COMO A DITADURA PARIU BOLSONARO (e tantos outros...)

Conheço algumas pessoas que são admiradoras de Bolsonaro e já travei alguns debates com elas pessoalmente.

Elas têm em comum a crença de que o comunismo domina o Brasil, a mesma crença propagandeada pelos militares para que pudessem tomar o poder e torturar e matar pessoas presas e indefesas que discordassem deles em algum ponto.

A minha tese é de que essa mentalidade foi forjada pela propaganda da ditadura militar e transmitida às novas gerações pelos mais velhos (comunista come criancinhas, queima bíblias etc). Porém essa crença não poderia ser mantida se não houvesse a figura do machão incorporada por Trump, Bolsonaro e muitos outros famosos e cidadãos comuns.

O machão é o cara que defende a família e os valores cristãos, a intransigência, a propriedade, o sexo masculino, o porte de arma, a tortura, a execução ou linchamento de quem pratica crimes, uma polícia que esteja autorizada a prender e aplicar pena de morte, o desinvestimento em políticas sociais e educacionais etc.

É uma figura do século XIX, portanto, mas agora conduzida a crer que políticas sociais e igualitárias são comunismo e que o neoliberalismo se opõe a elas, representando, portanto, o BEM, segundo essas pessoas.

O machão gosta de se declarar adepto às ideias de igualdade, liberdade e fraternidade defendidas pela Revolução Francesa, porém critica medidas como o Bolsa Família e as cotas nas universidades, que objetivam dar a todos as mesmas oportunidades; considera correto prender, torturar e matar pessoas que discordem de um governo autoritário e acha que cada um deve se virar, ninguém deve auxiliar os que não tenham trabalho, comida ou moradia.

Desnecessário dizer que o machão contraria os princípios da religião que ele afirma defender, que são compaixão, não-violência, caridade, fraternidade, amor ao próximo, tolerância, compartilhamento etc.

Obviamente o machão estará sempre fechado ao diálogo, já que é movido por sentimentos e crenças que são a própria identidade dele, ainda que esses sentimentos e crenças sejam claramente contraditórios e desconectados da realidade em que eles vivem, além de também revelarem profunda ignorância acerca de história, política e economia.

Assim, penso que Bolsonaro e seus fãs não são somente um produto do machismo, autoritarismo, patriarcalismo e patrimonialismo que dominaram o mundo durante séculos, são um produto ainda pior, porque ignorantes acerca de política e de economia e mais maniqueístas e fanáticos que os conservadores do passado.

Prova disso é estarem certos de que comunismo é a defesa da liberdade sexual, do auxílio aos necessitados, da justiça social, da igualdade de gênero etc. Prova disso é apontarem qualquer um que critique atos ou ditos de Bolsonaro como comunista, sem analisarem o que foi dito, se correto ou incorreto. Limitam-se apenas a considerar qualquer crítica a Bolsonaro como incorreta, pois "comunista..." Comunismo virou palavra-ônibus para eles, define absolutamente tudo... Um sinônimo para comunismo seria MAL, segundo o dicionário do mitômano, e para neoliberalismo seria BEM.

Enfim, é a renúncia total ao raciocínio crítico e o apego fanático a uma crença claramente forjada por militares durante os anos em que controlaram a educação e a mídia deste país. Não à toa Bolsonaro é grande admirador de militares, assim como seus fãs.

Edgley Gonçalves
Enviado por Edgley Gonçalves em 04/08/2018
Reeditado em 04/08/2018
Código do texto: T6409162
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