CLASSES SOCIAIS E DESENVOLVIMENTO

Sou um grande interessado em classes sociais, leio quase tudo sobre isso, especialmente sobre classe média, porque acredito que seu crescimento é que determina o desenvolvimento do país. É engraçado ver em depoimentos que tanto um chefe de pedreiro que ganha R$ 1.500 como alguém que ganha mais de R$ 50.000 juram que são de classe média. Ambas são mentiras, entender o porquê é fundamental para quem quer realmente um país melhor.

Há muita confusão para se conceituar o que seja classe média. Todo mundo que não é miserável, tem um emprego estável, se diz de classe média. Entendo, dizer que alguém é pobre diminui uma pessoa, é humano querer se ver como progredindo na vida.

O PT entendeu muito bem isso, sua propaganda que Lula tirou mais de 36 milhões de pessoas da pobreza ecoa até hoje. Nunca foi bem esclarecido que o que se fez com os programas sociais foi aumentar a renda dos pobres para acima de US$ 2 por dia (mais ou menos R$ 360 a dinheiro de hoje na época), o parâmetro da ONU para pobreza moderada. Como se alguém que ganhava menos de R$ 200 e passou a ganhar R$ 500 por mês pudesse ter outro nome que não pobre.

A propaganda foi ótima, faz as pessoas se sentirem bem e votarem no partido. Só não é verdade que essas pessoas tenham saído da pobreza. Se o salário mínimo do DIEESE, que mede o quanto uma família precisa para atender suas necessidades mínimas (comer, morar, ter transporte para trabalhar) é mais ou menos R$ 5.400 (R$ 1.350 por pessoa),famílias com renda abaixo disso são pobres, simples e triste assim.

Por outro lado, se você perguntar a quem ganha mais de R$ 30.000 por mês, ele vai se dizer de classe média. Também entendo, se dizer rico o tornaria alvo de bandidos e como parte da odiada “Elite”. Pior que isso, faria com que a lógica fosse que pagasse maiores impostos ou que seu ganho tivesse de ser reduzido.

Também não é verdade que essas outras pessoas sejam classe média. Quem ganha acima de R$ 25.000 no Brasil e gasta com um mínimo de bom senso não tem nenhuma necessidade básica (alimentação, moradia, educação, saúde, segurança, transporte) não atendida, pode acumular riqueza.


Em outras palavras é rico, e é sim da elite. Dizer-se de classe média é uma estratégia para disfarçar riqueza, não se expor, se proteger dos tributos e manter privilégios. É essa camada da população que tem renda que poderia ser redistribuída e continuar vivendo bem. Simples assim.

Portanto, proponho um conceito mais verdadeiro de classe média, é a camada da população com renda familiar entre os R$ 5.400 do salário mínimo do DIEESE e cinco vezes esse parâmetro, R$ 25.000.

Essa verdadeira classe média é a camada da população que tem como bancar suas necessidades básicas de alimentação, moradia e transporte básico, mas depende parcialmente de serviços do governo, em especial de educação, saúde, segurança e transporte para o que não seja trabalhar ou estudar.


A classe média é fundamental para o desenvolvimento de um país e é a maioria da população em qualquer nação desenvolvida. Sempre haverá pobres e ricos, enquanto os pobres forem a maioria da população, país não será desenvolvido.

Isso é por um motivo muito simples, que é a necessidade de dinheiro público para as famílias viverem. Se a maior parte da população é pobre, não vive sem serviços do Estado, desde o mínimo do mínimo (alimentação, moradia e transporte), até saúde, educação e segurança gratuitos, essa maioria significa GASTO PÚBLICO e exige mais tributos para pagar por eles. Ela não consegue acumular recursos para mudar de classe social.

A partir do momento em que a maioria da população consiga viver sem todos esses serviços, possa bancar ao menos parte deles, exige menos investimento público e passa a ser comprar bens e serviços, gerando CONSUMO/POUPANÇA e desenvolvendo a economia do país. Somente com recursos acima do mínimo se consegue poupar para evoluir no longo prazo.

Exemplificando, imagine que a tabela do imposto de Renda fosse atualizada e que uma família com renda de R$ 7.000 consiga pagar um plano de saúde com o valor que recolhe a menos de imposto. Simultaneamente, teremos menos gasto para o governo e menos fila para os mais pobres, porque a família deixa de usar o hospital público, e consumo, demanda gerando empregos na clínica particular. É o legítimo Ganha-Ganha.

