da razão, e desvelando a mitologia antiga. Tanto estes filósofos, quantos muitos outros desta época buscaram um pouco do entendimento da tão grande complexidade do homem, e também a nível social buscaram aperfeiçoar o sistema social e político, a fim de ver a sociedade mais organizada caminhando rumo a seu fim natural.

Primeiramente aplainaremos um pouco da vida e principalmente os conceitos do primeiro filósofo Sócrates, que de certa forma deu início a uma nova forma de ver o mundo e a vida com a filosofia.

1.1 Sócrates (469 A.C.- 399 A.C.)

Sócrates mesmo não deixou nenhum escrito, só conseguimos conhecê-lo a partir de três fontes contemporâneas, estas são: nas obras de Aristófanes, nos diálogos de seu discípulo Platão e diálogos de Xenofontes.

Tendo ele sido uma base existencialista para a filosofia grega, Sócrates é até hoje mencionado e reconhecido no mundo inteiro pelo seu método maiêutico, que permitiu ao mundo abrir mais sua visão do todo. Sócrates inicialmente foi contra a democracia ateniense, esta que havia sido considerada o berço da democracia moderna, ele foi contra esta forma particular de governo adotada na sua cidade natal de Atenas.

A seguir temos seu pensamento acerca do homem, conceitos estes que até então em sua época nunca tinham sido mencionados.

1.1.1 Natureza do homem, em Sócrates

Primeiramente, ele teve muita contribuição ao conhecimento do homem, em que afirmava esse homem como ser cognoscível (capaz de conhecimento) e também que o homem por natureza tem relacionamento com a vida política. Como já dito, Sócrates negava o poder político hereditário e da eleição popular, negando por assim toda a monarquia e democracia, pois afirmava que o governante não deve governar apenas por fazer parte de uma família ou escolhido por pessoas que em muitas vezes não possuem a capacidade de uma boa escolha.

Sua frase clássica ficou marcada até hoje na filosofia do mundo todo, “Só sei que nada sei”, ela vem nos ajudar a quebrar preconceitos e sair ao encontro da verdade, como os sábios o fazem.

Agora teremos uma abordagem na concepção de política e bem comum de Sócrates, que por sua vez influenciou de certo modo seu discípulo Platão.

1.1.2 A política para o homem, em Sócrates

Sobre sua forma de governo, Sócrates afirmava que o governo deve ser dado aos sábios; desvalorizando todas as pessoas que não possuíssem um conjunto de conhecimento e uma noção das coisas; sendo assim, essas pessoas não teriam o direito e a capacidade para governem o povo. Dando privilégios aos sábios, ele concebia o conhecimento a um mundo que somente os sábios conseguiam entender, esses sábios são puramente os filósofos, estes que seriam para ele por tanto, os governadores perfeitos para seu povo; por fim, o bem comum apreendido apenas pelos Sábios, pois eles teriam a noção de conhecimento do mundo, do homem, da sociedade e do bem comum.

Vedava-lhe o princípio normativo do conhecimento admitir que o poder ou o direito hereditário ou a eleição popular, por meio do voto, pudessem capacitar o indivíduo a tratar de negócios do estado. Só a plena consciência da própria capacidade e o conhecimento especial dêsses negócios podem e devem induzir o indivíduo a legitima ambição política. (LABRIOLA, 1939, p.108).

Passando agora para Platão, veremos um pouco dos pensamentos de Sócrates levados adiante por ele, e como Platão veio para dar uma caranova ao mundo.

1.2 Platão (428-7 A.C Á 348-7 A.C)

Esse segundo filósofo clássico foi o discípulo do visto anteriormente, ele fez em primeiro lugar com que seu mestre Sócrates seja reconhecido escrevendo os diálogos de seu mestre. Não satisfeito, Platão da continuidade aos pensamentos de Sócrates encaminhando-os a seu próprio ponto de vista. O Filósofo e matemático, escreve um livro chamado “Timeu”, que é um diálogo especulativo totalmente sistematizado sobre a natureza do homem, do mundo material e acrescenta o mundo das idéias, este é das formas perfeitas de todas as coisas vistas no mundo material.

