A fome com a vontade de comer
Infelizmente, hoje, quando falamos em política no Brasil, não podemos deixar de falar em corrupção. Chegamos a essa constatação insofismável. As duas estão sempre íntima e intrinsecamente ligadas. Todos os partidos, simplesmente todos, possuem em seus quadros parlamentares processados, condenados ou suspeitos por ações de lavagem e/ou desvio de dinheiro público, formação de quadrilha, recebimento e/ou pagamento de propina e coisas do gênero.
A questão é tão absurda que a prática de ilícitos não se dá com um ou outro elemento dos diferentes partidos. Ocorre com a maioria, senão com todos os seus integrantes.
É natural que pensemos, por força dessas circunstâncias, que quando o cidadão é eleito, ele terá que fazer parte de uma organização voltada para a manutenção das vantagens pessoais instituídas em lei e para a prática de procedimentos irregulares e escusos que culminam, em geral, no enriquecimento ilícito. Quem não se adaptar a essa realidade do vínculo empregatício terá que desistir da carreira.
Como se não bastasse essa constatação, difícil de ser contestada na sua totalidade, existem ainda financiamentos milionários para as campanhas eleitorais. Isto é, os candidatos são beneficiados com verbas para o favorecimento da sua eleição. E o eleitor não poderá faltar à OBRIGAÇÃO de os eleger. Esse é um dos atributos da nossa incorrigível democracia.
Assim, no Brasil os rios correm verdadeiramente para o mar. A fome junta-se à vontade de comer.
E o pior é que essa percepção, de modo algum absurda, nem sempre está ao alcance do cidadão brasileiro – comum ou não, rico ou pobre, politizado ou não esclarecido politicamente –, para que ele pudesse ao menos se achar na condição de fazer maiores exigências quanto às candidaturas que se oferecem.
Rio, 30/07/2018