No filme “Cruzada”, de Ridley Scott, a rainha de Jerusalém, Sibila, ao saber que seu amante, o cavaleiro Balian, se recusara a casar com ela, porque, se o fizesse se tornaria responsável pela morte do marido dela, o rei Guido de Lusignan, disse: “chegará o dia em que desejará ter feito um pouco de mal para obter um bem maior”.
Talvez seja isso que Geraldo Alckmin esteja pensando ao costurar alianças com os partidos e políticos do chamado Centrão. Pois é nesses partidos que se encontra a grande maioria das “tranqueiras” que congestionam nossas casas legislativas e não deixam que este país encontre um caminho para sair do lodaçal em que se meteu com a sua política de alianças e pragmatismo predador.
Aliás, as alianças que Alckmin está fazendo indicam que ele não mudará absolutamente nada neste país, se for eleito. Tudo indica que pretende perpetuar a bandalheira e a imoralidade que se tornou a principal marca da política brasileira. Se estivesse pensando o contrário não estaria se juntando com elementos do tipo Paulinho da Força e outros notórios vigaristas, que tanto prejuízo deram ao país.
Confesso que já tive minhas simpatias pelo PSDB. Apesar de o ministro Delfin Neto chamá-los de “urubús de papo amarelo” eu confiava nos tucanos no tempo de Mário Covas, a quem conheci pessoalmente quando trabalhava na Receita Federal em Santos; de Franco Montoro, que foi meu professor na PUC; de Fernando Henrique Cardoso, a quem admirei como político e professor. Eram políticos que eu considerava sérios. Por isso não gosto nada das alianças que o Alckmin está costurando, pois a meu ver os minutos que ele vai ganhar na televisão não vão compensar a credibilidade que ele perde ao trazer para o seu lado justamente uma súcia de políticos que eu gostaria de ver eliminados da vida pública.
Talvez, como disse a rainha Sibila, fazer um pouquinho de mal se justifique quando se pretende alcançar um bem maior. No caso, o bem maior, para Alckmin, seria sua eleição para a Presidência da República. Talvez ele pense que depois de eleito, poderá se livrar das “malas” que está ajuntando no seu carrinho, para ganhar tempo de televisão. Mas, como escreveu Goethe em seu famoso poema “A Tragédia de Fausto”, quem faz pacto com o demônio assina sentença de danação e dela não se livra nem pelo amor.
Ou talvez Alckmin(que lembra alquimista) também ache, como o filósofo Maniqueu (Manes), que “demon est Deus inversus”. Assim, sendo o diabo a face sombria de Deus, não seria possível a existência do mundo (nesse caso, o seu governo) sem a participação dessa gente. Mas eu, que não sou maniqueísta nem acredito que o mal seja necessário para a existência do bem, já vou dizendo logo. Se é com esse tipo de parceria que ele pensa governar, o meu voto ele já perdeu.
A propósito, falando em cinema, uma chapa com Jair Bolsonaro e Janaína Pascoal é juntar o Darth Vader, vilão de Guerra nas Estrelas com Theodora, a bruxa malvada do oeste, do filme Mágico de Óz. Só mesmo Deus para nos salvar de uma parceria tão sinistra.