Não estou dizendo que atender as camadas mais pobres e oferecer programas sociais, a grande plataforma da esquerda, não seja necessário. É mais que isso, é questão de sobrevivência de pessoas, precisa manter os programas. Mais, precisa haver uma política de elevação do salário mínimo atual para chegar no nível do DIEESE.

No entanto, por mais que se ajude aos pobres, enquanto não ultrapassarem ao menos a renda mínima para a sobrevivência, os R$ 5.400 do DIEESE, isso não mudará o patamar de desenvolvimento ao país. Prova disso é que após 15 anos investindo, desde a redução da inflação com o Plano Real de FHC e apesar dos Bolsas Família e outros de Lula e Dilma, seguimos um país de pobres.

Não fui eu quem disse isso. Foi um estudo, com resumo publicado em setembro de 2017 na Folha de São Paulo, sob o título “Desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015“
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Diz o estudo: “A desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015 e permanece em níveis "chocantes", de acordo com um estudo feito pelo World Wealthand Income Database, instituto de pesquisa co-dirigido pelo economista Thomas Piketty, conhecido por seus estudos sobre desigualdade com a obra "O Capital no Século 21".
Segundo a pesquisa, os 10% mais ricos da população aumentaram sua fatia na renda nacional de 54% para 55%, enquanto os 50% mais pobres ampliaram sua participação de 11% para 12% no período. Esse crescimento foi feito às custas de uma queda da participação de dois pontos percentuais dos 40% que estão entre os dois extremos (de 34% para 32%).”


Também não estou dizendo NÃO à redução do estado, maior proposta da direita. Ela também é necessária, o estado brasileiro gasta muito e mal, uma reforma administrativa que reduza privilégios e o poder dos políticos nos órgãos públicos pode economizar bilhões.

É preciso reduzir benefícios dos servidores que recebem salários e aposentadorias acima do teto de R$ 39.000. É uma transferência de riqueza, criação de uma casta de servidores ricos às custas dos impostos pagos por TODOS a favor de muito poucos. Pior, quando deixarem de trabalhar para nós, esses poucos se aposentarão com quase o mesmo ganho, e quando morrerem deixarão pensões para que seus cônjuges, filhos e talvez netos continuem ricos.

Todavia, enquanto a maioria da população for pobre, o gasto público crescerá mais, ainda que o Estado seja bem gerido e esses bilhões economizados,eles serão insuficientes.


O meu ponto é que falta uma proposta política focada em aumentar a classe média e sua renda. Essa seria a distribuição de renda que ficaria, que mudaria o país para sempre, transformaria quem depende de ajuda em consumidores e contribuintes. Essa questão é a fundamental para o desenvolvimento.

A classe média verdadeira é composta de assalariados e pequenos empresários. Para aumentar seus ganhos, depende de políticas de aumento de salários e de redução de impostos sobre ganhos do trabalho e de pequenas empresas.

Ou seja, política para salários e reforma tributária, e redução dos gastos com supersalários e aposentadorias. No dia em que a classe média for a maioria da população, estaremos no caminho do desenvolvimento.

É uma agenda de centro, com a redistribuição de renda via tributação dos mais ricos (proposta de esquerda) e reforma administrativa com redução de gastos do estado com essa pequena parte dos servidores (proposta de direita).


Não acho que verei nenhum partido focado na classe média nas próximas eleições. No entanto, acho que um dia alguém vai entender que investir na redução da desigualdade e focar no aumento da verdadeira classe média é o caminho para o desenvolvimento. Digo mais, isso NÃO REDUZIRÁ os ganhos dos ricos. Eles pagarão mais tributos, mas seus negócios terão mais consumidores e eles ficarão ainda mais ricos e viverão num país melhor.

O Chile, país com muito menos recursos que o Brasil, parece ter entendido. Lá, a classe média no Chile saiu de 23,7% da população em 1990 para 64,3% em 2015. O resultado é que a renda per capita lá naquele ano era de US$ 26.823 enquanto a nossa era US$ 9.085. Mantido o ritmo atual, em 10 anos será o primeiro país desenvolvido da América Latina.

Nós, se continuarmos ignorando essa lógica e transferindo recursos da classe média para ricos, seguiremos como estamos, um país subdesenvolvido de desigualdade extrema. Será que não é hora de mudar?
Paulo Gussoni
Enviado por Paulo Gussoni em 01/07/2018
Reeditado em 21/04/2021
Código do texto: T6378471
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