Como “construtor”, o demiurgo empreende uma actividade mimética. Ao criar o mundo sensível por meio da imitação do arquétipo, assemelha-se em grande medida a um artífice, que, antes de produzir alguma coisa, tem em conta uma forma da qual assimilará as propriedades que fará corresponder no material que trabalha. Assim, põe os olhos nas coisas que se mantêm sempre iguais (as Ideias). Partindo deste conhecimento prévio, age sobre o material de modo a dotá-lo de ordem, pois que antes estava desordenado (PLATÃO, 2011, p.39).

Platão em Atenas foi o fundador da primeira instituição de ensino superior no ocidente, a tão famosa “Academia”. Ficou sendo uma base muito importante para a filosofia natural (em que seus ramos são: astrologia, cosmologia e etiologia); conhecido e comentado até hoje, foi um dois meios de propagação da filosofia ocidental começada por Sócrates; e deu inicio ao platonismo. Passemos agora a uma visão geral a cerca da natureza do homem feita por Platão.

1.2.1 Natureza do homem, em Platão

Sobre o homem, Platão era dualista, diferente de Sócrates, ele concebeu o homem sendo só uma alma presa a um corpo, uma alma imortal; homem esse que seu fim último deve ser o conhecimento, capaz de tirá-lo da “escuridão da caverna da ignorância”, discutiu educação por meio do Estado ideal, pois por meio dela os jovens recordam-se do “mundo inteligível” e formam-se em sua função perante o Estado. E sobre o mundo, como já mencionado, Platão também é dualista, concebe dois mundos, sendo esses o mundo material (imperfeito, mundo das coisas materiais) em que nós vivemos, e o mundo das idéias (perfeito, mundo das formas) do qual nossas almas, através do conhecimento, há de retornar a ele. A seguir, temos uma visão de sociedade e bem comum ainda na visão de Platão.

1.2.2 A política para o homem, em Platão

O filósofo Platão escreve uma obra chamada “A República”, aonde fala por exclusividade do mundo material, por meio de diálogos, ele quer chegar à idéia de uma sociedade perfeita e estruturada; diz que a sociedade deve ser justa, e para buscar a justiça, o filósofo vai questionar nesse mundo os direitos, os deveres, a justiça e a lei. Para ele uma sociedade ideal deve estar ligada à educação, pois é por meio dela que cada um pode discernir e se qualificar a respeito de seu lugar na sociedade, tendo o conhecimento e aperfeiçoamento de suas aptidões (talentos) a fim de usá-las para a comunidade.

Da alma Humana o filósofo diz que ela é dividida em três partes, estas são: o Apetite, a Coragem e a Razão; ele diz que estes três elementos estão constituídos em todas as almas; porém, um dos três elementos sempre fica mais visível que o outro, predominando sobre as outras duas, organizando por assim em três classes de almas diferentes. Estas são:

-1ª Em alguém que deixa envolver-se pelas emoções e sensações, vindas do apetite, pertence à classe do povo, que pode se considerar a mais inferior, dentre as duas.

-2ª Em alguém que tem um espírito mais corajoso e guerreiro faz parte da classe dos guardiões, soldados que defendem e dão segurança ao estado.

-3ªJá alguém que tiver uma constante procura pela a sabedoria, tendo seu foco na verdade encontrada a luz da razão, seria da classe dos sábios, este por sua vez será responsável pelo governo do estado, pois busca o bem comum, será essa alma a que estará mais perto para chegar ao mundo das idéias. Por fim o aristocrata defende que os filósofos estariam no governo do Estado uma vez que ele tivesse uma visão comum e aberta da bondade, beleza e justiça.

