A riqueza dos candidatos
Você viu as declarações de patrimônio dos candidatos à Presidência?
Estive avaliando sobre cada uma delas e isso ajuda a quebrar um paradigma que teima em vigorar no Brasil. Outro é o de que você não pode ganhar muito dinheiro investindo na Bolsa de Valores em ações que custam centavos – mas você pode começar a mudar sua vida imediatamente.
Agora quero levar a você esse assunto de outra maneira.
E isso foi motivado com a divulgação do patrimônio do concorrente do Partido Novo, João Amoêdo, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Está lá, para quem quiser ver: Amoêdo registrou posses de 425 milhões de reais. Nas redes sociais, o rebuliço foi quase imediato.
Nos comentários, li críticas de leitores como:
“Ficou rico graças à especulação financeira”; “Ganhou não produzindo nada”; “Fez fortuna explorando o povo”; “Impossível ficar rico assim sendo honesto...”
Talvez você tenha visto algumas dessas opiniões por aí. Não é aqui a minha intenção, tanto de promover o candidato quanto de julgar como o Amoêdo fez a sua fortuna, mas, toda essa “polêmica” em volta do seu patrimônio só reforça para mim uma verdade...
Para alguns brasileiros, riqueza é crime.
Ao contrário dos Estados Unidos, na Alemanha, na Inglaterra, etc... , onde os ricos são vistos como exemplo, por aqui quem teve sucesso é encarado com certa desconfiança. Isso se aplica mesmo a pessoas de origem humilde que subiram na vida por méritos próprios.
O próprio Partido dos Trabalhadores, na sua insana forma de produzir contencioso entre o trabalho e o capital, cometeu enormes barbaridades.
Recordo aqui quando o Sr. Antonio Emírio de Moraes foi candidato a governo do Estado de São Paulo em 1986 e deflagraram greves em suas empresas, em especial a Cia. Nitro Química em Mauá-SP. Dois anos antes, havia enfrentado greves na Cia. Niquel Tocantins. Um parêntesis aqui, só como curiosidade, durante esta experiência ficou chocado com as manobras políticas e fisiológicas, pois todos que o abordavam pediam cargos para poder ficar sem trabalhar.
Nessa oportunidade, em um debate, foi que definiu que “A política é arte de pedir votos aos pobres, dinheiro aos ricos e depois mentir a ambos.”
A fortuna pessoal do empresário era estimada em US$ 12,7 bilhões (segundo lista da Forbes 2014 – ano de seu falecimento aos 86 anos), o que o tornava então uma das pessoas mais ricas do mundo.
Curiosamente, aos invés de promover postos de trabalho, o PT e suas sanhas sindicalistas agiram como verdadeiros predadores do emprego em todo o Brasil, e, em especial, no ABC, de onde as indústrias fugiram, tornando-se esses municípios em “cidades dormitórios”, já que as oportunidades migraram para outros rincões, na busca de reduzir seus riscos de empreender.
Como trabalhador desde a minha mais tenra idade, dediquei parte dos meus interesses aos assuntos ligados ao universo do empreendedorismo. Fiz muitos cursos, tenho muitos amigos empresários bem-sucedidos e que começaram do zero e construíram verdadeiros impérios.
Sem me ater muito às questões históricas para buscar entender a aversão à riqueza que existe arraigada na população, talvez possamos encontrar razões na própria igreja e nas causas da dissidência de Martinho Lutero e do Calvinismo, antagônicos à pregação da pobreza em uma igreja abastada.
No século XVI a Europa foi abalada por uma série de movimentos religiosos que contestavam abertamente os dogmas da igreja católica e a autoridade do papa. Estes movimentos, conhecidos genericamente como Reforma, foram sem dúvida de cunho religioso. No entanto, estavam ocorrendo ao mesmo tempo que as mudanças na economia européia, juntamente com a ascensão da burguesia.
Por isso, algumas correntes do movimento reformista se adequavam às necessidades religiosas da burguesia, ao valorizar o homem “empreendedor” e ao justificar a busca do “lucro”, sempre condenado pela igreja católica.
Uma das causas importantes da Reforma foi o humanismo evangelista, crítico da Igreja da época. A Igreja havia se afastado muito de suas origens e de seus ensinamentos, como pobreza, simplicidade, sofrimento. No século XVI, o catolicismo era uma religião de pompa, luxo e ociosidade. Surgiram críticas em livros como o Elogio da Loucura (1509), de Erasmo de Rotterdam, que se transformaram na base para que Martinho Lutero efetivasse o rompimento com a igreja católica.
