QUEM SÃO OS NOSSOS INIMIGOS?
Quase dois anos, o golpe de Estado afirmou-se em toda sua dimensão, pela combinação da ação planejada dos golpistas e da dificuldade nacional em compreender o seu caráter geopolítico mais profundo
“O golpe de estado parece inevitável, mesmo diante das manifestações internas de protesto e da opinião pública mundial contrária”, escrevemos em agosto de 2016. “Além da ausência de uma reação unitária e organizada, a exemplo da Turquia, os golpistas parecem ter uma força ‘estranha’ capaz de blindá-los contra tudo e todos, além da mídia”, dissemos ainda. E completamos afirmando que “a força, o “leitmotiv” dos golpistas – chefes, operadores e interessados, é a força do terror, da destruição, da liquidação do Estado Nacional”.
Passados quase dois anos, o golpe de Estado afirmou-se em toda sua dimensão, pela combinação da ação planejada dos golpistas e da dificuldade nacional em compreender o seu caráter geopolítico mais profundo. Ainda hoje, a oposição em geral está um passo atrás de cada movimento dos golpistas, que promovem uma série de atentados planejados com objetivos determinados ou diversionistas. Desde o impeachment, passamos pelo “não vai ter golpe”, “fora Temer”, “diretas já” para, só agora, identificar, ainda que timidamente, o verdadeiro inimigo.
“Quem são os nossos inimigos? Quem são os nossos amigos? Essa é uma pergunta importantíssima para a revolução”, questionou a seu tempo Mao Tse Tung, o líder da guerra de libertação chinesa. É disso que se trata neste momento, a identificação clara de quem é o inimigo não apenas dos trabalhadores, mas do povo e, principalmente, do Estado brasileiro. A compreensão de que estamos em guerra – uma guerra híbrida -, sob ataque externo, e não apenas de quintas-colunas, é condição fundamental para nos movermos no campo de batalha.
Diante disso, de um cenário de guerra aberta de destruição, de agressivo ataque ao Estado brasileiro, como uma guerra do Iraque sem bombas, a crise econômica e social empurrará a sociedade para a insurgência social. Em guerras, a institucionalidade burguesa tradicional vai pelos ares, impedindo qualquer alternativa que não sejam soluções profundas e coletivas – políticas, econômicas, sociais e institucionais. O ataque externo colocou em cheque a organização do Estado brasileiro, principalmente suas instituições que faliram ao aderirem aos invasores, traindo os interesses nacionais.
Como explicar uma Nação permitir que um juiz de primeira instância, como Sérgio Moro, comande livremente um “cavalo de Tróia” contra sua indústria de defesa, de infraestrutura e contra o pré-sal e a Petrobras? Ou que suas Forças Armadas se finjam de “profissionais isentos” para não impedir a destruição de empresas estratégicas e de defesa nacional que, aliás, os próprios militares, como os generais Horta Barbosa e Ernesto Geisel, deixaram de herança ao país? Como é possível um país em guerra conviver com uma Polícia Federal, um Ministério Público e um STF capturados por potências estrangeiras?
Incorre em erro que subestimar a profundidade da crise em curso e seu desdobramento futuro, que cobrará um alto preço de traidores, mas também de “isentos” e dissimulados, preocupados apenas com (suas) eleições. Aos poucos o povo, está compreendendo quais são as razões de suas dificuldades, de seu sofrimento, e reagirá à sua maneira, cobrando soluções. Não por acaso, em especial os mais pobres, mantém Lula em seu radar, mesmo preso, como sua alternativa de liderança e de poder, pois sabem que o Brasil precisa de um estadista capaz de comandar a Nação e impedir a escravização de seu povo.
O Brasil tem vocação de grande Nação, por sua dimensão geográfica, por seus recursos naturais, pela dimensão de seu mercado interno, em choque, portanto, com a tentativa de submissão neo-colonial em curso, objetivo central do golpe. Aos Estados Unidos e suas petroleiras interessa adonarem-se das reservas do pré-sal, impedir o desenvolvimento de nossa indústria de infraestrutura e de defesa. Ao sistema financeiro interessa drenar o orçamento da União unicamente para os cofres de seus bancos e instituições financeiras, em detrimento das necessidades do desenvolvimento do Brasil e do bem estar de seu povo.
A crise dos combustíveis e a greve dos caminheiros explicitaram um cenário favorável à compreensão do caráter do golpe, atiçaram dúvidas e questionamentos, mas é preciso ir mais fundo. É hora de colocar o inimigo na mira, aos olhos do povo, superando o “republicanismo” caipira que impede a percepção do nível de enfrentamento político, econômico e estratégico em curso. Responder essas “perguntas” é dever de democratas e patriotas, explicando ao povo quem promove o ataque ao país, quais os interesses em jogo, o papel dos traidores, de forma clara, objetiva, com nomes e fatos.
Fonte: FERNANDO ROSA - blog Senhor X