Aquele que se liberta das ilusões e se eleva a visão da realidade é o que pode e deve governar para libertar ou outros prisioneiros das sombras: é o filósofo-político, aquele que faz de sua sabedoria um instrumento de libertação de consciências e de justiça social, aquele que faz da procura da verdade uma arte de desprestidigitação, um desilusionismo. (PENSADORES, 1979, p. 23)

Para ele, a lei seria nada mais, do que ordens brotadas da razão verdadeira e reta; tendo um único fim: o bem comum. Já, a justiça esta na imparcialidade da distribuição das coisas entre as pessoas. Cabem ao Estado todas as riquezas privadas, a fim de unir tudo a um só crédito, o crédito coletivo. Fica nítido que ele não almeja acabar com as classes sociais, porém redistribuí-las, afim que não sejam mais separadas por fator econômico-social, e sim, pelas três condições naturais que cada pessoa naturalmente é dotada. O nome deste governo que ele defende é Aristocracia, onde poucos estão no controle. Sua idealização seria acabar com as famílias particulares e os casamentos monogâmicos, a fim do Estado ser uma só família, e a reprodução das pessoas seria para pertencerem ao Estado. E tais reproduções não seriam aleatórias, e sim, dividindo-as entre as classes.

Já o terceiro e último filósofo clássico é Aristóteles; como veremos mais pra frente ele foi uma influência muito grande na vida de Tomás, ajudando a conservar os pensamentos de seu professor, no item a seguir veremos um pouco dele.

1.3 Aristóteles (384 a. C. Á 322 a.C.)

Da antiga cidade de Estágira, Aristóteles foi aluno de Platão em sua academia, e a todo tempo tenta superar seu mestre.

Sua filosofia se baseou muito a cerca da natureza, da sociedade e dos indivíduos. Seu método foi classificar as formas do mundo material, ordenando por assim as coisas. Teve muitas influências na educação e no pensamento ocidental contemporâneo; também visto como fundador da filosofia ocidental. Foi escolhido por Felipe II a ser professor de seu filho Alexandre o Grande.Aristóteles foi sem dúvidas uma influencia muito grande na vida e pensamento de São Tomás de Aquino este que concluirei o artigo.

Sobre a natureza humana Aristóteles contribui com muitas coisas, veremos agora abaixo.

1.3.1 Natureza do homem, em Aristóteles

Sobre o Homem, diferente de Platão, afirma que nós homens vivemos no mundo material, sendo para ele esse mundo a única realidade e possibilidade; o homem só conhece por meio dos sentidos, para ele nada esta na inteligência sem antes ter passado pelos sentidos. Conclui-se que não há possibilidades da existência do mundo das idéias (Platão), pois conforme “[...] Aristóteles rejeita a transcendência dos arquétipos platônicos, considerando-os uma desnecessária duplicação da realidade sensível. Para ele, a única realidade é esta construída por seres singulares, concretos mutáveis.” (PENSADORES, 2000, p. 21).

Aristóteles afirma também que o homem tem por natureza o desejo de ser Bom. Acredita que o melhor bem de todo ser é que ele viva e seja exatamente aquilo que por natureza ele deveria ser (Exemplo: O bem do porco é fazer porquice) ao mesmo modo, o bem do homem seria pensar. O homem, para ele, só pode se desenvolver no meio da polis, nas grandes cidades ideais, é na polis o homem desenvolve todo o seu potencial e alcança seu bem que ao mesmo tempo é o bem comum, esse homem político que vive dentro da cidade buscando seu bem e o bem comum, sempre alcançara uma vida boa e prazerosa.

Afirma que todo animal racional vem de uma polis, sendo ele um animal político, pois a razão leva a uma sistematização, levando a polis, levando assim para o bem comum. Os homens que não vivem dentro dapolis são seres inferiores.

Por fim, vemos como Aristóteles trata da questão do bem comum.

1.3.2 A política para o homem, em Aristóteles

Aristóteles difere no pensamento de Platão acerca da política, onde Platão pensa apenas nos sábios sendo os governantes, tendo assim um regime político ideal; já Aristóteles acredita que a política é para o homem comum (e não apenas para os sábios); porém esse homem comum deve ter possibilidades suficientes (renda) para estudar, se aprofundar e ser bem instruído, assim pode participar da atividade política, ele não diz no sentido de uma divisão de classes, mas apenas que para a atividade política, o homem deve ter apenas o suficiente para se instruir.

