A CLASSE TRABALHADORA: ANÁLISE ENTRE CAPITALISMO, PARTIDOS POLITICOS E SINDICALISMO.
*Sineimar Reis
Hobsbawm e Ricardo Antunes apresentam desde logo, um entendimento radical do fenômeno da classe social como categoria histórica, recusando-a como se fosse uma casa em construção, com início, meio e fim precisamente determinados. Assim,, não se a encontra pronta, no sentido de acabada, pois sua mudança é permanente. Apesar disso, faz sentido delinear sua emergência enquanto grupo social durante certo período.
De acordo com os autores Pochmann e Reginaldo Moraes, O trabalho fundamentou-se na heterogeneidade de ocupações geradas pelo sistema produtivo dominado pela sociedade urbana e industrial. De um lado, os ocupados mais bem inseridos no desenvolvimento capitalista constituíram uma brava elite operária que se organizou nos sindicatos de ofício, em grande parte anarquistas, estabelecendo em algumas situações, importantes mecanismos de proteção social (fundos de ajuda mútua e cooperativas de autoajuda).
Desde as mais antigas civilizações existem a divisão entre os que mandam e os que apenas obedecem e executam, o que abriu caminho para a divisão social, para as relações de dominação e a desigual apropriação dos frutos do trabalho. De acordo com os textos dos auores Ricardo Antunes e Eric Hobsbawm, permeiam uma frase que o trabalho é como mercadoria e alienação. Enfim existem vários sentidos para o termo alienação. Em todos eles, há em comum a noção de perda do ponto de vista jurídico, perde-se a posse de um bem; para a psiquiatrioa o alienado mental perde a dimensão de si na relação com outros; já no sentido político elaborado pelo marxismo, no século xix, o conceito de alienação foi utilizado por Karl Marx ao analisar a exploração dos operários nas fábricas criadas a partir da Revolução Industrial. Tornando-se em um estado que desencadeou movimentos socialistas e anarquistas, levando o povo em uma organização contra a exploração capitalista, formando sindicatos, fortes contra o proletariado, aqui no nosso caso, temos uma força sindicalista de luta dos trabalhadores brasileiro.
De acordo com Rodrigues Cardoso (1993) A Força Sindical foi fundada entre os dias 8, 9 e 10 de março de 1991, em São Paulo foi Criada como uma nova proposta para o cenário sindical brasileiro, a Central dizia abarcar os mais variados setores dos movimentos sociais.
Oficialmente, pelos documentos da secretaria da Força Sindical, teriam participado do congresso de fundação 1793 delegados, representando 783 sindicatos e federações, ao lado de 74 representantes internacionais. (Rodrigues Cardoso, 1993, p. 13).
Cardoso afirma que A novidade trazida pela Força Sindical estava presente tanto em seu projeto político como na sua prática. A nova Central objetiva mudar a sociedade brasileira transformando a cultura sindical brasileira. Contudo, ao contrário da mudança perseguida por outros projetos sindicais – especialmente aqueles referentes às tradições de esquerda que almejavam mudar a sociedade em direção ao socialismo, o caráter das mudanças propostas pela Força Sindical visava “lutar pelo capitalismo. A mudança se referiria ao conteúdo do capitalismo que existiria entre nós”.
Ser a central deste final de século pós-socialista, capaz de defender os interesses dos trabalhadores aqui e agora, sem relacionar as reivindicações imediatas à luta pelo socialismo, quer dizer, sem propostas utópicas que acabariam, na concepção da central, por induzir ao ‘socialismo burocrático’. Desse ângulo, a Força Sindical marca, em seu discurso, um rompimento com as tradições corporativas, nacionalistas e socialistas das correntes mais militantes do sindicalismo brasileiro e parece mais adaptada às mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais que estão marcando esse final de século (Rodrigues e Cardoso, 1993, p. 21).
Ricardo Antunes (2015) salienta que o caráter da transição brasileira não era do capitalismo para o socialismo (como apontam várias resoluções da CUT, com ênfase ao menos nos anos 1980), e sim, uma mudança entre um capitalismo selvagem para uma sociedade capitalista avançada, competitiva e moderna (Rodrigues e Cardoso, 1993). Sociedade essa que garantisse espaços de participação efetiva para os trabalhadores, reconhecendo-os como protagonistas das decisões, pois “era preciso dar aos trabalhadores o reconhecimento de que eles poderiam participar do processo, sentando às mesas de negociação e endurecendo quando necessário. Antes de tudo, que os trabalhadores fossem voz ativa dos novos tempos que viriam”.
