SOBRE POBRES DE DIREITA
Um motoboy queixava-se da greve dos caminhoneiros, pois, segundo ele, o preço do leite havia subido após a paralisação.
Um produtor rural aderiu à queixa, dizendo que também sofrera prejuízo com a greve.
Nenhum dos dois parecia considerar as motivações que levaram os caminhoneiros a esse protesto, se justas ou injustas. O frete não estava mais compensando? Os pedágios estavam muito caros? O preço do diesel estava absurdo? Nada disso interessava aos dois, afinal eles não eram caminhoneiros, o que consideravam indiscutível é que foram prejudicados pela greve e era isso o que importava afinal.
Numa frase: cada um por si, ninguém por todos.
Assim é o capitalismo, pouco importa a situação do outro, o que importa é que ele não deve nos prejudicar.
E cadê a "mão invisível" de Adam Smith, que regularia o mercado por si só, nesse caso?
Ora, permanece invisível, já que não existe mesmo...
O que existe é a luta de classes: de um lado os caminhoneiros reivindicando melhores salários; do outro lado a elite e o pobre motoboy que se queixa do único instrumento de protesto que ainda resta a trabalhadores oprimidos como ele, a greve.