Moralmente, a Igreja estava em decadência: preocupava-se mais com as questões políticas e econômicas do que com as questões religiosas. Para aumentar ainda mais suas riquezas, a Igreja recorria a qualquer subterfúgio, como, por exemplo, a venda de cargos eclesiásticos, venda de relíquias e, principalmente, a venda das famosas indulgências, que foram a causa imediata da crítica de Lutero. O papado garantia que cada cristão pecador poderia comprar o perdão da Igreja.
A formação das monarquias nacionais trouxe consigo um sentimento de nacionalidade às pessoas que habitavam uma mesma região, sentimento este desconhecido na Europa feudal, Esse fato motivou o declínio da autoridade papal, pois o rei e a nação passaram a ser mais importantes.
Outro fator muito importante, ligado ao anterior, foi a ascensão da burguesia, que, além do papel decisivo que representou na formação das monarquias nacionais e no pensamento humanista, foi fundamental na Reforma religiosa. Ora, na ideologia católica, a única forma de riqueza era a terra; o dinheiro, o comércio e as atividades bancárias eram práticas pecaminosas; trabalhar pela obtenção do lucro, que é a essência do capital, era pecado. A burguesia precisava, portanto, de uma nova religião, que justificasse seu amor pelo dinheiro e incentivasse as atividades ligadas ao comércio.
A doutrina protestante, criada pela Reforma, satisfazia plenamente os anseios desta nova classe, pois pregava o acúmulo de capital como forma de obtenção do paraíso celestial. Assim, grande parte da burguesia, ligada às atividades lucrativas, aderiu ao movimento reformista.
Mas uma coisa sempre foi certa: as constantes reclamações de muitas pessoas sobre a “imoralidade” de alguém ter tanto dinheiro para si próprio – mesmo empregando milhares de pessoas e contribuindo para o rendimento de milhares de famílias, através da produção de bens e produtos e da geração de empregos, de forma direta e indireta.
No caso dos investimentos, a impressão parece ainda pior. Uma parte dos brasileiros realmente acredita que investir significa ser um “parasita”.
Essa parcela não entende que todos podem investir, mesmo aqueles que não tenham tanto dinheiro assim, para realizar objetivos cotidianos e se aposentar com dignidade. Mesmo porque, futuramente, será como em muitos países, nos quais não existe a enorme proteção ao assalariado, pesando nos investimentos dos empreendedores, e perdendo competitividade do que produz. Não que não deva ser protegido, mas, há que se sopesar até que ponto esses “benefícios” efetivamente se convertam em produtos competitivos nesse mercado agressivo. Mas, a aposentadoria, em breve, deverá ser bancada por cada trabalhador, através de uma previdência privada, e com contribuições mensais que sairão do próprio salário do trabalhador.
Não existirá mais aposentadoria através do governo (INSS).
São nossas economias mensais investidas em títulos públicos, nas melhores ações, em fundos e outros ativos que permitem que alcancemos as nossas metas de curto e longo prazos. Sem contar o impacto positivo que isso traz à economia brasileira.
Em um país como o nosso, sem o mínimo de educação financeira, o investidor é um “outsider”. Mas também um privilegiado, porque sabe que a independência financeira é possível e atingível.
E para quem acusa os investidores de serem “parasitas”, desejo felicidade para suas vidas e em suas aposentadorias do INSS, com direito ao teto de 5.645 reais mensais, por enquanto.
A eles, deixo “a” citação de Shakespeare – um dramaturgo e, claro, empreendedor de sucesso:
“Ser ou não ser, eis a questão! Que é mais nobre para alma: sofrer os dardos e setas de um destino cruel, ou pegar em armas contra um mar de calamidades para pôr lhes fim, resistindo?”.
Será sempre preferível lutar e conquistar a sua independência financeira que depender das benesses “garantidas” por governos que a cada dia ficam mais impossibilitados de manter as chamadas “conquistas dos trabalhadores”. Estas, antes de lhes garantir o futuro, lhes tiram as esperanças, eis que, junto com as “pseudo garantias” surgem os aproveitadores do suor alheio, tais como sindicatos, associações de classe e que tais, desvirtuando suas finalidades, fomentando o encarecimento da produção em primeiro plano e depois o desemprego e o despreparo do trabalhador acomodado por estas circunstâncias e que deixa de investir em si próprio.