Na comunidade jurídica todo mundo conhece a anedota que diz que metade dos magistrados pensa que são deuses e a outra metade tem certeza. E que o Supremo Tribunal Federal é um Olimpo onde onze deidades se reúnem para ditar os destinos dos pobres mortais que somos nós, também é uma visão compartilhada por todos aqueles que, de alguma forma, tem alguma relação com o mundo jurídico.
Como se sabe, a perfeição moral e o cultivo da virtude não era o forte dos deuses do Olimpo. Ira, luxúria, inveja, ambição, gula e outros vícios de comportamento eram comuns entre as deidades gregas. Também não estão ausentes da personalidade dos olímpicos ministros do Supremo Tribunal Federal. A prova disso é o iracundo comportamento do Ministro Gilmar Mendes, em relação aos feitos dos seus colegas das instâncias inferiores, nos julgamentos das ações relacionadas com a Operação Lava a Jato. Gilmar parece um Zeus que foi desafiado por uma deidade menor, e do alto da sua montanha de vaidade e arrogância despeja uma saraivada de raios contra o autor de tamanha ousadia. Coisa lamentável de se ver em uma Corte Suprema que deveria contar com juízes escolhidos entre profissionais do direito com moral ilibada e notável saber jurídico, além de, claro, sem nenhum compromisso com pessoas, partidos ou ideologias, pois a função dos mesmos é exercer a guarda da Constituição.
Mas não é isso que o Dr. Gilmar e seus pupilos, Lewandowsky e Tofolli estão fazendo. Quanto aos dois últimos, sabemos que suas escolhas são ditadas pela ideologia. Eles são petistas de carteirinha e não estão gostando nada do que está acontecendo com os seus amigos do PT. Principalmente de ver que o partido que tem as suas simpatias está se esfacelando e seus principais líderes estão indo para a cadeia. Já Marco Aurélio Mello, esse sempre foi uma espécie de “bode na sala,” que só está no Supremo para satisfazer a proposição de Nelson Rodrigues, de que “toda unanimidade é burra”. Por isso, quando ele percebe que qualquer matéria já alcançou maioria, sempre acha um jeito de votar contra. Aliás, até o jeito afetado e enjoado de falar, que era a marca do grande dramaturgo carioca, ele faz questão de lembrar.
Gilmar Mendes, Lewandowsky e Celso de Mello são os mais antigos membros da Corte Suprema. De  Lewandowsky Já sabemos quais os sentimentos que informam suas posições. Já Celso de Mello, o decano, que em outras matérias sempre se pautou por uma coerência e uma ponderação digna de um Ministro da Suprema Corte, nestes casos da Lava a Jato, tem se alinhado com os seus opositores. Só podemos pensar que ele se sente incomodado pelo fato de que os juízes de instância inferior estão fazendo o que ele e seus pares deveriam fazer e não fazem, ou seja, aproveitar a deixa da Lava a Jato e botar na cadeia todos os ladrões e vigaristas que utilizam os cargos públicos para enriquecimento pessoal. É, portanto, um caso de ego ferido. Quanto a Gilmar Mendes sabemos que têm duas grandes razões sentimentais para opor-se às ações dos procuradores e juízes de primeira e segunda instância que estão processando e prendendo seus amigos políticos: a primeira é a inveja que ele tem dos magistrados que estão assumindo esse protagonismo.  A segunda é o medo de ter que julgar os seus amigos do PSDB e MDB, que forem apanhados na rede da Lava a Jato. Enquanto não havia esse perigo ele era um dos mais “justiceiros” daquela Corte. Agora mudou de lado e passou a ser o santo patrono dos criminosos de colarinho branco.  Ira, inveja, arrogância e egoísmo são pecados capitais. Mas no Olimpo do Supremo tais vícios são cultivados como virtudes. Está mais que na hora de aparecer um Prometeu para mostrar a esses falsos deuses que eles não estão lá para atender aos seus egos nem para favorecer interesses particulares, mas sim para fazer a vontade de uma nação. E esta, parece mais que provado, é ver este país passado a limpo. É o que a Lava a Jato vem fazendo malgrado a vontade das suas supremas divindades.