Das Jornadas de junho ao Carnaval 2018: O golpe e o cenário político brasileiro
*Sineimar Reis
Os protestos no Brasil em 2013, também conhecidos como Manifestações dos 20 centavos, Manifestações de Junho ou Jornadas de Junho, foram várias manifestações populares por todo o país que inicialmente surgiram para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público, principalmente nas principais capitais. São as maiores mobilizações no país desde as manifestações pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello em 1992 e chegaram a contar com até 84% de simpatia da população. Essas jornadas ainda não acabaram e permanece até os dias atuais, mostrando ao mundo a situação do Brasil desde cinco anos atrás, mostrando como protestar e que a arte de protestar no Brasil não terá fim. Foi isso que a Paraíso do Tuiuti fez, denunciando o golpe e arrebatando o público, sem deixar chances para a mídia inimiga do povo brasileiro. Com o enredo “está extinta a escravidão?” A escola de samba do Carnaval 2018 criticou o golpe e os “abestados” infiltrados desde as jornadas de junho aos patos da Fiesp que se deixaram levar a manipulação de crença dos “coxinhas” nome atribuído aos seguidores despolitizados, Paraíso de Tuiutí foi muito além e colocou o que o mundo queria ver chamando o e presidente brasileiro de vampiro em rede nacional, sem corte e sem chance para censura. Pela primeira vez na história a Escola desbancou as famosas do Rio de Janeiro com mais de 70% dos votos em enquete.
Com carteiras de trabalho rasgadas, clara denúncia contra a reforma Trabalhista do governo do ilegítimo e golpista Michel Temer (MDb-SP), que acabou com a CLT, manipulados com camisa da CBF montados em patos amarelos, o vampiro Temeroso, volta da escravidão e muita crítica ao golpe e suas consequências para os brasileiros, a Paraíso do Tuiuti levantou o público na passarela da Sapucaí no Estado da Cidade maravilhosa. Sobre os 130 anos da Lei Áurea, a escola denunciou o golpe midiático jurídico e parlamentar de 2016 contra a ex-presidenta Dilma Rousseff e fez duras crítica ao atual governo. Em uma das alas, como a das reformas Trabalhista e previdenciária, que agora foi adiada para o final do ano de 2018. Os carnavalescos deixaram claro que essa é nova escravidão que Temer e sua turma querem impor à classe trabalhadora brasileira.
Sem chance para a imprensa e para os desavisados e analfabetos políticos a Paraíso de Tuiuti, fez seu papel e escreveu uma nova história para o Carnaval, fazendo uma coisa que todo mundo queria ver e o que todo mundo queria e quer botar para fora, ou seja os brasileiros cansaram e querem gritar o “Fora Temer”. Os brasileiros encontraram uma nova forma de manifestar, buscando temas em passados históricos trouxeram uma interpretação de Michel Temer Vampiro na última alegoria da escola, intitulada “Navio neo tumbeiro”. Temer ficou conhecido no mundo como “Vampirão”. Outra ala de destaque no desfile da Tuiuti foi a dos “manifestantes fantoches”, que ironizou os chamados paneleiros que saíram às ruas com camisetas do Brasil pedindo o impeachment de Dilma. A escola de samba utilizou mãos gigantes representando a mídia, que controlava esses paneleiros envolvidos por patos amarelos, em referência à campanha da Fiesp contra o aumento de impostos que inflamou a população contra o governo petista.
