UM QUEBRA-CABEÇA

Entre 1994 e 2014, as eleições presidenciais no Brasil obedeceram ao mesmo script. Sempre houve uma polarização entre tucanos e petistas. Com o agora novamente MDB servindo de fiel escudeiro.

Nos primeiros oito anos estiveram com os tucanos. Depois junto com Lula, mas nunca ao lado dos petistas como um todo. Se alguém tem dúvidas disso, basta relembrar o destino que o MDB reservou para Dilma Rousseff. Nem o mais valente deles teria a coragem de miar por um impeachment de Lula.

Faltando cinco meses para as eleições, nenhuma luz no fim do túnel é visível. A única quase certeza é que desta vez, a polarização do passado pode não entrar no novo script. Claro que ambos não são cartas fora do baralho. Só que seus castelos de cartas fabricados pela corrupção desmoronaram.

O fim da polarização criou um quebra-cabeça difícil de montar. Criou também uma enorme dor de cabeça para os políticos. E criará outra maior ainda para os eleitores quando outubro chegar.

Algumas peças deste quebra-cabeça, aquelas mais à esquerda e direita parecem já estarem encaixadas. Apesar das sombras que pairam com muitas incógnitas. Os líderes dessas duas ideologias arregimentaram servos e devotos. E param por aí. Os líderes, servos e devotos jamais conseguem enxergar o Brasil como nação.

Mesmo conservador demais, o centro era fator de equilíbrio contra o avanço da esquerda. A direita nunca teve como agora um representante que pudesse provocar estragos. O jogo pode ficar perigosamente desequilibrado porque no atual momento, o centro não é capaz de arregimentar nem servos e devotos em torno de alguém.

Com Lula fora todos sabem que o PT é um partido igual aos outros. Mesmo sem condenação e prisão, Lula não tem a capacidade de transferir seus votos para um substituto. Eles seriam diluídos pela profusão de candidatos. Talvez, tenhamos a eleição com o maior número de candidatos a presidente da nossa História.

Mesmo que agora a guerra do “nós contra eles” aconteça mais no âmbito dos devotos de Bolsonaro e Lula, é fato que a polarização de duas décadas serviu para dividir a sociedade brasileira. Ódio não levará o Brasil a lugar nenhum, entretanto, o fim da polarização entre tucanos e petistas traz alguns riscos.

Podemos ter candidatos chegando ao segundo turno com menos de 20% dos votos. Para a democracia com a qual sonhamos seria péssimo. Lula mergulhou na ignorância ao se assumir como uma ideia. A personificação de ideia não pode ser Lula ou qualquer outro. A ideia precisa ser o Brasil. E no momento, o Brasil é um enorme quebra-cabeça.