A MÁFIA DOS PORTOS
 
Antes a turma do Planalto dizia que o ex-procurador Rodrigo Janot estava perseguindo o presidente Temer só para fazer nome e quem sabe, tentar uma cadeira no Senado ou na Câmara quando terminasse o seu mandato. Agora, é a procuradora Raquel Dodge que pede a prisão de vários amigos do presidente por conta do mesmo processo que o Janot estava investigando e que já rendeu duas denúncias contra Temer. Não se pode mais dizer que a Procuradoria da República esteja perseguindo o presidente por motivos pessoais e inconfessáveis de seus titulares. A coisa é séria e não faltam evidências de que há muito caroço nesse angu dos portos. Aliás, as atividades portuárias, não só no Brasil, mas praticamente em todo o mundo, nunca foi um canteiro de inocentes trabalhadores que lutam para ganhar a vida. Diga-se de passagem, que foi no Porto de Nova Iorque que nasceram as “famílias” mafiosas, através do conluio entre os chefões do crime organizado e o sindicato dos estivadores, esquema esse que ganhou corpo e se tornou um modelo de poder copiado em vários portos do mundo. Inclusive no Brasil, onde, de certo modo, vigora até hoje. A diferença é que a Máfia, aqui no Brasil, foi substituída pelos partidos políticos. Nos anos oitenta e noventa, dizia-se que quem mandava no Porto de Santos era o grupo do Mário Covas. Não sei o quanto de verdade há nessa informação, mas trabalhei na Receita Federal em Santos e vi, pessoalmente, o quanto o saudoso e irascível ex-governador de São Paulo era querido nas docas. A propósito, o nosso ex-deputado Waldemar da Costa Neto, que ainda hoje é o dono do PR, também já foi manda chuva por lá.
Covas morreu e ao que parece, quem herdou o feudo portuário de Santos foi o grupo de Michel Temer. Pelo menos é o que diz a Procuradoria da República, pois ao que parece, o esquema mafioso que existe lá está chegando à maioridade. Já está fazendo mais de vinte anos.
Não há mais como ocultar esse cadáver com o biombo da perseguição política. E não adianta inventar outras desculpas, como por exemplo, a que o fiel escudeiro de Temer, o asqueroso Carlos Marun, anda divulgando para defender o seu chefe. Não existe nenhum complô contra Temer para prejudicá-lo nas eleições presidenciais. Até porque, com a popularidade que o presidente desfruta hoje, seria muita pretensão dele pensar que pode se reeleger. Com essa popularidade ele não se elegeria nem para síndico de condomínio.
Quando, nos anos 30, o FBI desbaratou a quadrilha do chefão mafioso Lucky Luciano, que mandava no Porto de Nova Iorque, prendendo a maioria dos seus “capos” e oferecendo a eles um acordo de delação premiada para eles entregarem seu chefe, Luciano confiou na fidelidade de seus asseclas para ficarem de boca fechada. Não deu certo e ele pegou 30 anos de cadeia. A “família” Lula já dançou. Vamos ver o que acontece agora com a “família” Temer.