Intervenção

Eu tenho buscado, por vezes, analisar os dois lados de uma mesma questão. Tenho tentado isso como uma estratégia de vida, já que estamos sempre cercados por um grupo que pensa em consonância conosco, o famoso algoritmo do Facebook é exemplo, analisar os dois lados é importante para não cairmos na velha ilusão de que estamos certos e os outros errados.

Existem opiniões que devem ser respeitadas. Nem todas devem. Opiniões favoráveis ao Nazismo, Racismo, Xenofobia, tudo isso não tem um lado defensável e por isso não são opiniões que você respeita.

Imagine um judeu sentado à mesa com um supremacista ariano defendendo o holocausto e tudo de ruim que já sabemos sobre o Terceiro Reich. Não seria um jantar muito agradável, em especial ao judeu que seria obrigado a ouvir o que lhe causa dor e sofrimento.

Pois bem, com essa greve dos caminhoneiros ressurgiu um assunto, digamos, polêmico: A Intervenção Militar. Não é ditadura militar. É intervenção. Um estágio anterior à ditadura.

Resolvi então refletir sobre o assunto novamente. Será que eu estava errado em ser contrário a isso? Será que não há pontos positivos nessa ideia?

Poderíamos explicar de diferentes ângulos e chegar ao mesmo ponto: Não existe solução milagrosa pra nada! Nunca existiu e, por mais decepcionante que seja, nunca vai existir. Seria bem legal se o mundo fosse um jogo e, de repente, o cara que está jogando desse um pause, usasse uma meia dúzia de cheats (macetes) e depois pudéssemos voltar a jogar como se nada tivesse acontecido, em um mundo totalmente livre dos problemas anteriores.

Mas vou explicar do meu ponto de vista, o da História. Há uns 60 anos um cara defendia publicamente uma intervenção militar. Todos os dias ele denunciava que o Brasil “estava imerso em um mar de lama”. Convocava as Forças Armadas para intervirem e, assim, livrarem o país dessas serpentes malignas que o destruíam.

Carlos Lacerda era porta voz de uma galera que queria o mesmo que ele e, também, incentivava que outros se posicionassem a favor disso. Muito se passou e finalmente, quando o país passava por uma crise institucional, uma situação delicadíssima...Os militares fizeram uma INTERVENÇÃO!

Uma intervençãozinha. Estavam amparados por pessoas que iam às ruas pedir para que eles assumissem. Que estavam insatisfeitas com o preço das coisas no mercado, com a situação política do país.

Carlos Lacerda, o Corvo, festejou a Intervenção. Feliz que os militares tomariam o poder e fariam eleições em seguida, devolvendo o país a normalidade. Mas adivinhem...Não foi isso que aconteceu!

Gradativamente – pois ditaduras não acontecem entre o pôr e o nascer do sol – os militares foram gostando da coisa, ou já tinham isso em mente, mas ficaram! Ficaram de 1964 a 1985. E nesse intervalo teve gente perdendo os direitos políticos, inclusive o Carlos Lacerda que apoiou a intervenção, teve gente sendo presa, torturada e morta. Ficou proibido que movimentos sociais se manifestassem. Ficou estabelecida a censura dos meios de comunicação, sendo que ninguém podia falar mal do governo. Muitos foram exilados, entre eles artistas, intelectuais e políticos.

Na ditadura tivemos o ápice da concentração de renda, aumento da desnutrição infantil, dívida externa. Em seu final tivemos a hiperinflação, que perdurou um longo período.

Tivemos coisas boas na ditadura? Sim! Hidrelétricas, estradas, pontes, obras faraônicas. Mas causaram endividamentos e a corrupção tomou conta delas, mas ninguém podia denunciar, já que não havia liberdade de expressão.

Mas mesmo diante de tudo isso, o nosso foco é que se Intervenção Militar fosse boa, as pessoas não teriam saído às ruas para pedir seu fim aqui no Brasil, ou no Chile, na Argentina, na Bolívia, no Uruguai.

Pedir Intervenção Militar é pedir pra violar a nossa constituição. E se pode violar pra isso, pode violar pros militares ficarem no poder o quanto quiserem. Pode se fazer o que quiser, pois é um caminho sem volta.

Na dúvida, faça uma pergunta a si mesmo: “Se estivéssemos numa ditadura eu poderia expressar a opinião que tenho nesse momento?” Se a resposta for negativa, acho que o melhor é defender a democracia.

Gilberto Junior
Enviado por Gilberto Junior em 03/06/2018
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