Um banquete com o sangue da Síria
Vejo no mundo duas forças em colisão. Uma que reduz tudo ao cálculo do ganho, geopolítica, a relações de mercado e lucros. O que torna a guerra da Síria compreensível dentro destes paradigmas.
Por outro lado, a ideia de que o sofrimento do outro importa pra mim e que desejaria cessa-lo, sem ganhar ou obter nada em troca que não seja este alívio para o outro.
Estas duas ideias expostas de forma simples, nos permitem visualizar algumas questões intrigantes.
Há uma disputa geopolítica na Síria que significa manter um aliado comercial e estratégico no Oriente Médio ( lado da Rússia) e por outro a necessidade de ter um aliado mais próximo do Ocidente e de confiança de Israel ( lado dos Estados Unidos).
Neste jogo, houve o financiamento das várias facções e grupos rebeldes dentro da Síria com o intuito de derrubar o governo de Bashar al-Assad( Estados Unidos) e de financiar grupos opositores a estes rebeldes (Rússia).
O sacrifício da população não é visto como crítico do ponto de vista econômico, pelo menos não tanto quanto o risco ou a vantagem de se derrubar o governo Sírio.
Daí vem duas questões importantes:
a) as perdas econômicas de não se intrometer na política de outros países seriam bem aceitas pelos cidadãos destas potências?
b) estes cidadãos na verdade pagariam os custos do fracasso destas não intervenções e não necessariamente receberiam as vantagens?
>>>Vamos pensar por meio de exemplos
Digamos que a Rússia perdesse o aliado na Síria. Com certeza perderia em termo de parceiro comercial além do dano na sua geopolítica que lhe permite barganhar absurdos na diplomacia, tipo invadir outros países e ficar por isto mesmo.
A economia deixaria de ganhar com isto? Sim, mas se ela ganhasse qual parte caberia ao povo russo e qual parte cabe ao Governo e aos investidores russos?
Se a economia perde, quem arca com mais prejuízos em termos de condições de vida? Quando uma economia se desenvolve pouco, os salários são mantidos ou tendem a diminuir se diminuir a atividade produtiva?
A morte de milhares de civis durante estes anos, significou certa renda para os cidadãos das potencias envolvidas. O custo é a morte, mas custo para quem? Então da morte deles tem ou terão, depende de quem ganhar, lucro que será em sua menor parte revertido para os outros cidadãos e maior parte para as empresas.
>>> O que pensar disto
É possível querer um mundo fraterno e ao mesmo tempo querer usufruir dos benefícios de uma guerra que destrói a dignidade e a vida de outras pessoas, tão civis quanto eles?
Deste banquete de sangue se fartam o governo e os investidores e também os mesmos cidadãos do outro lado, fora da guerra, que estão chocados com as cenas de prédios e crianças desoladas pelos bombardeiros.
A televisão e a internet é o máximo que posso compartilhar do sentimento daqueles que hoje dormem sem saber se estarão sob escombros amanhã.
Posso mandar ajuda, não é pouco. Mas me esqueço ou não me deixam saber que também tomo daquele sangue derramado.