Nada de novo no front
Interessantes as revelações feitas agora sobre o que disse o diretor da CIA, William Egan, em 11 de abril de 1974. Segundo Egan, “Geisel tinha conhecimento e autorizou a execução de mais de 100 ‘subversivos’”. O que, em prosseguimento, teve a conivência e autorização de seu sucessor, o também general e ditador João Figueiredo.
Confirma-se, portanto – o que, aliás, já se sabia –, o que sempre foi negado pelas autoridades da época. Isto é, que não só a tortura como a eliminação física de opositores ao regime, considerados perigosos, era uma política de Estado.
O que surpreende são essas revelações feitas agora nos EUA exatamente a partir da CIA, órgão responsável por golpes de estado e derrubada de regimes, alguns até democráticos, sobretudo em determinados países da Ásia e das Américas Central e do Sul. Como também pela manutenção no poder, nesses locais, de implacáveis ditadores, como garantidores dos interesses americanos. Existe farta documentação, por exemplo, a respeito da intervenção estadunidense ao Vietnã do Sul (1963), ao Brasil (1964), ao Chile (1973), à Argentina (1976), ao Panamá (1989), à Nicarágua (1981-1990), El Salvador (1980-1992) e assim por diante.
De qualquer modo, essas revelações habilitam as pessoas nascidas após o golpe militar no Brasil a conhecer um pouco de nossa história contemporânea. Servem também como contraponto ao perfil traçado em torno da nação americana, e seus aliados ou asseclas mais próximos, como defensores da democracia no mundo. E servem ainda como desconstrução da imagem que se tentou promover a respeito de alguns de nossos generais como defensores de princípios democráticos e do respeito aos direitos humanos.
O que se pode dizer em relação à vida das pessoas durante o regime militar implantado em 1964 é que o direito de ir-e-vir era respeitado, desde que não se falasse mal da ditadura ou não se participasse de movimentos a ela contestatórios. O mesmo não se pode dizer hoje quando o governo, apesar de nas mãos de civis, não consegue conter as ações de guerrilha urbana – sob o pano de fundo de um contencioso criminoso e possivelmente com estratégia militar – que impedem a movimentação livre ou despreocupada de cidadãos pela cidade.
Rio, 11/05/2018