ESPELHO QUEBRADO
Mesmo que renascida após duas décadas de Ditadura militar, chegando aos trinta anos nossa democracia já deveria ter adquirida uma identidade. Acho que não é desejo de ninguém que essa identidade tenha a marca a corrupção. Não devemos associar corrupção com identidade. Neste caso, trata-se de um desvirtuamento.
Tivemos três décadas para acertar. Hoje é sabido que erramos muito mais do que acertamos. É fácil apontar o dedo para os políticos e blasfemar nosso veredito: Culpados. Uma forma que encontramos para nos isentar da nossa parcela de culpa. Que é maior do que ousamos admitir.
Os brasileiros chegarão a outubro tentando colar os cacos de um espelho quebrado. Se é verdade que um espelho quebrado traz anos com falta de sorte, esses anos chegaram antes mesmo do espelho quebrar.
Temos um espelho quebrado, velho, ultrapassado e nenhuma perspectiva de adquirir um espelho novo. Então nossa única opção e juntar os cacos. Se isto já não fosse uma tarefa praticamente impossível, ainda nos deparamos com vários espelhos diferentes sendo recolados.
Todos fazem questão de mostrar as caras dos seus preferidos nos cacos. Sem estudar e nem entender o que de funesto ela representou para o Brasil, alguns flertam com a imagem refletida dos generais. Que eles estão adorando essa massagem no seu ego, isto é inegável quando resolvem dar seus pitacos.
A maioria das carinhas que ousam aparecer nos cacos mais ao centro do espelho não foram lavadas, mas abatidas pela Operação Lava Jato. Preso sem estar atrás das grades, Lula continua fazendo acenos desesperados para que os cacos do espelho possam juntá-lo novamente. No Brasil sempre existe a possibilidade de “faz de conta...”
Os analistas políticos quando convidados a opinar, costumam pontuar a falta do novo. O novo existe. Ele está muito mais à esquerda do que um dia Lula ousou ir. Os caquinhos deles são tão diminutos que poderão sobrar quando o espelho for finalmente remontado.
E um erro afirmar que a direita está personificada na figura de Bolsonaro. Bolsonaro é um típico lobo solitário que tem conseguido uivar mais distante, e vem fabricando currais no seu território. Chegando a “lobo alfa” será logo destituído pela matilha.
Emprestando a ideia dos versos de Renato Russo, nos deram um espelho quebrado e vimos uma democracia doente e sem identidade. Sua febre arde com o ódio. Certamente em outubro haverá um vencedor, mas não um espelho novo. A constatação apesar de triste é real. Estamos nos especializando em colar caquinhos. E gostando!