Pensadores contemporâneos investigaram as mudanças decorrentes do capitalismo e do nascimento das fábricas, analisando-as sob outro ângulo, o da instauração da era da disciplina. Que de acordo com Michel Foucault, um novo tipo de disciplina facilitou a dominação mediante a docilização do corpo.
Eric Hobsbawm nos brinda em sua tese,que, o período entre o final do século XVIII e a primeira metade do XIX foi determinante para a formação da classe operária. Segundo Thompson, as transformações pelas quais passou o processo de produção, que antecedeu a grande indústria, influenciaram bastante as classes em formação. Na indústria têxtil é possível perceber que os mestres tecelões tiveram um papel primordial na formação do empresariado desse setor.
Thompson cita um longo trecho de uma carta de um “Oficial Fiandeiro de Algodão”, escrita em 1818, no início de uma greve. Nela é possível ver a importância dos mestres tecelões na condução das atividades produtivas.
Primeiro, então, sobre os patrões: com poucas exceções, são um grupo de homens que emergiram da oficina algodoeira, sem educação ou maneiras, exceto as que adquiriram nas suas relações com o pequeno mundo dos mercadores na Bolsa de Manchester. Para contrabalançar essas deficiências, procuram impressionar nas aparências, através da ostentação, exibida em mansões elegantes, carruagens, criados de libré, parques, caçadores, matilhas, etc., que eles mantêm para exibir ao mercador estrangeiro, de maneira pomposa. Suas casas são, na verdade, vistosos palácios, superando em muito a magnitude e a extensão dos charmosos e asseados retiros que podem ser vistos nos arredores de Londres... mas um observador atento das belezas da natureza e da arte notará um péssimo gosto. Mantêm suas famílias nas escolas mais caras, determinados a oferecerem a seus descendentes uma dupla porção daquilo que tanto lhes falta. Assim, apesar da escassez de idéias, são literalmente pequenos monarcas, absolutos e despóticos nos seus distritos particulares. Para manter tudo isso, ocupam seu tempo tramando formas de conseguir a maior quantidade de trabalho com a menor despesa... Em resumo, eu me arriscaria a dizer, sem receio de contradição, que há uma distância maior entre o mestre e o fiandeiro do que entre o mercador mais importante de Londres e seu mais humilde criado ou artesão. Na verdade, não há comparação. Afirmo com segurança que a maioria dos mestres fiandeiros desejam ansiosamente manter baixos os salários para que os fiandeiros permaneçam indigentes e estúpidos... com o propósito de colocar os excedentes em seus próprios bolsos.( THOMPSON, 1987).
Eric Hobsbawm retrata o período histórico no qual os principais símbolos, valores e classes sociais do mundo capitalista se formaram. Nas várias Eras (revoluções, capital, impérios e extremos) utilizadas pelo autor para estudar esse período, ele nos mostra as dinâmicas e os conflitos envolvendo nações, potências mundiais, economias e, especialmente, as novas classes surgidas com o capitalismo. o autor discute a “dupla revolução” com o poder de romper com forças que atravancavam o desenvolvimento econômico da sociedade. A Revolução Industrial libertou o homem das limitações impostas pela natureza, enquanto a Revolução Francesa tornou o homem livre dos valores retrógrados do Antigo Regime.
Para exemplificar, o debate, vamos dar um giro nos artigos do capítulo, como o Taylorismo, por exemplo, que foi visto o trabalho como migalhas. O estadunidense Frederick Taylor, no início do século XX, elaborou uma teoria conhecida como taylorismo, Partindo do princípio de que os operários são indolentes e não sabem usar seus gestos de modo econômico, Taylor estabeleceu um controle científico por meio da medição com cronômetros, para que a produção fabril fosse cada vez mais simples e rápida. Defendeu a criação de um setor de planejamento responsável pelo saber como produzir, que deixava nítida a separação entre a concepção e a execução do trabalho, isto PE, entre o projeto e sua realização, entre o pensar e o fazer.
Para entender toda esta, relação entre classe trabalhadora, capitalismo, partidos políticos e a entrada do sindicalismo contra o grande mal do capital apresento o discurso que...
Pode-se afirmar que a Força Sindical foi, desde logo, um desdobramento do sindicalismo de resultados. Este surgiu da articulação de duas trajetórias sindicais distintas, que, a partir da segunda metade da década de 1980, passaram a defender o mesmo projeto político. De um lado, o grupo de ativistas que tem na liderança de Luiz Antônio de Medeiros sua maior expressão; oriundo do PCB, este dirigente sindical foi para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo para concretizar uma nova forma de ação sindical (Nogueira, 1998). De outro, a liderança de Antônio Magri, dirigente que fez sua carreira política no Sindicato dos Eletricitários do Estado de São Paulo e era uma espécie de representante de uma corrente sindical de influência norte-americana, que convivia e se mesclava com o velho peleguismo brasileiro, da qual a Força Sindical foi também herdeira. (Antunes, 1995).