Para o filósofo, a justiça é a lei, lei esta quem faz a justiça funcionar. A justiça é o equilíbrio; e a suprema justiça é a equidade, esta por sua vez é uma distribuição diferenciada, cada um recebe o suficiente para suas necessidades, tudo sendo proporcional e personalizado. A ética (esse esforço de fazer o bem e de viver de maneira virtuosa individual) e a política (sendo a arte de governar a cidade promovendo o bem comum, moral coletiva) se encontram interligadas. Existia por ai uma relação entre o povo com a cidade, onde bons cidadãos que optam para uma boa constituição e assim geraria uma boa cidade, e também ao contrário, onde uma boa cidade geraria bons cidadãos.

Já o melhor tipo de governo a ser usado na polis, ele diz ser dependente ao tipo de povo que habita esta polis, pois tem tendências diferentes, não existindo para ele um governo ideal, pois enquanto um povo aceita a oligarquia, outro pode ter mais abertura a monarquia. Não importa a forma de governo a ser usado, o que importa é se tal governo é o bem comum guiado pela reta razão, importa a justa medida a ser usado em cada uma das cidades.

Toda comunidade contém alguns que são ricos, que tendem a ser a minoria, e os pobres, que tendem a ser a maioria. Cada classe tende a preferir uma organização política que a entrincheire no poder: onde a maioria rica está no poder, temos algum tipo de oligarquia, e onde a maioria pobre está no poder, temos algum tipo de democracia. (BARNES, 2009, p.322)

Para se aprofundar, ele usou um método indutivo, e tal método o permitiu que analisasse e fizesse comparações entre 158 constituições diferentes, dentre esses particulares, faz-se uma classificação, e tirou dos particulares conceitos gerais para essa classificação. Conclui que existem duas classes de governos, governos bons e governos ruins. Os governos bons são aqueles que buscam o bem comum, já os outros são maus governos; dentre os bons governos estão: a monarquia (governo de um), a aristocracia (governo de poucos) e a demagogia (governo de muitos) estes seriam as formas idealizadas que estariam focadas no bem comum acima de tudo; dentre os maus governos estão: a tirania (governo de um), a oligarquia (de poucos) e a democracia ou politéia (governo de muitos) estas seriam as formas destorcidas que não estão focadas no bem comum. São essas as classificações de governos das polis que Aristóteles faz. A finalidade da cidade, portanto é o bem comum.

Passaremos agora para a segunda parte do artigo, onde vermos um pouco sobre São Tomás.

2 HUMANIDADE, GOVERNO E BEM COMUM, EM TOMÁS DE AQUINO

Encerrado os filósofos clássicos veremos agora como Tomás de Aquino interpreta e da continuidade aos seus pensamentos, aqui nesta segunda metade do artigo veremos vida e pensamentos sobre: o homem, a filosofia e a política dele. Primeiramente voltemos ao passado para entender um pouco de seus pensamentos, mostrando no item abaixo sua vida.

2.1 São Tomás de Aquino (1225 d.C. A 1274 d. C.)

Tómas de Aquino nasceu no castelo de Rocassecca, no condado (um território onde governava um conde) de Aquino, no Reino das duas Sicílias. Primeiramente São Tomás estudou com os monges beneditinos da Abadia de Montecassino e; em 1225 entrou na ordem dos Dominicanos. Continuou seus estudos em Paris com Alberto Magno e também na Colônia; lecionou em Agnani na Itália, em Orvieto, Roma e Viterbo. Morreu na Itália, no convento dos cistercienses de Fossanova, com 49 anos de idade.

São Tomás foi um excelente trabalhador, e nas suas obras podemos analisar o quão metódico e sistemático ele era. Todo o seu trabalho teria por finalidade organizar e ordenar todo o saber teológico e moral, vindo este da Idade Média; encontramos até hoje presente no meio de nós, pois não podemos falar hoje de Teologia sem mencionarmos o nome de Aquino. Sendo considerado hoje Dr. e Mestre da Igreja.

Dentre suas obras, as mais famosas são: Os comentários sobre as sentenças, os Princípios, o Ente e Essência, Suma contra os Gentios e a Suma Teológica.

