A Síndrome de São Pedro
O Dr. Machado é médico intensivista e responde pela gerência da unidade de UTI num hospital público. No momento ele está com um problemão. A unidade que ele comanda tem apenas oito leitos e todos estão ocupados, menos um. Ele recebeu a notícia de que três pacientes acabam de dar entrada no pronto socorro. Um é um senhorzinho de oitenta anos que está com um câncer terminal. Outro é uma gestante de alto risco que precisou ser operada de emergência e precisa de cuidados intensivos. O terceiro é um jovem que tomou todas numa festa e se arrebentou inteiro num acidente na estrada.
Dr. Machado sabe que só pode atender um dos três. Não tem como improvisar leito na UTI. Isso é impossível em um hospital, embora muitas vezes alguns políticos pensem que é fácil e fiquem pressionando a direção do hospital para que atenda um dos seus apoiadores.
Dr. Machado terá que escolher. Ele sabe que os dois que forem preteridos correm sério risco de morrer, pois eles terão que ser removidos para outros hospitais e vaga de UTI no sistema SUS é tão difícil de achar quanto um político que cumpra suas promessas depois de eleito.A espera pode demorar dias ou semanas. Mas a morte não espera. Ela adora essas situações.
A quem o Dr. Machado vai contemplará? Quem ele escolherá para viver? Quem ele escolherá para morrer?
Essa é a situação que eu chamo de Síndrome de São Pedro. Os médicos e os responsáveis pelos hospitais, no Sistema Público de Saúde, comumente convivem com esse dilema. Comumente têm que fazer o papel do velho santo guardião das chaves do céu.
Dramatizamos a questão com a alusão à UTI, mas isso pode ser estendido para todo o sistema em geral. Por exemplo: cirurgia eletiva quer dizer que existe uma ordem de prioridade para se fazer cirurgias. Isso significa que é preciso escolher quem está precisando mais e quem está precisando menos. Como você se sentiria, caro leitor, se alguém dissesse para você que o seu problema de saúde não é prioritário? Que você vai ter esperar, não se sabe quanto tempo, por uma cirurgia, por que existem outros pacientes mais necessitados que precisam ser atendidos primeiro?
É cruel, não é? Mas infelizmente é assim. A Constituição diz que saúde é direito de todos. Mas não consegue garantir esse direito para ninguém.
Enquanto isso, no Congresso Nacional, nas Assembléias Legislativas, nas Câmaras Municipais, nos gabinetes dos administradores públicos, loteiam-se os cargos e os orçamentos públicos tendo-se como parâmetro principal o poder que eles darão aos seus indicadores e as vantagens que terão na próxima eleição. Malas e pacotes trocam de mãos.
Isso é democracia, dizem. Como disse Oscar Wilde, Democracia quer dizer simplesmente, a espoliação do povo, pelo povo e para o povo. O resto é intriga da mídia e dos adversários.
O Dr. Machado é médico intensivista e responde pela gerência da unidade de UTI num hospital público. No momento ele está com um problemão. A unidade que ele comanda tem apenas oito leitos e todos estão ocupados, menos um. Ele recebeu a notícia de que três pacientes acabam de dar entrada no pronto socorro. Um é um senhorzinho de oitenta anos que está com um câncer terminal. Outro é uma gestante de alto risco que precisou ser operada de emergência e precisa de cuidados intensivos. O terceiro é um jovem que tomou todas numa festa e se arrebentou inteiro num acidente na estrada.
Dr. Machado sabe que só pode atender um dos três. Não tem como improvisar leito na UTI. Isso é impossível em um hospital, embora muitas vezes alguns políticos pensem que é fácil e fiquem pressionando a direção do hospital para que atenda um dos seus apoiadores.
Dr. Machado terá que escolher. Ele sabe que os dois que forem preteridos correm sério risco de morrer, pois eles terão que ser removidos para outros hospitais e vaga de UTI no sistema SUS é tão difícil de achar quanto um político que cumpra suas promessas depois de eleito.A espera pode demorar dias ou semanas. Mas a morte não espera. Ela adora essas situações.
A quem o Dr. Machado vai contemplará? Quem ele escolherá para viver? Quem ele escolherá para morrer?
Essa é a situação que eu chamo de Síndrome de São Pedro. Os médicos e os responsáveis pelos hospitais, no Sistema Público de Saúde, comumente convivem com esse dilema. Comumente têm que fazer o papel do velho santo guardião das chaves do céu.
Dramatizamos a questão com a alusão à UTI, mas isso pode ser estendido para todo o sistema em geral. Por exemplo: cirurgia eletiva quer dizer que existe uma ordem de prioridade para se fazer cirurgias. Isso significa que é preciso escolher quem está precisando mais e quem está precisando menos. Como você se sentiria, caro leitor, se alguém dissesse para você que o seu problema de saúde não é prioritário? Que você vai ter esperar, não se sabe quanto tempo, por uma cirurgia, por que existem outros pacientes mais necessitados que precisam ser atendidos primeiro?
É cruel, não é? Mas infelizmente é assim. A Constituição diz que saúde é direito de todos. Mas não consegue garantir esse direito para ninguém.
Enquanto isso, no Congresso Nacional, nas Assembléias Legislativas, nas Câmaras Municipais, nos gabinetes dos administradores públicos, loteiam-se os cargos e os orçamentos públicos tendo-se como parâmetro principal o poder que eles darão aos seus indicadores e as vantagens que terão na próxima eleição. Malas e pacotes trocam de mãos.
Isso é democracia, dizem. Como disse Oscar Wilde, Democracia quer dizer simplesmente, a espoliação do povo, pelo povo e para o povo. O resto é intriga da mídia e dos adversários.