Para Ricardo Antunes e Jair Batista (1995 e 2013) O ideário do sindicalismo de resultados combinava essa sua origem dúplice ou tríplice com a nova pragmática neoliberal, que expressava a concordância com a sociedade de mercado e o reconhecimento da vitória do capitalismo; sua ação sindical deveria buscar a melhoria das condições de trabalho, sem extrapolar este âmbito da melhoria da força de trabalho. Acrescentava, ainda, que não caberia aos sindicatos nenhuma interferência partidária, mas sim, uma ação e influência na esfera política.
O processo de formação da Força Sindical combinava a rejeição ferrenha ao confronto, ao mesmo tempo em que as ações sindicais são estrategicamente calculadas para não ultrapassar a esfera da negociação. De fato, a greve era concebida como a última alternativa depois de esgotadas todas as possibilidades de negociação. Conforme sua indicação: “fracassada a negociação, as entidades de representação sindicais de trabalhadores podem utilizar o instrumento da greve, sendo que, nos casos de serviços essenciais, alguns procedimentos específicos deverão ser preservados” (Força Sindical, 1993, p. 524).
É nesta contextualidade adversa que se desenvolve o sindicalismo de participação em substituição ao sindicalismo de classe. Participar de tudo..., desde que não se questione o mercado, a legitimidade do lucro, o que e para quem se produz a lógica da produtividade, a sacra propriedade privada, enfim, os elementos básicos do complexo movente do capital. As perspectivas generosas da emancipação humana, tão caras a Marx, foram ou estão sendo pouco a pouco trocadas pelos valores da acomodação social-democrática.
No que diz respeito ao mundo do trabalho, as respostas são complexas e envolvem múltiplas processualidades, tento aqui configurar um esboço explicativo para a crise que assola a classe trabalhadora (nela incluindo o proletariado) e em particular o movimento sindical. É visível a redução do operariado fabril, I dustrial, gerado pela grande indústria comandada pelo binômio taylorismo-fordismo, especialmente nos países capitalistas avançados. Porém, paralelamente a este processo, verifica-se uma crescente suproletarização do trabalho através da incorporação do trabalho precário, temporário, parcial etc.
O sindicalismo não permaneceu imune a estas tendências: diminuíram as taxas de sindicalização, nas últimas décadas nos EUA, Japão, França, Itália, Alemanha, Suíça, Reino Unido, entre outros países. Com o aumento do fosso entre operários estáveis e precários , parciais, reduz-se fortemente o poder dos sindicatos, historicamente vinculados aos primeiros e incapazes, até o presente, de incorporar os segmentos não estáveis da força de trabalho.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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Força Sindical. História da Força. disponível em www. fsindical.org.br (acessado em julho de 2015)
HOBSBAWM, Eric. O fazer-se da classe operária. IN: Mundos do trabalho: novos estudos sobre história operária. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
HOBSBAWM, Eric. J. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
MARX, Karl. A ideologia alemã. São Paulo: Martin Claret, 2005.
______. Manifesto do Partido Comunista. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1990.
______. O capital: crítica da economia política. 18. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. L. 1.
*Possui graduação em História pela Instituição Educacional Cecilia Maria de Melo Barcelos Faculdade Asa de Brumadinho, Minas Gerais, (2012). Graduado licenciado em Artes Visuais pela Faculdade de Nanuque, Minas Gerais, (FANAN) 2015. Cursa Mestrado em Políticas Públicas e Urbanização no Brasil e na América Latina pela Faculdade Latino Americana (FLACSO-BRASIL). Tem experiência na área de História com ênfase nos seguintes temas: Ciência política e políticas públicas sociais e educacionais, história contemporânea e política brasileira e do tempo presente. Arte contemporânea em relação ao público escolar, arte pública e poder público. Aborda principalmente os seguintes temas: História social da cultura, políticas públicas governamentais e educacionais, arte no espaço urbano e espaço arte. Músico tocador de flauta transversal e artista especialista em desenhos realistas. Tem vasta experiência com ensino fundamental e médio. Atua como professor da rede Estadual de ensino nas disciplinas de história e arte, atualmente leciona arte em duas escolas da rede pública na cidade de Betim e Contagem/MG na modalidade Fundamental e Médio. No dia-a-dia direciona o Instituto do Patrimônio Histórico da Cidade de Betim. Coordena e participa de grupos de pesquisa e seminários em estudos voltados para as políticas públicas desenvolvendo projetos sociais junto ao movimento dos trabalhadores que contribui com o processo de reforma agrária e por uma sociedade mais justa.