Influenciado por muitas personalidades anteriores a ele; entre elas estão: O filósofo clássico Aristóteles, Santo Agostinho de sua mesma época e Alberto Magno sendo seu mestre em Paris.

São Tomás de Aquino em Paris encontrava-se em uma época em que aconteciam os grandes conflitos entre a Fé e a Razão, os mesmos tiveram a maior influência em sua vida e em suas grandes obras;onde a igreja haviachegado ao ponto de proibir a leitura da metafísica e da filosofia natural de Aristóteles, e Tomás de Aquino quem foi o responsável na cristianização da filosofia Aristotélica, seu estilo analítico, sistemático e dialético o ajudou bastante nesta façanha.

Falaremos agora sobre o homem, para entender a sociedade e bem comum em Tomás de Aquino.

2.1.1 Natureza do homem, em São Tomás de Aquino

Para falarmos do homem na concepção de São Tomás de Aquino, devemos primeiro classificar Deus e anjo.

Tomás define Deus, por meio das criaturas; onde ele diz que as criaturas não existem por si mesmas, sendo criaturas contingentes e abarcando por assim a uma idéia de criação; já Deus existiria por si mesmo, pois seria o criador de tudo, o ser necessário para a existência de todas as coisas contingentes; a Deus nada poderia ser acrescentado, já que ele não é limitado e eterno, em um grau de perfeição Deus estaria no ápice; concluindo que Ele é o ser criador de todas as coisas e pleno, que possui a perfeição pura.

O santo define os anjos sendo mais uma das criaturas de Deus, seres de formas, mas desprovidos de corpo, tais possuem inteligência pura; e dentre todas as criaturas de Deus, os anjos estão na mais alta perfeição.Depois dos anjos, só Deus é o mais altíssimo de tudo existente.

Por fim, tendo delimitado melhor a natureza de Deus e dos anjos, podemos agora comparar e analisar a natureza do Homem. Primeiramente que o Homem está em penúltimo grau na hierarquia das criaturas, diferente dos anjos o homem possui um duplo pertencimento; por ter alma ele pertence à classe dos seres imateriais, porém diferente dos anjos, não são dotados da inteligência pura, pois a alma do homem esta ligada essencialmente a um corpo material; a alma do homem tem a capacidade de tocar o mundo material e o mundo dos espíritos. É por meio desse mundo, dos sentidos (material), que o homem pode adquirir conhecimento por não possuí-lo puramente como os anjos, ele precisa conhecer através das experiências.

Na hierarquia descendentes das criaturas, o homem aparece como um ser dotado de duplo compromisso. Por sua alma, pertence à série dos seres imateriais, mas não é uma inteligência pura , como a dos anjos, pois encontra-se essencialmente ligada a um corpo. (PENSADORES, 1979, p. 6)

Segundo São Tomás de Aquino, o fim do homem não é outro se não o aperfeiçoamento de sua própria natureza, mas pra tal fenômeno acontecer, deve-se, e somente se, passar por Deus, pois o aperfeiçoamento da natureza humana só se cumpre no Deus que é o próprio criador. Transcendendo assim toda ação e sentido da existência humana, levando ao homem, mesmo sem o conhecimento de tal, a dirigir-se ao supremo poderoso.

Para Tomás de Aquino o homem, assim como Aristóteles dizia, é um animal político e social.

Antes de aprofundarmos no conhecimento de sua política, diferente de como foi feito com os filósofos clássicos, iremos dar uma aprofundada no tema da sabedoria, pois com ela bem apresentado, será um gancho para entendermos melhor sua filosofia política.

2.1.2 A sabedoria como beatitude do homem, em São Tomás de Aquino

Tomás de Aquino na sua obra: “Suma Contra os Gentios”, que a partir daqui veremos até o final do artigo, explicita a Sabedoria como sendo a beatitude, ‘perfeita satisfação’, do homem; já o homem que toma posse da sabedoria é chamado pelo autor de Sábio.

