Atacando a Defesa do Indefensável

Ao autor.

Quase me faltaram palavras para lhe descrever o que senti ao ler o seu texto nesta media.

Autor, tive que conter a ânsia ao ler este texto.

A visão romântica e feliz que alguns seres humanos conseguem tecer sobre Inferno sempre me espanta. E enoja.

Assusta-me um professor especializado em Literatura Russa não mencionar a censura, o sequestro das mentes e das almas, a perseguição implacável que milhares de ESCRITORES RUSSOS sofreram após a Revolução, durante longas e nefastas décadas ( e que perdura até hoje, sob o chicote de Putin, por quem o colunista suspira ao final do texto). Assusta-me mais que Freddie Krueger.

E se fosse só este o motivo do espanto, ainda poderia dar um desconto. Conheço especialistas de todos os tipos que sabem de muitas coisas sobre quase tudo menos sobre os assuntos nos quais se aprofundam.

Estava, por isso, disposta a relevar o fato de um estudioso de literatura Russa citar Maikoski sem mencionar que ele se matou devido ao ambiente sufocante de censura. E sem citar também os tantos outros, de Zamiatin ( que ainda no pós da Revolução sangrenta) à Babel, que foi preso, torturado e EXECUTADO. Se esqueceu de mencionar até Simonov, o preferido de Stalin. Talvez o autor não saiba mas até este, Konstantin Simonov ( aquele que embalou os sonhos utópicos dos soldados no front da guerra com o seu poema " Espere Por Mim") se arrependeu ao final da vida por ter sido conivente com o TERROR, especialmente contra escritores JUDEUS.

Vladimir Korolenko, Varlam Chalámov, Anna Akhmátova, Isaac Babel, Alexander Soljenítsin são apenas algumas das milhões de vidas para sempre feridas, marcadas e aniquiladas pela FOICE.

Iria relevar mas não relevei pois os absurdos do texto continuaram. E numa espiral de canalhice, enalteceu até o Komonsol.

Porque o autor não mencionou que para ser membro desta " escola" de doutrinação do espírito soviete era preciso fazer parte da elite do Estado Soviético? Como ser filho de membro do Partido, não ter nenhum parente preso ( e isso num ambiente onde milhares desapareciam sequestrados e enviados para os gulags todas as noites), não ser um Kulak ( proprietários de terra que tiveram suas propriedades sequestradas pelos terroristas vermelhos, suas famílias destroçadas, perderam a cidadania, foram perseguidos, torturados, presos e assassinados) dentre outras exigências? Será que é só cinismo do autor ou uma tentativa de romantizar tal aberração?

Eu me questionei só pr uns segundos pois, conforme fui lendo o texto, eu mesma me respondi: é a segunda hipótese e que não exclui a primeira. É um cínico também.

Achou bonito uma foto de uma camponesa numa Fazenda Coletiva, foi?Pois saiba ( você sabe, só escrevo aqui pra que a sua repentina e canalha amnésia não fique por isso mesmo) que por trás desta foto que você floriu estão milhares de famílias completamente destruídas e milhões de corpos.

Achou inspirador contar sobre o trecho de Doutor Jivago, aquele onde o desejo mais íntimo ( e que não podia ser sequer mencionado sob pena de "desaparecer") de não ser obrigado a dividir um espaço de poucos metros com mais dezenas de famílias inteiras, escolhidas pelo Estado? Porque lhe faltou então vergonha na cara para contar também que Pasternak foi um dos autores que caíram em desgraça nesses "lindos campos nostálgicos" dos seus sonhos? Que também ele foi perseguido ao ponto de ter sido obrigado a recusar o Nobel que recebeu pela obra em 1958?

A vida privada na Rússia comunista que você, autor do tenebroso texto, professor (!) e doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela FFLCH-USP, com pós-doutorado em Literatura Russa pela Northwestern University (EUA), diz não ser muito conhecida já foi detalhada em livros necessários, estupendos e sufocantes, como o de Orlando Fieges - Sussurros. Você deve conhecer, mas preferiu falar sobre a vida privada que o Estado Russo permite que se fale. E se faça propaganda, como a que você evidentemente fez.

Em Sussurros, todas as suas romantizações são DESMASCARADAS. E não só as suas como a de todos os outros canalhas que insistem em colocar flores numa ideologia Sinistra que produziu, SEMPRE, regimes NEFASTOS e assassinos que aniquilam corpos e almas.

As flores que você dedicou para enaltecer as abominações anti-humanas ocorridas na URSS e nos diversos outros satélites dessa ideologia sinistra, deveriam ser depositadas é sobre os túmulos dos mais de 100 milhões de mortos, dos milhões de almas destruídas consequências diretas dela.

Felizmente, vivo num país livre e não serei a obrigada ter um professor como você dando aulas para a minha filha.

Jamais deixaria.

(Sussuros: o título do livro se refere ao hábito que se tornou comum na Rússia de Stalin pois as pessoas tinham medo de falar qualquer coisa, principalmente nos apartamentos comunais minúsculos que eram obrigadas a dividir com outras famílias desconhecidas - e sempre repletas de informantes: as famílias, as pessoas, os indivíduos sussuravam. E a partir de determinado momento, quando o TERROR tomou conta de tudo, nem isso faziam. Nem pensavam mais pois tinham medo até do próprio pensamento).

Há muito tempo, confesso ao autor, não lia um texto tão CANALHA quanto o seu.

(Michele Prado).

Gary Burton
Enviado por Gary Burton em 26/06/2018
Código do texto: T6374285
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