Um vício de origem

Um vício de origem.

Publicado no Blog Diário do Poder, Brasília/DF, em 13/03/2018.

O eleitorado precisa prestar atenção para como prosperam as pré-candidaturas - onde começa o processo politico de renovação democrática.

Geralmente, os “ungidos" pelas "lideranças" são fruto de um processo de rastejamento, ou de perpetuação dos que se auto intitulam “candidatos natos”, (os com mandatos, ou detentores de cargos públicos). As eleições não são para mudar e melhorar, mas para garantir a perpetuação dos donos do poder politico.

O pensamento renovador não cresce a não ser que seja abraçado por raras pessoas que alçam voos sozinhos - aí os partidos correm atrás para captarem mais votos. Os dirigentes partidários, há mais de um século, (antigamente eram chamados de coronéis...), escolhem os de suas "panelinhas" que, submissos, participam das eleições. Vagas são negociadas visando coligações espúrias e participações no fundo partidário. A honestidade intelectual, história de vida, ideologia e competência, não são considerados como critérios de escolha dos candidatos. As pré-candidaturas, como parte necessária do aperfeiçoamento do processo democrático, possibilitando a renovação de quadros com novos personagens, é uma verdade longínqua... Os partidos políticos só interessam para possibilitar o registro das candidaturas na justiça eleitoral – um deboche com a população.

O povo, perigosamente enojado, se afasta da politica – estima-se que o número de votos brancos e as abstenções somadas serão maiores que o numero de votos conquistados pelos candidatos - a desmoralização dos eleitos e do processo democrático. O poder legislativo - vereadores, deputados estaduais e federais, senadores - na sua maioria serão os mesmos que desgraçaram o país, e para o executivo serão eleitos os que tiverem os melhores marqueteiros.

O processo está radicalmente viciado. Os que participam, para crescerem no sistema e vencerem, tornam-se cínicos fingindo que não sabem como os acordos e chapas são montadas, esquecem os princípios morais que juram acreditar e seguir. Os que querem romper com o circulo vicioso são afastados, sob o pretexto de serem ingênuos e não terem visão politica.

Por esses motivos é que uma Constituinte exclusiva, para tratar da reforma politica, se torna inadiável. Sem uma reforma politica que possibilite a eleição dos melhores nomes, dos cidadãos honestos e competentes, o Brasil nunca se erguerá.

Eurico de Andrade Neves Borba, aposentado, 77, escritor, ex Professor e Vice Reitor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE, mora em Caxias do Sul.