Diz Aquino que entre todos os estudos e conhecimentos feito pelo ser humano, o da sabedoria é o mais pleno, pois este para ele é o mais Perfeito, porque enquanto o homem se entrega a saberia, ele participa da verdadeira beatitude; Sublime, porque por ele o homem mais aproxima-se da semelhança de Deus; útil, porque por ela o homem chegasse a eternidade; e o mais alegre, porque não traz nenhum malefício, pelo contrário apenas uma alegria regozijante.

Por fim, a Sabedoria é a perfeita satisfação do homem. Como diz: “Entre os estudos humanos, o da sabedoria é o mais perfeito, o mais sublime, o mais útil e o mais alegre. O mais perfeito porque enquanto o homem entrega-se ao estudo da sabedoria já vai participando, de algum modo, da verdadeira beatitude.” (AQUINO, 1990, p. 21)

Tendo agora este capítulo que acabamos de ler, aberto nossos horizontes para com a sabedoria, e também tendo-nos visto três pilares anteriormente, pilares que por mais que fossem diferentes se complementaram, agora podemos prosseguir para o último ponto deste artigo, ponto no que Tomás defende sua tese política.

2.1.3 A política para o homem, em São Tomás de Aquino

Primeiramente pode-se ressaltar que o Santo trata do tema, como sempre, no ponto de vista teológico e metafísico; onde ao contrário de Aristóteles ele, estudava a política com relação a Deus e não em relação ao Estado; como seu fim Deus e não a polis.

Tomás de Aquino diz que, todos os poderes do mundo, por mais distantes e diferentes que sejam, tem relação e provem do poder pleno que esta sob o universo, o poder Divino, pois não há nada antes do poder de Deus; concluindo que, este poder de Deus está no controle de todos os outros. Diz também que a vontade para ser considerada boa, deve estar regida pela moral natural da humanidade, pois quando a vontade participa da intenção da moral humana nada mais é que um reflexo da vontade divina. Em outras palavras, quando nós participamos da vontade de Deus, nossa vontade então será boa.

Aquino diz que, a política é a ciência do governo, e que todo governo deve ordenar o povo rumo ao bem comum; já a lei é uma ordem da razão a fim do bem comum. Por este motivo jamais devemos descartar a lei, pois ela nos ajuda a chegarmos a nosso fim verdadeiro na sociedade, o bem comum.

O governo mal ou bom para São Tomás de Aquino, assim como também para Aristóteles, depende apenas e unicamente da forma que este está atendendo o bem comum; enquanto ele for bom, seja qual for à forma de governo empregada, estará atendendo o bem comum, porém enquanto for mal, seja qual for à forma de governo, estará atendendo apenas ambições de poucos deixando de lado o bem comum e favorecendo apenas alguns. Para isso Tomás propõe uma idéia de governo misto, governo este baseado na monarquia, aristocracia e Democracia (três formas que ele acredita serem boas), que para ele se usados com finalidade de bem comum, serão ótimos governos. Tem uma preferência ainda mais particular, pois ele aposta muito na monarquia, tendo por este governo de apenas de uma pessoa uma visão idealista da conservação da unidade; acreditando por assim ser o melhor governo, pois para ele, esta forma de governo mantém a unidade do povo.

Ao final, tendo explicitado as formas de governo de sua concepção, o filósofo Tomás de Aquino nos diz agora a respeito do governador, seja ele monarca ou não, este deve ser um ‘Sábio’, pois aos sábios cabe o governo; tendo este por sua vez tem uma visão completa do universo, e não singular como qual quer outra pessoa que não possui a sabedoria teria. Diz o próprio SÃO Tomás de Aquino: “O nome do sábio é, porém, e simplesmente reservado só para quem se dedica à considerações do fim do universo, que é também o princípio. De onde afirmar o filósofo que pertence ao sábio considerar as altíssimas causas.” (AQUINO, 1990, p. 20).

Por fim, para viver com fraternidade e com unidade, cabe uma autoridade que esteja compromissada com o bem comum; e esta não poderia ser outra, segundo Tomás, além do sábio, que ao longo de sua vida adquiriu consciência de bem comum e agora pode por em prática melhor que cada outra pessoa, chegando assim ao fim último do Estado o bem comum, que não é mais do que a vontade do próprio Deus.