O conjunto de veículos midiáticos desta vez amargaram derrota, engoliram a passagem das últimas alas e alegorias que levou a plateia ao delírio, que aplaudiu e respondeu à agremiação com um “Fora, Temer”, este acontecimento foi rapidamente abafado pela transmissão da Globo. Há quatro anos, o Brasil vivia uma jornada de mobilizações de rua sem precedentes. Indivíduos, grupos políticos e coletivos de distintas conotações ideológicas, à esquerda e à direita, explodiram contra o establishment político. De lá para cá, o Brasil não foi mais o mesmo. A rotina de protestos de rua se tornou comum nas principais capitais do país, com pautas diversas, desde as lutas por direitos sociais até mesmo pedidos absurdos de intervenção militar, propagados por grupos neofascistas. A emergência de grupos de direita na sociedade polarizou ainda mais o ambiente político e acabou precipitando no golpe, daí surge uma Tuiuti com uma arte simbólica e desbanca a manipulação golpista. Ficou marcado para a história aquilo que a Globo não queria e não quer mostrar, a escola com o samba-enredo de autoria de Moacyr Luz, Cláudio Russo, Anibal, Jurandir e Zezé fez a mais dura crítica social ao golpe e suas consequências.
O carro alegórico “Neotumbeiro”, que a frente traz o vampirão Temer e banqueiros, moedas, engravatados do grande capital e, abaixo, os paneleiros, chamados de “manifestoches”, merecia muito close e um historiador decente para traduzir cada componente do carro que a Globo evitou o quanto pode mostrar os detalhes e comentar. Só esse carro que é complementado com as alas do “trabalho escravo no campo e na cidade”, com a ala do “trabalho informal precarizado”, com a ala dos “manifestoches” (coxinhas de camisa da CBF, patos da Fiesp) estes foram os que saíram as ruas reivindicando a corrupção. A Tuiuti conseguiu unir passado e presente mostrando que os neotumbeiros de hoje são herdeiros dos traficantes de escravos do passado. Seu enredo com duplo refrão (outra coisa inédita no carnaval) une passado e presente e nos convida a reagir: que sejamos todos livres, que não sejamos escravos de nenhum senhor, que possamos enfrentar os neoescravagistas, os neocapitães do mato, hoje a serviço do capital financeiro, que nos assalta direitos. Que após 130 anos de abolição, nós possamos de fato extirpar a exploração do capital e trazer dignidade aos trabalhadores, os verdadeiros produtores da riqueza.
Os repórteres pagos para abafarem informações da Tuiuti, tomaram um chá de cogumelo, passaram vergonha, não souberam interpretar a verdadeira história, ficaram perdidos iguais aos manifestantes verdes e amarelos da revista Veja, confundiram até os recortes da história, afirmando que a Tuiuti mostra que na sociedade do Antigo Egito a sociedade não se estabeleceu sobre o modo de produção escravista como a Roma e Grécia Antigas, já que a escola fala das relações de trabalho ao longo do tempo e optou por um recorte cronológico como é comum nos sambas-enredos. A ideia de todo o samba-enredo, lembrando sempre que o foco da Tuiuti é a classe trabalhadora ao longo do tempo, é a centralidade do trabalho humano, a denúncia da exploração dos trabalhadores através do tempo. A corvéia quer dizer pagamento de tributo com trabalho. É um termo mais comum para tratar da servidão do medievo, modo de produção na idade média ocidental, com a maioria dos trabalhadores na condição servil (preso à terra, mas sem poder ser comercializado como na escravidão moderna). No entanto, no Egito faraônico, o Estado era detentor das formas de produção e recolhia os excedentes da produção de todos (comunidades rurais e urbanas) e em épocas de crise (não raras, já que a dependência das cheias do Nilo era total) o Estado redistribuía a produção. Portanto, apesar de a corveia ser um trabalho compulsório para o Estado havia remuneração. Em condição escrava havia menos de 5% da população no Egito! Por favor né? No Egito antigo não tem “escravos-mercadoria”!!!!! Tráfico de escravos é uma experiência moderna, do Capitalismo!!!!!! Viva a arte, viva a criatividade e a maneira de se manifestar.
Para terminar destaco, a Globo e imprensa raivosa fingiu não ouvir e não mostraram ao povo brasileiro de forma que mostrou a Beija-Flor, fez que debatia política, mas escorregadia fugiu do cerne da questão, que feio hein? Que confusão na avenida querer repetir 1989 no contexto de 2018.