Como diz o próprio Tomás de Aquino na Suma Contra os gentios: [...] sábios aqueles que diretamente ordenam as coisas e as governam com habilidade. Por isso, entre outras funções que os homens atribuem ao sábio, a de que pertence ao sábio ordenar é a proposta pelo filósofo. (AQUINO, 1990, p. 19).

Chegando ao final podemos agora concluir este artigo, levando a algumas pistas de ação ou recomendações.

CONCLUSÃO

Por fim de todo esse desenrolar de pensamento filosófico, podemos concluir com alguns breves concepções. Estas são:

Primeiramente que Tomás de Aquino ao falar do homem, do governo e do bem comum ele simplesmente não parte do nada, mais parte das considerações já feitas anterior a ele, com enfoque aqui neste artigo os três filósofos Clássicos, onde o Santo Tomás desenvolve seu pensamento e chega a suas conclusões pessoais. Sendo assim não dá pra falar de Tomás sem antes não falar de seus antecessores.

A partir do artigo, não podemos negar o fato também de que a natureza humana tem por finalidade, relacionar-se, pois se não ela nunca teria se estruturado em sociedade, já que também a construção do homem se dá a partir da relação com o outro, relação essa que leva a alteridade, em um espírito de bem comum.

Podemos ver em Tomás e também em Aristóteles uma visão mais realista da diversidade do mundo. Onde tanto em um quanto no outro excluem a possibilidade de encontrar um governo comum que abarque todos os povos, nas suas diversidades culturais. Porém ao mesmo tempo não podemos cair no relativismo de achar que tudo esta certo, pois ficou nítido que existem formas corretas e incorretas de se governar um povo, e se confirma uma forma correta, quando se foca no bem comum e não em qual quer outro interesse particular.

No penúltimo subtítulo falamos da sabedoria, também não esquecendo que em todos os itens desse artigo estão filósofos, que pelo simples fato de serem filósofos buscam a sabedoria; Sabedoria esta que foi definida por Tomás como a mais perfeita satisfação do homem, fica difícil concluir o artigo sem se voltar a ela. Para ser sábio deve ser amigo da sabedoria; não devemos esquecer qual é a função do sábio, esta função que cabe o sábio ordenar governar, que cabe ao sábio sair do seu comodismo e ir ao encontro da verdade, e que também cabe ao sábio a sua plena satisfação.

Pra encerrar no para o nosso contexto e analisando a forma atual de governo brasileiro pela luz de Tomás de Aquino, seja essa forma a nossa atual democracia, devemos ter o compromisso de assumir nossa atual condição, dando ainda mais foco ao bem comum; para isso acontecer não deve se esquecer do ofício dos sábios, sendo assim devemos assumir a responsabilidade de valorizar nossa voz democrática e colocar os sábios para nos governar, pessoas estudadas e com uma visão comunitária, segundo São Tomás de Aquino a fim do bem comum, que não passa da vontade de Deus.

REFERÊNCIAS:

AQUINO, Tomás de. Suma contra os gentios. Tradução: D. Odillão Moura e D. Ludgero Jaspers, Escola superior de teologia São Lourenço de Brindes : Sulina ; Caxias do Sul : Universidade de Caxias do Sul.

PLATÃO. Timeu-Crítias. Editora Abril. 3°ed. 2013.

LABRIOLA, Antonio. Obras filosóficas. Tradução: Líbero Rangel de

Andrade. Companhia Brasil editora. 1939. Rio de Janeiro.

PENSADORES. Platão. Editora Abril Cultural. 2ªed. 1979. São Paulo.

PENSADORES. Aristóteles. Editora Abril Cultural. 1978. São Paulo.

PENSADORES. Tomás de Aquino. Editora Abril Cultural. 2ªed. 1979. São Paulo.

BARNES, Jonathan. Aristóteles. Editora Idéias e Letras. 2009. São Paulo.

Jhony Paladino
Enviado por Jhony Paladino em 17/08/2018
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